31.12.05

Ano novo, né?
Por essas e outras coisas da vida, ano novo é daquelas datas que pensamos que nela tudo tem que dar certo, todas as pessoas têm que estar felizes, juntas e comemorando. Não é sempre assim. Dores de cabeça acontecem, namorados brigam e até mesmo pessoas morrem no dia 31. E para quem está longe, até esquecem do fuso... E não ligam.

Enfim, é ano novo. Aqui já é 2006, já se passaram 16 minutos desde a meia-noite. Ano novo, ano dos meus 27, ano de tomar vergonha na cara e colocar esse blog como ele já foi um dia. Ano em que amigos se casam, ano em que eu visitarei o Brasil, ano de definições, como todos os anos.

Tô com aquele meu ar nostálgico, triste, mas não é isso. Não é bem isso. Sei lá. Uma coisa estranha acontece quando você passa duas viradas de ano seguidos longe da maioria das pessoas que ama, do lugar que ama (ou de um dos lugares que ama!), das músicas que falam ao coração, dos cheiros...

Feliz ano novo a todos. Bom 2006.

E, pra dar um toque especial na minha tristeza nostálgica, a música que está tocando agora no computador que eu estou usando para escrever essas linhas nos primeiros 22 minutos de janeiro...

Vem, vamos embora, esperar não é saber...
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.

5.12.05

Outra vez Netania
Um atentado ocorreu hoje de manhã em Netania, de novo. Cinco meses depois que um outro ataque terrorista matou cinco pessoas no mesmo lugar. O de hoje deixou de novo cinco pessoas mortas e dezenas de feridos. Reportes no Haaretz, no Jerusalem Post e no YNet.

30.11.05

Qualquer semelhança é mera coincidência
Traficantes explodem ônibus no Rio, morreram 5 pessoas 09:15 5 pessoas morreram carbonizadas no final desta noite na Penha, zona norte do Rio de Janeiro, depois que um ônibus foi incendiado por traficantes e explodiu. Entre as vítimas estao 1 criança de 2 anos e sua mae. Segundo a polícia, o ônibus foi incendiado com coquetéis Molotov lançados por um grupo de 10 homens, que seriam de uma favela da regiao. Em seguida, o ônibus explodiu com vários passageiros a bordo - "As pessoas ficaram desesperadas, tentavam escapar pela janela, mas o ônibus explodiu com muita gente dentro, foi uma grande tragédia. Parecia aquelas guerras que a gente vê lá fora", disse uma passageira em depoimento a Reuters. 30/11 Blue Bus

Não acreditei quando li. Ainda acham que morar no Brasil é melhor do que morar aqui?

23.11.05

Vento norte....
Patético demais pra ser verdade, mas é verdade. Um cara israelense da minha idade voou em um pára-quedas hoje no norte do país (onde, há dois dias, o Hizbolah e o Exército entraram em pesados confrontos, obrigando as populacoes das cidades próximas a se meter nos abrigos anti-bomba) e caiu 50 metros pra lá da fronteira, em território libanes. Nao fosse a acao dos soldados israelenses, a história dele poderia ser trágica. Mas é patética, embora verdadeira.

Para ler a respeito, em ingles: Haaretz, Jerusalem Post, Yediot Acharonot.

21.11.05

Reviravolta política
Está um caos a política em Israel com a saída do Sharon do Likud, o partido que ajudou a fundar. O primeiro-ministro vai criar outra legenda, cujo nome é bem sugestivo: Responsabilidade Nacional. Falei a respeito na edicao matutina de hoje da RFI, a partir do 5'18.

20.11.05

Umas linhas durante o intervalo
Do excelente Jeremy, amigo meu de outras epocas, la dos EUA, que agora (e desde julho do ano passado, como eu) vive em Israel:

What if Israel was one big Jewish prison? Can?t you just imagine that?

A Jew from the States lives in Israel a few years, comes back to his local synagogue, and someone asks him 'Where've you been all this time?' And then the guy would say, 'Doin' time in Israel.' Sympathetically, the questioner would say, 'What'd they get you for?' And the guy would then say, 'Aliya'.

Ha ha HA.


Pior eh que ele tem razao ao fazer a comparacao! De vez em quando da pra se sentir meio numa prisao aqui. Em janeiro, quando eu voltar pro Brasil, vou contar por ai como tem sido a minha sentenca!

Noticias do dia que valem duas linhas:

Index ranks Middle East freedom, da BBC, comentando que Israel ficou em primeiro lugar entre os paises do Oriente Medio no quesito "liberdade". O Libano, ha, vem logo atras...

E, do Jerusalem Post, The First Word: A miscarriage of justice analise, mais que noticia, sobre o rolo do Jonathan Pollard, o americano que espionou para Israel e passou pra ca informacoes confidenciais sobre os inimigos arabes do Estado judeu - e que, por causa disso, estah preso ha vinte anos.

Ainda do Jeremy: You know you've been in Israel for too long a stretch of time when you look forward to going on vacation to an Arab country that more than once tried to destroy Israel.

14.11.05

Um ato, dez anos, duas semanas, um trabalho
Quem nao se lembrou, antes de ler ou de ouvir na imprensa, que o Arafat bateu as botas militares dele faz um ano, nao deve se culpar. Por aqui, diferente do que se esperava, a repercussao foi quase nula. Comentou-se em poucas linhas e com raros minutos na televisao sobre a comemoracao (!) do primeiro ano sem o terrorista-mor da AP. A verdade eh que nada mudou desde entao!

Os dez anos desde o assassinato do Rabin, contudo, nao passaram em brancas nuvens. Teve um ato, que foi gigante. Adiado em uma semana porque o Clinton queria participar. Participou, falou bonito e tem causado congestionamentos do tamanho de sua importancia para Israel aqui em Jerusalem, onde estah hospedado antes de seguir viagem para outros paises do Oriente Medio.

Fui no ato do Rabin, em Tel Aviv. Foi emocionante, sim. Uma multidao. Quando a praca foi ficando cheia, abarrotada, me lembrei das imagens que vi ha dez anos pela TV, quando ainda tinha 16 e nao entendia muito bem isso tudo: as faixas, os cartazes, as pessoas. Depois, as cancoes, os discursos...

So que dez anos depois, na mesma praca, as mesmas faixas e os cartazes com dizeres bem parecidos, a gente relembrou a morte do cara que deu o tom de esperanca naquele ato de novembro de 1995. Minha sensacao eu ja contei no flog - a morte do idealismo... Foi por acaso que vi o bate-boca entre os "do contra" e os jovens que nem tinham nascido dez anos atras.

Quem estava por dentro do que se passava aqui ha dez anos sabe e disse que nada mudou. O Clinton disse que o Rabin, se vivo hoje, acharia a mesma coisa. Muita coisa mudou (para pior) mas nada mudou. E fiquei com a sensacao de que nada mudou depois de ver Paradise Now e conversar com um dos atores. Terrorista no filme, nao titubeou ao me dizer que se pudesse, faria o mesmo fora da tela.

Disse que ia mudar de vida e mudei! Estou na segunda semana de trabalho e amando! Ja estamos no ar desde ontem. Podem conferir, no servico em espanhol...

6.11.05

Ferias? Bem... Quase isso
O Fabio, que comentou no ultimo post, estah coberto de razao. Alias, duplamente coberto de razao, porque ele contastou, "com todo o respeito", que meus textos ja foram melhores e porque ele acha que eu preciso "relaxar um pouco, talvez tirar umas ferias..."

Cara, voce nao colocou o ovo de pe, mas estah certissimo. Quem trabalha durante seis longos meses durante a madrugada, seis dias por semana, ligando para casas nos EUA para fazer pesquisas sobre listas telefonicas, com um fone preso ao ouvido durante sete horas noturnas nao pode ser feliz!

E nao eh a toa que as pessoas tem dito, recentemente, que eu pareco meio tristao, meio depre. Eu devo estar parecendo um velho (e nao so pela dor que sinto nas costas, que me deixou uma semana de molho!), com olhos se escondendo atras das olheiras. Ta. Entendam, por favor. Estou estressado. Males da modernidade.

Mas, isso tem data para acabar. Na verdade, faltam longos 58 minutos para colocar o ponto final nessa historia. Vou deixar o telemarketing e voltar a ser jornalista, em uma empresa cujo escritorio, aqui em Jerusalem, fica ao lado do QG da Al Jazeera, a TV arabe.

Ainda vou fazer aquele misterio para contar onde vai ser, porque a parte da qual vou cuidar, um dos quatro idiomas (arabe, espanhol, frances e ingles) para o qual o material vai ser traduzido a partir do hebraico, vai demorar um pouco para inaugurar. Mas eu conto.

Por enquanto, peco desculpas ao Fabio que disse e aos que nao disseram que meu blog e meus escritos estao decadentes. Vou tentar, mudando de vida, de horarios, de profissao e de ares, me inspirar em coisas mais divertidas do que a quantidade de listas telefonicas que os americanos tem ou de anos que eles estudaram.

Aguardem!

30.10.05

Desarmamento ou educacao?
Rabisquei um outro texto no Mondo, de ultima hora, sobre assunto do dia a dia no Brasil, com um olhar israelense. Espero que gostem. Ou que odeiem! Mas que comentem!

27.10.05

No ar
Esta no ar materia minha sobre a retaliacao de Israel ao atentado terrorista de ontem.

26.10.05

Os calos de cada um
Veja voce que coisa... Sai atrasado pro trabalho e tive que tomar um taxi. Vim calado. Comentei com o motorista do atentado, ele disse que nem sabia. Entao me calei. E ai, no caminho, um outro taxista fechou o carro onde eu estava, o cara brigou, deu farol alto e tal. Quis dizer, mas fiquei so pensando que se fosse la no meu pais, ele poderia ter tomado um tiro na cara, por uma razao besta como essa.

E ai fiquei pensando que cada um tem seus calos. Confesso que pensei em sair daqui por um tempo. Pra espairecer ou pra fazer algo que marque, ser volunatrio na Africa ou estudar na Europa, sei la. E ai comecei a elencar os possiveis destinos. Pensa comigo: EUA? Nao, terrorismo, furacao. Espanha? Nao, terrorismo, Al Qaeda, ETA. Inglaterra? Nao, terrorismo, Al Qaeda, IRA. Sudeste asiatico? Nao, tsunami. Brasil, America do Sul? Nao, violencia. Mexico? Nao, furacao. Africa? Nao, aids. China? Nao, bird flu.

Acho que vou ficar com os calos daqui, mesmo. Pelo menos cheguei no trabalho, e o motorista do taxi continua vivo...
De novo
Desculpe. Fico semanas sem dar noticias, e quando venho, trago mas noticias. Tenho das boas, tambem, mas cansei de ser controlado pelo blog. Mesmo. E isso nao eh pra voce, nao, ta? Eh... clali, geral. Estou meio de saco cheio, acho que precisando de um daqueles negocios que os boxeadores usam pra treinar. Preciso descarregar tensoes.

Tensao porque passei tres horas, hoje, entre a noticia da explosao e ate conseguir falar com o meu pai, sem saber se - chas ve shalom - ele era um dos quatro mortos ou um dos 16 feridos em Hedera. Porque ele mora bem perto. E porque o telefone dele nao funcionou, durante essas tres horas. Tensao mesmo. Alivio quando falei com ele, ouvi a voz do meu irmao felizmente ignorante da situacao. Todos bem.

Mas o terrorismo voltou. De novo, aquela sensacao de merda. Vai passar...

PS.: sei que estou devendo noticias. Estou pensando muito no que escrever (talvez devesse pensar menos e escrever mais, ne?). Muita coisa na cabeca, muitas indefinicoes. Saudade da epoca em que eu tinha saco pra atualizar o blog todo dia. Nao lembra? Consulta o arquivo. Eu prefiro nao fazer isso, vou desabar a chorar do jeito que estou hoje. Que merda.

9.10.05

Mundo louco de gente insana
A noticia veio pela minha amiga libanesa, orgulho que tenho (por ser amigo de alguem que sabe, como eu, que politica e dia a dia nao precisam necessariamente se misturar sempre). Ela me contou dos 18 mil mortos (o numero era de 18 mil, ja saltou pra 25 mil ou 30 mil, de acordo com a fonte) no terremoto no Paquistao. Terrivel. Nao consigo imaginar 18 mil pessoas, 30 mil pessoas, nao sei que multidao eh essa. Muita gente. Todos mortos.

E, quando eu recuperei a internet, so aqui no trabalho - porque meu computador resolveu sair de ferias sem aviso previo - fui ler ca e la coisas sobre a tragedia. A Folha fala em 30 mil mortos e diz que existe a possibilidade de que o esconderijo do Bin Laden tenha sido atingido. Duvido. Se foi, ele nao devia estar dentro.

E eh como outro amigo meu, norte e sul americano, disse: tem muita gente ruim naquele pais, mas duvido que entre os mortos nao houvesse gente boa. Maniqueismos a parte, claro que havia. Mas ha ainda os que recusaram a ajuda de Israel, que tem especialistas para lidar com terremotos e com o aftermath.

Pena. Copiaram o Ira na cagada. E enquanto isso, quem sabe quanta gente mais vai morrer, soterrada e por causa do atraso no socorro, que nunca pode ser ser suficiente quando o numero de feridos eh estimado em 40 mil pessoas, quem sabe mais...

Mundo louco de gente insana.

Por aqui, tudo na mesma. Sumido por tanta burocracia e pequenas coisinhas do dia a dia que eu tenho que resolver pra viver: o Exercito, o trabalho, papeis, conta no banco, o hebraico...

Mas tem os amigos que nao sao so amigos... Gente foda, no melhor sentido da palavra. Amigos pra toda hora - pro jantar de shabat com pao queimado e pro colo quando a carencia bate! E com eles vou passar Yom Kipur, jejuar na quarta-feira...

Tempo de repensar as merdas do ano. Tempo de corrigi-las. Ainda da tempo.

Gmar Chatima Tova.

26.9.05

Retomada da zona
Voltou a pegar fogo a situação aqui no Oriente Médio, tanto no cenário político, como no militar. O Likud volta hoje à noite o destino do primeiro-ministro Ariel Sharon - querem antecipar as primárias do partido, uma demonstração da desconfiança do Likud com relação ao líder Sharon. Com os palestinos, depois de 40 foguetes lançados a partir da Faixa de Gaza, Israel resolveu retaliar. Está aberta mais uma onda de violência... E eu contei tudo isso hoje da RFI.

22.9.05

Comentarios de volta!
O sistema de comentarios do blog andou fora do ar (e, acho que por isso, ninguem comentou nos ultimos dois posts - espero que tenha sido por isso!). Mas ja estah de volta, testem!!

Shabat Shalom e... Tel Aviv, ai vou eu!

16.9.05

Manhã de sexta no Muro
Tem coisas que deixamos de fazer ao assumir rotinas. Quando turista, sempre que vinha pra Jerusalém ia antes de qualquer outro lugar para o Kotel, o Muro das Lamentações. Rezar. Pensar na vida. Fotografar. Reparar nas pessoas diferentes que passam. Ia sempre. Duas vezes no mesmo dia, até. E voltava no dia seguinte, apenas para ter estado.

Agora tenho uma vida em Jerusalém. Ônibus, horários, trabalho, agenda cheia, compromissos, contas para pagar. A Cidade Velha ficou deixada de lado, para quando não sobra coisa pra fazer. Virou um pedaço do panorama da cidade, ali no horizonte. Quase esquecido, não fosse sua imponência, com as muralhas de mil anos. O Kotel, lá dentro, lugar para ser visitado em ocasiões especiais, que nunca acontecem.

Pois hoje saí do trabalho - viva as sextas-feiras - e caminhei um bom trecho até a entrada da Cidade Velha. Esperei chegar uma amiga francesa religiosa, e tive tempo de fazer o que mais gosto aqui: observar, observar. Depois, caminhamos pelas ruelas que conheceram personagens importantes até o Kotel. Era bem cedo, as pessoas se reuniam ainda para a reza matinal - até perguntaram se eu queria tomar parte, mas recusei.

E lá no Muro, tefilin enrolado no braço e sobre a cabeça, rezando com a testa encostada na parede mais sagrada do judaísmo, reparei em um pai que trazia uma criança de colo. Ele não falou nada. Apenas se aproximou do Kotel. O bebê, chupeta na boca, estendeu o braço curto e com a mão tocou a pedra. Arrepiante. Saí satisfeito, fez meu dia. E fiquei esperando a minha amiga beata, bem mais observante que eu, ali, entregue à fé.

Enquanto espero
Escrevo uns versos
Depois rasgo
(AC)

Shabat Shalom.

9.9.05

A emoção da cidade que eu amo
Sexta-feira, aquela rotina de sempre: sair do trabalho às seis da manhã, caminhar até o shuk (mercado livre), passear por lá sentindo os cheiros, ouvindo os gritos em hebraico, provando os gostos. Depois, caminhar um pouco pela cidade, a cidade que eu escolhi, entre tantas outras menos perigosas e menos confusas, para morar. E voltar para casa, para descansar no único dia que eu posso fazer isso à noite, sem horário para acordar na manhã seguinte.

Mas hoje fugi da rotina. Meu pai e meu irmão estão aqui e fomos passear na linha 99, o ônibus turístico de dois andares que passa pelos principais pontos da cidade. Não bastasse a beleza de Jerusalém, as pedras brancas todas iguais que transpiram história, os locais cheios de emoção e significado, também as músicas no ônibus ajudam a emocionar. Arrancaram algumas lágrimas de emoção, sim.

Foi quando eu parei pra pensar que - porra! - estou aqui no meio disso que é o realizar do meu sonho! Estou nessa vida louca, tão louca que sobra pouco tempo para pensar. E lá no segundo andar do ônibus vermelho, ouvindo as músicas que cantam os encantos de Jerusalém, senti uma emoção forte, um nó na garganta, uma lágrima atrás da outra escapando do meu olhar emocionado.

É a emoção da cidade que eu amo - e que tinha esquecido que amo.

Shabat Shalom.

7.9.05

M473M471C0

4S V3235 3U 4C0RD0
M310 M473M471C0.
D31X0 70D4 4 4857R4Ç40 N47UR4L D3 L4D0
3 M3 P0NH0 4 P3N54R 3M NUM3R05,
C0M0 53 F0553 UM4 P35504 R4C10N4L.
540 5373 D1550, N0V3 D4QU1L0...
QU1N23 PR45 0NZ3...
7R323N705 6R4M45 D3 PR35UNT0...
M45 L060 C410 N4 R34L
3 C0M3Ç0 4 F423R V3R505
H1NDU-4R481C05
Meu Brasil brasileiro
Sete de setembro, dia do meu Brasil brasileiro, dia de decisao importante, dia de pensar no Brasil (na familia e nos amigos, na comida, na musica, no clima maluco, no boteco da esquina, no pao na chapa com cortado, no pao de queijo, no pastel com caldo de cana, nos cheiros, no verde imenso, no portugues, na simpatia e hospitalidade...) e de parar de so pensar no Brasil. E dia de fechar a boca, porque sou desses que falam demais!

Aqui no Oriente Medio o dia vai so comecando, estou acabando um dia de trabalho e daqui a pouco saio para caminhar por Jerusalem, comer rolinhos de chocolate no shuk, tomar suco de cenoura com laranja feito na hora, cortar o cabelo conversando sobre politica, pegar onibus sem assaltos, ouvir conselho de quem nao conheco, pronunciar palavras arranhando a garganta, ver as manchetes dos jornais, pensar no caminho da paz, ler os cartazes politizados, falar e rir com amigos de todo o mundo e de todo o Brasil...

E' duro estar dividido.

5.9.05

Babaca
De repente, passeando pelo Orkut, topo com esse babaca, que COPIOU o meu perfil! Fala sério! Meus amigos dizem que o cara só está tentando ser como eu, mas eu ainda acho que é falta de imaginação e do que fazer! Deixem comentários lá pra ele, quem sabe ele não muda o perfil!

4.9.05

Estréia
Meses atrasado, resolvi arriscar meu primeiro texto no delicioso Mondo Redondo, por onde vale a pena passear por horas entre as colaborações de gente tão diferente e tão parecida. Resolvi escrever sobre o que vejo aqui - mais do que conto no blog, porque no blog é tudo pessoal demais. E espero escrever por lá a cada duas semanas, sempre aos domingos. Acompanhem e preparem os tomates!

3.9.05

Não vou me molhar
Agora chorar que é bom
Chorar que eu quero ver...
Vai começar a chover.
Só eu tenho o guarda-chuva,
Adivinha quem vai se molhar...
Quem vai se molhar é você!
Também pode chorar que eu não volto atrás,
Pois no meu guarda-chuva não te levo mais

(Funk como le gusta, Meu guarda-chuva)

Depois que vi metade de Bossa Nova hoje na TV daqui, com tomadas lindas do Rio de Janeiro, música do Tom Jobim e português, deu mais saudade do Brasil. Falta um ano para aparecer por aí!

29.8.05

Viva o Mucius
Ano passado, menos de um mes antes de vir para Israel, comecei um curso que incluiu, entre muitas outras coisas (a duracao total era de um ano) tecnicas de expressao verbal e corporal. Nosso professor, o Mucius, se esforcou para fazer daquele monte de corpos inexpressivos algo que poderia ser respeitado ao falar em publico.

Hoje, no meio de coisas empoeiradas (odeio poeira, me faz espirrar) guardadas em uma mala, achei a apostila do curso e me pus, em casa, sem saber quem das minhas companheiras estava la, a praticar os exercicios do Mucius: ler textos em voz alta, pronunciar silabas estranhas e caminhar pela casa (isso ficou por minha conta) gesticulando...

Tudo, claro, pelo bem da minha voz, que agora corre o mundo via satelite e pela internet! Ainda tenho muito que melhorar, eu sei... Por isso, da-lhe Mucius todas as manhas antes de ir dormir (meus horarios trocados nao mudaram, continuo trabalhando de madrugada e dormindo na luz do dia!).

28.8.05

NO AR
Outra entrada minha na RFI, dessa vez gravada, aqui. Sobre o atentado desta manha...

Atencao: a radio nao mantem no site arquivo dos programas. Por isso, quando eu coloco o link, ele tem que ser usado no mesmo dia, antes que o programa do dia seguinte no mesmo horario entre no ar (ou seja, dentro das 24 horas seguintes)
De novo do jeito que já foi um dia
Life is not measured by the number of breaths we take,
But by the moments that take our breath away

Já teve a sensação de que não aproveitou o máximo que um determinado momento poderia render? Como, quando adolescentes, a gente deixa de convidar a garota para dançar por timidez e depois se arrepende. Costumo arrancar de cada instante tudo que posso. Olhar no rosto das pessoas que estão comigo - amigos e mulheres, não importa. Ouvir a voz com olhos fechados como para registrá-la sem ruídos e interferências. Sentir o toque em um abraço, em um beijo, em um carinho.

Ouvir as palavras e guardá-las como se em um disco rígido que falha, falha muito - a nossa memória. E lembrar, depois, de cada palavra, do riso que ela provocou, do olhar maroto que ela trouxe...

E mesmo assim, depois de tudo isso, fica a sensação de que não aproveitei o máximo de um determinado momento. Estranho.
Bomba, outra
Outra explosão, hoje de manhã, atingiu Be'er Sheva, no sul do país. Não houve mortos mas pelo menos 48 pessoas ficaram feridas, duas gravemente. Reports no Jerusalem Post e no Haaretz. É o primeiro atentado terrorista desde o fim da operação de retirada dos colonos judeus de assentamentos na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.

Esperamos as reações, dos dois lados. Não os bla-bla-blás, mas as reações efetivas.

Para quem está em Israel e preocupado:
EMERGENCY HOTLINE, SOROKA HOSPITAL 12-55-177
BE'ER SHEVA MUNICIPALITY HOTLINE 08-646-3737

24.8.05

Meu primeiro ao vivo
Acabei de transmitir para a Radio Franca Internacional, ao vivo, boletim sobre um ataque que ocorreu no incio da noite de hoje na Cidade Velha de Jerusalem - um ortodoxo morreu e outro ficou ferido depois de serem esfaqueados por um arabe. Quem quiser ouvir minha voz tremula e nervosa dando a noticia, clica aqui.

23.8.05

Planeta Blog chamando
Tinha que voltar, tomar vergonha na cara. Quase deixei o blog morrer, nem eu mesmo entrei para ver os comentários, sequer. Mas estou de volta, cheio de histórias. Histórias, algumas delas, que vão para um livro que eu comecei a escrever hoje. Como os últimos três, não vai ser publicado. Mas saibam que estou escrevendo um livro! Como já plantei árvores, fica faltando apenas o filho. Deixemos isso para outra ocasião, tá...?

História que tenho que contar é a da visita da Karina. A Karina, para quem não sabe, conheci há mais de quinze anos. E, por essas coisas do Orkut, nos reencontramos. Estudamos juntos no Miguel de Cervantes, onde aprendi um espanhol que já não tenho. Os caminhos se descruzaram, ela foi para a Espanha e eu vim parar em Israel. Coisas do destino... Pelo menos Madrid e Jerusalém ficam mais próximas do que de São Paulo.

Ela veio, passou uma semana. E nessa semana passeamos de carro (o turismo é outro quando você tem quatro rodas) por quase todo o país, ou por muita coisa que fica ao norte do Mar Morto e ao sul de Rosh Hanikra. Aproveitamos, né? Foi uma semana bem intensa.

E foi semana de desconexão. Fiquei devendo explicações sobre o último post (que foi só um teste mas acabou virando post no Blog dos Blogs!). Já explico o confronto das cores e as emoções das coisas que vi (e das que não vi, porque não pude ir a Gaza ver de perto) na semana que acabou.

Mas antes de semana da Karina e da semana da desconexão teve o mês da Sofia. A Sofia, que conheci entre uma palestra e outra tequila na Guatemala, veio do México parar em Israel. Já está de volta em Huixquilucan e vem para Jerusalém em um mês. A Sofia trouxe os temperos e os sabores do México e deu uma graça especial nos dias que passou aqui - mas não só pela comida (ela me mata!).

Desconectamos, enfim
Em poucas palavras, o primeiro-ministro Ariel Sharon resolveu que algo precisava ser feito porque Israel não tem um parceiro confiável para negociar a paz. Algo unilateral. Desconectar, pois. E assim foi feito, na semana passada. Israel desocupou todas as 21 colônias da Faixa de Gaza, que agora não tem mais judeus morando, e quatro da Cisjordânia, de onde estão saindo hoje.

O negócio das cores é assim. Laranja é a cor oficial de Gush Katif. Mistura o amarelo da areia com o vermelho do sol, uma parada assim. Gush Katif, o nome do bloco de colônias da Faixa de Gaza, fica diante da praia. Ficava. Então os opositores do plano do Sharon adotaram o laranja para protestar. E fizeram pulseiras, faixas, adesivos, fitas, manifestações - tudo laranja.

Em Israel, país do cachol ve lavan, do azul e branco, a oposição da oposição demorou mas não falhou. Veio bem depois da onda laranja uma distribuição de (de novo) pulseiras, faixas, adesivos e fitas - tudo azul como Adão e Eva no paraíso. E ficou assim: quem se opõe (se opunha) à saída dos assentamentos vestia laranja. Quem vai (ia) a favor, azul.

E aí, claro, surgiram as entidades que querem que todos esqueçam essa bobagem de cores e sejam todos irmãos. Então criaram o slogan "Precisamos manter a relação" com duas fitas (uma de cada cor) amarradas. Ou o slogan "O importante é não nos desconectar um do outro", com dois triângulos (como os que formam a Estrela de David na bandeira israelense) separados.

As emoções pela TV
Não fui a Gaza. Fui em abril, quando tudo estava mais calmo e a minha carteira de jornalista ainda não tinha vencido. Venceu e não renovaram, não pude ir. Mas acompanhei pela TV e me emocionei, sim, com as coisas que vi - como os soldados abraçados com os colonos que eles deviam retirar de Gaza, todos chorando. Imagem que fica para a memória do acontecimento.

Embora não tenha estado lá, cobri o que rolou na semana passada - e continuo fazendo isso, diariamente - para a Rádio França Internacional, que transmite quatro programas diários para 50 rádios do Brasil em português. Minha última colaboração foi ao ar na manhã de hoje em Paris. Está no ar.

4.8.05

E o 15 de agosto está chegando

E o 15 de agosto está chegando
DSCF1032Faltam apenas duas semanas para a desconexão, para que Israel saia completamente da Faixa de Gaza. O clima é tenso. Grupos extremistas israelenses tentam invadir o local, selado há algumas semanas, para frustrar o plano de saída. Em vão. Muitos já saíram, algumas famílias já receberam as chaves das casas novas em locais como Nitzanim e a essa altura já devem estar decorando suas novas moradias.

E continua a disputa entre laranjas e azuis, por todo lado. Jerusalém está toda pintada, nas duas cores. Carros, mochilas, pulsos e tudo onde se pode amarrar uma fita leva uma das cores. No ônibus que eu fotografei semana passada o cartaz diz: "Devemos manter o relacionamento".

O que será não se sabe...

1.8.05

Acabou o Taka
E, no tekes de fim (israelense é chegado em uma cerimônia!), marcou a atitude da francesa religiosa de 19 anos que, durante os cinco meses de curso, me detonou por eu ser azul e "querer entregar Gaza para os terroristas". Ela tirou do pulso uma pulseira de pedrinhas e me deu, dizendo: "para você me devolver na próxima vez em que nos encontrarmos, para que tenha uma próxima vez".

É dessas pequenas coisas que o bonito da vida é feito. Fiquei emocionado, sem exagero. E, como um bobo de 26 anos, procurei alguma coisa para dar a ela, em troca. Não achei, mas dei a promessa de que sim haverá próxima vez e de que na próxima, levo alguma coisa minha para que tenha mais uma! E nos despedimos, entre sorrisos tímidos e o constragimento de não poder matar a timidez com um abraço, porque ela é religiosa.

E acabou o Taka, cinco meses depois. Fotos, sorrisos, declarações de agradecimento aos professores e à equipe que, nem tinha noção, é bem maior do que imaginava. Acabou a segunda fase da aliá - e com ela, a sensação de tristeza por estar deixando mais uma etapa. E a esperança de que as pessoas - como a francesa, os russos, os latinos e todos que passaram como eu por essa atribulada fase - fiquem em contato. Com ou sem pulseira, porque tem uma coisa bem mais significativa entre nós...

24.7.05

Sou uma puta
Andei buscando uma boa definição para o meu trabalho. Encontrei: sou uma puta. Explico...

Saio todas as noites de casa para trabalhar, durante a madrugada, em uma coisa que as pessoas odeiam - mas sem a qual o cliente não pode viver. Ganho bem, como as putas. Saio detonado do trabalho, de manhã, jurando para mim mesmo que vou parar. Só que na noite do mesmo dia já estou na lida de novo. Muitas das pessoas com quem eu lido durante o trabalho me maltratam, gritam comigo, dizem palavrões e me fazem ameaças. Mesmo assim eu falo com eles no melhor tom possível, mantendo a calma...

De vez em quando vou trabalhar de táxi (por estar atrasado e o táxi levar apenas cinco minutos em vez dos 40 do ônibus) - como as putas de luxo. Não trabalho na minha profissao mas continuo estudando (com a ajuda da grana que ganho) para poder sair dessa vida. E nunca saio. Outras pessoas usam o meu local de trabalho nos horários em que eu não estou trabalhando e eu não tenho a menor idéia de quem são essas pessoas.

Sou ou não uma puta?

13.7.05

Boom
Estava silencioso demais, como me disse o sujeito no carro ao lado. De repente, uma explosao, tres mortos, pelo menos 90 feridos. Em Netania, a cidade para a qual meu pai vai mudar em duas semanas. Depois conto a historia com mais detalhes - e conto como eu estava perto...

Lamentavel, o terrorismo esta' de volta.

5.7.05

Balanço: 1 ano
Meus bons amigos
Onde estão?
Notícias de todos
Quero saber...
Cada um
Fez sua vida
De forma diferente...


Tá. Um ano passou. Um ano desde que eu deixei o Brasil, mas eu não deixei o Brasil para sempre. E acordei hoje-ontem, com o celular trazendo para perto minha irmã, que ficou longe. Chorando feito bobo li e reli ela dizendo que me ama e que sente saudade de mim. Um ano passou.

Resolvi fazer o que gosto no 4 de julho do um ano. Quatro de julho de feriado nos EUA e de feriado para mim aqui. Ficar com amigos! E fiz isso a tarde toda, com os amigos novos, de um ano. Vimos SBT pela net, falamos português, comemos pizza com ketchup, rimos das piadas nossas. Relembramos o primeiro ano.

Resolvi ler alguma coisa. E li no Orkut os recados deixados por todas aquelas pessoas especiais dos últimos 26 anos. Gente que faz uma falta enorme, mas falta menor do que vai fazer em um ano. Deu saudade, chorei de novo, relembrei mais um pouco. Deu muita saudade.

Resolvi fazer um balanço. Nesse ano amei. Amei muito. Amei à distância e perto. Odiei, também. Menos. Menos do que amei e menos do que já odiei. Nesse ano aprendi. Aprendi sobre os outros, sobre outros idiomas, sobre outros países, sobre outras pessoas, sobre alegrias e sofrimentos que eu não conhecia.

Nesse ano cresci muito, embora tenha emagrecido um pouco! Ainda não aprendi a cozinhar, acho que a limpar a casa tampouco. Mas vou tentando... Assumi uma rotina e compromissos - o de aprender o hebraico, o de assinar um contrato, o de aparecer todas as madrugadas no trabalho. O de estar para os amigos que estão para mim.

Nesse ano li menos. Li menos porque não li em português. Senti falta do português e de poder me expressar como em português. Também me expressei menos. Também me entenderam menos. Também precisei manobrar outros idiomas - os que eu sabia e os que eu aprendo na marra - para dizer o que ia pela minha cabeça.

Nesse ano realizei um sonho. Troquei a ideologia por realização. Botei os pés e finquei a minha bandeira. Continuei me emocionando ao ouvir as músicas e as coisas que fortaleceram a ideologia. Mas me senti mais forte e até corajoso por estar realizando o que sonhei.

Nesse ano recebi elogios, patadas, cantadas, abraços, beijos. Descobri amigos que já não quero deixar, também. Recebi amigos que ficaram no Brasil e vieram visitar. Senti saudade dos que não vieram. Tentei convencer os que ficaram para que viessem. Descobri paixões que nem suspeitava entre quem ficou.

Nesse ano me embebedei, fiz merda, matei aula, matei trabalho, sumi de um trabalho, briguei por motivos idiotas, discuti política, gastei mais do que devia e fiquei no negativo no banco. Nesse ano chorei. Não sei se chorei mais. Mas chorei muito. Vai passar...

Nesse ano dancei forró que não era ao vivo, tomei Guaraná que não tinha comprado, caipirinha que não tinha cachaça, comi açaí sem gosto, feijão sem panela de pressão, pão de queijo de saco, pé-de-moleque de presente, farinha láctea importada, ouvi vozes em português pelo Skype.

Nesse ano conheci muita gente. Muita gente. Gente da França e da Argentina, dos EUA e da Rússia, da Etiópia e do Brasil, de Cuba e do Irã. Estive na Jordânia e no Egito...

Um ano passou.

3.7.05

Volta ao mundo
Já dizia Amyr Klink que "um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver".

Com esse espírito, minha amiga Lud vai embarcar ainda hoje com o Allan Vasconcellos para uma aventura maravilhosa - uma volta ao mundo! Como eu disse pra ela num email que acabei de mandar, eles estão realizando o sonho de muita gente (o meu entre elas!). Vão passar por quatro continentes. Do caralho! Lá no site eles vão contar cada pedaço da aventura! Sensacional. Fico aqui no meu mundinho acompanhando de longe! Lud, boas viagens!!

30.6.05

Gay parade, violencia e 45 dias faltando
In light of the violence we have
seen here today, it goes to show how
much farther we have to go to turn
Israel into a liberal and tolerant state.

Hoje foi dia da primeira parada gay aqui em Jerusalem, cuja realizacao acabou aprovada apesar das manifestacoes dos ortodoxos. Deu merda, claro. Um tipo de preto esfaqueou gente no meio da passeata colorida. Uns foram presos, outros foram internados. A frase acima, do deputado Roman Bronfman, resume o espirito dos dias de hoje em Israel. Existe uma tensao muito, muito forte no ar.

A caminho do trabalho, onde estou agora, o onibus precisou desviar do roteiro. Ficamos, la dentro, entre reclamacoes de uns e de outros, sem saber a razao. Podia ser chefetz chashud, objeto suspeito que atrai a atencao da policia, coloca robos e sistemas avancados de detonacao controlada em acao. Podia ser um agente laranja ou um monte deles fazendo uma manifestacao contra a saida da Faixa de Gaza. Podia ser um acidente, ate...

A coisa esta' feia, mesmo. A violencia entre judeus estampada na capa de jornais, circulando na internet. Frases de efeito, slogans dos dois lados (hoje eu ouvi a versao de resposta ao "judeu nao expulsa judeu": "judeu nao expulsa judeu, apenas o move um pouquinho"), faixas cor-de-laranja e azuis (consegui a minha hoje, afinal) penduradas pela cidade, nos carros, nas mochilas, nos pulsos e nos postes...

E o medo do que vai acontecer em 45 dias, que e' so o que falta para a desconexao. Tao pouco tempo faltando, hoje o Exercito decidiu declarar Gaza territorio fechado - ninguem entra, quem quiser sair faz um favor. A duvida e' o que mais assusta. Os confrontos estao por toda parte, nao apenas la em Gaza. No mesmo onibus, hoje, um tipo gritava e brigava com um outro, como se fosse coisa pessoal: cada um tinha no pulso uma cor diferente...

29.6.05

Coisas de idioma
Já deu um fora enorme com idioma? Eu já dei um monte deles. Se fosse tentar lembrar, certamente deixaria diversos foras de fora. Eis que hoje quis comprar uma fita azul (como a cor-de-laranja que está na moda aqui) para fazer oposição aos que fazem oposição ao plano de saída de Faixa de Gaza, chegando.

"Fita" em hebraico é seret, a mesma palavra para "filme". E seret cachol, eu não sabia, é uma forma de se referir a filme pornô... Pois eu entrei em uma loja, de brasileiros pra deixar o fora ainda mais... fora, e pedi, pronunciando com todas as letras seret cachol. O cara riu, claro. E pergutou se eu queria seret cachol de banot, garotas. Não entendi, claro.

Fora dado e sem a fita azul, saí da loja e fui comprar meu primeiro eletrodoméstico, para encarar o verão que ainda nem chegou (mas já está derretendo nervos), um ventilador. Acabei de montar e de instalar em uma tomada roubada do despertador - refrescar é preciso, acordar não é preciso.

E agora, vento na nuca, ouvindo um pouco de músicas variadas e um tal de Damien Rice, penso na boa fase que vou levando. Mesmo com a decisão de adiar os estudos, porque existem coisas mais urgentes na vida nova. E enquanto viajo nos pensamentos passeio por São Paulo, minha cidade da nostalgia. E penso nas pessoas que de repente me avisaram que vêm para cá...

24.6.05

Mãe, esse bicho bobo!
Cena de ontem: a mãe, nova, não mais de 30 anos, sobe no ônibus com o carrinho da filha, novinha, alguns meses apenas. Pede ajuda (a minha ajuda) para segurar o carrinho enquanto vai até o motorista pagar a passagem. Volta, agradece. E passa a cuidar do movimento do carrinho em cada curva, em cada vez que o ônibus freia bruscamente, em cada aceleração exagerada.

Ela dá água para a bebê, que parecia ter sede. E aí, entre um e outro gole, agachada diante do carrinho e com os olhos brilhando com os olhos da criança, ela começa a beijar os pezinhos, a mão pequenininha, faz carinho no cabelo e no braço da menina, tão carente e tão entregue ao amor e aos cuidados da mãe. E a mãe deslumbrada, ainda. Ainda e sempre, para sempre.

Não tem nada como amor de mãe. Saudade da minha.

21.6.05

Histórias de ônibus
O sistema de transporte em Israel até que é bem eficiente. O tamanho reduzido do país e das distâncias ajuda, sem dúvida. Os passageiros é que por aqui não são muito eficientes. A entrada no ônibus pode ser uma briga de cotovelos que pode durar até quinze minutos em um parada em horário de pico.

Como ontem. Entrei no ônibus, falafel numa mão e cartão chofshi chodshi na outra, em meio a um monte de gente. Logo na primeira fileira uma velha de pé brigava com um velho sentado que, não acreditei, não concordou em deixá-la sentar na cadeira ao lado, que ele usava para acomodar o carrinho de feira vazio e dobrado.

Num determinado momento, sem desistir da idéia de sentar ali, a velha disse num tom tão didático que humilhou o velho: "isso é transporte público, serve para ortodoxos, laicos, árabes, pra todo mundo... Se você quer conforto, vá pegar um táxi". Deu vontade de aplaudir a velhinha, mas aprendi que aqui não vale a pena comprar briga dos outros. Até porque ela ganhou a parada e sentou lá.

Hoje outra cena memorável. Indo para o jornal reparei na menina que fazia a segurança da parada(*) - ela mesma de parar o trânsito, linda, linda. Em geral esses seguranças abordam os suspeitos para tentar ouvir um sotaque árabe demais ou descobrir algo que os menos atentos deixam passar. Pois bem, a menina abordou um sujeito (que até eu, leigo, dei por suspeito) e o cara fingia que não era com ele...

Dessa vez deu vontade de comprar a briga, mas não me esqueci da lição aprendida. Fiquei na minha. O ônibus 8, o meu, chegou e o cara subiu. Eu deixei passar. Aproveitei para puxar papo com a segurança, dizendo como o sujeito tinha sido ousado. Ela, seca, respondeu que faltou educação em casa. Concordei e vi na feição dela a preocupação por ter deixado o cara tomar o oito.

E enquanto esperava o outro 8, que demorou, ia dando meu lugar no banco do ponto para um velhinho quando ele disse: "fica, meu filho, tem lugar para todo o povo aqui", usando a palavra hebraica "am". Foi a frase do dia! Dei risada, sentando de volta ao lado dele, e ele retribuiu. Histórias de ônibus...

Glossário
Chofshi chodshi, que literalmente signfica "mensal livre", é o nome do cartão que se compra mensalmente para andar livremente de ônibus. É mais ou menos como ser o personagem de Carne Trêmula, de Almodovar, mas com a necessidade de renovar o direito mediante pagamento a cada trinta dias, em média!

(*) As principais e mais movimentadas paradas de ônibus em Israel têm seguranças vestidos com um unforme transado e - sempre - óculos escuros. A idéia é não deixar um indivíduo suspeito tomar o ônibus. Mas na verdade o efeito é muito mais psicológico (a população fica tranqüila ao saber que vai sendo cuidada) do que prático.

20.6.05

No ar
Para quem nao sabe, estou trabalhando ha dois meses e meio, mais ou menos, no Jerusalem Post, o maior jornal em lingua inglesa de Israel (pelo menos o unico so em ingles). Estou em um projeto novo, o do Cafe Oleh. Sem mais delongas, a boa nova: we're up! Clica no logo e boa diversao!

18.6.05

Zona Franca e pouco estomago
Free Zone foi o filme do Amos Gitai do qual eu mais gostei. Dos que eu vi foi o unico, alias. Quando o entrevistei, anos atras, disse a ele que o considerava um irresponsavel por gerar anti-semitismo por causa do estupro conjugal (como o Estadao escreveu, na epoca) de Kadosh. Free Zone volta a tematica rotineira de Israel e coloca Natalie Portman (judia e israelense, sabiam?) como observadora de um conflito que parece nunca ter fim.

Nao vou contar o filme. O enredo tem menos importancia do que o contexto em que vi o longa. Mais interessante que o filme em si foi ver os israelenses levantando e saindo da sala no meio da projecao - infelizmente, as pessoas aqui nao tem estomago para o assunto - talvez porque ele faz parte da vida de uma forma tao intensa e direta; talvez porque simplesmente qualquer tentativa de retrata-lo no cinema soe muito artificial.

Gitai acertou, finalmente. Vale a pena ver.
ARRUMO OS ACENTOS DEPOIS
Aventura na Africa
A ideia de viajar para o Egito surgiu algumas semanas antes e o tempo passou tao rapido que quando o Carlinhos me disse que ia ser no fim de semana seguinte, nao acreditei. Mas foi. E fomos sem lenco, mas com documento - os passaportes israelenses, para poder sair, e os brasileiros, para poder entrar no Egito sem enchecao. Fomos tambem sem guia - e o que rolou na viagem de quatro dias no norte do continente africano nao foi planejado nos minimos detalhes. Ainda bem. Mochila nas costas e umas ideias na cabeca.

A mochila, a minha mochila, merece um paragrafo so para ela. Meus tres companheiros de viagem - o mineiro Carlinhos e os pauistas Daniel e Fabio - tinham esquecido de um pequeno detalhe: me avisar o horario da viagem, na manha daquela sexta-feira. Fui descobrir as duas da manha, no meio do trabalho, que sairiamos da estacao central de Jerusalem as sete. Eu saio do telemarketing as seis e minha mochila nao estava pronta! Correria e dois taxis a 68 shekels resolveram o problema...

Tudo certo, o embarcar. E ai comecou a aventura - a de voltar para o pais de onde sairam, expulsos, meus avos com meu pai e minha tia antes de completarem dez anos de idade no fim dos anos 1950. E a de percorrer um pedaco da historia que antes so nos livros, nas fotos, na internet. O Egito e' mistico. Mas tambem e' um pedaco do Oriente Medio na sua melhor concepcao - o Oriente Medio do transito caotico, dos pedintes de bakshish (gorjeta), da areia e dos rostos queimados e marcados pelo sol.

Comecamos a viagem no percurso entre Jerusalem e Eilat, trecho de quatro horas e meia com ar condicionado e conforto que nao teriamos nos proximos dias. Logo ao chegar em Eilat, no extremo sul de Israel, fomos para o consulado egipcio carimbar nos passaportes verdes, os brasileiros, o visto de entrada - exigido, no caso de israelense que somos, apenas para quem vai alem do Sinai - e a nossa escolha foi nem parar na peninsula que ja foi de Israel.

De Taba, a fronteira, fomos para o Cairo. Viagem pesada, em uma van apertada, vidros abertos durante as sete horas ate a capital egipcia para compensar o ar condicionado que faltava - e fazia diferenca enquanto cortavamos o deserto. Sete horas depois, comeco da noite, a van parou. E descemos, sem mapa nem ideia de onde estavamos. Os dois anos e meio de aulas de arabe do Carlinhos salvaram nossa vida - um taxi, uma negociacao, e uma viagem demorada ate achar um buraco para descansar os ossos.

Depois de deixar as malas e esconder muito bem tudo que tivesse letras hebraicas estampadas, passear pela cidade. A noite, bem a noite, por volta de onze horas, e' quando as pessoas - muitas pessoas - estao nas ruas. Faz muito calor e e' impossivel ficar dentro de casa. A cena me fez lembrar as temporadas de verao no Guaruja - e as pessoas queimadas e ardendo circulando no calcadao, chinelo esfregando o chao. So que no Egito falam arabe, cruzam as ruas feito loucas e alguem buzina a cada quarto de segundo.

Nao da pra contar tudo de uma vez. Vou fazer isso aos poucos. Depois continuo...

16.6.05

Dá-lhe wireless!
Já sei que estou devendo um post sobre a minha aventura na África, mas antes preciso contar que estou agora com o meu computador no meio da Ben Yehuda, a principal rua de Jerusalém, conectado com wireless, tomando um chocolate quente e esperando o horário da aula. Para quem não sabe Jerusalém está quase toda plugada, de graça, na internet! Existem diversos pontos da cidade em que basta abrir o computador, achar a rede (UnwireJer) e pronto! E eu tô num desses hotspots!! Muito louco! Pena que não trouxe a webcam - mas tive uma idéia - fazer um bate-papo com quem quiser num dia combinado e com câmera no meio de Jerusalém. Assim quem não conhece pode espiar um pouco da rotina maluca e adorável da capital israelense e quem conhece pode matar saudade! Sugestões de dia?!

11.6.05

Do Cairo
Estou no Cairo, Egito, escrevendo rapidamente de um cyber. Esta' tudo bem, ja' estivemos nas piramides (muitas fotos!) e todo mundo diz que eu tenho cara de arabe - ja' virou consenso e piada! 'A noite vamos pra Luxor, ao sul, e devemos seguir amanha para Alexandria, no norte. Muitas impressoes do pais do meu pai e dos meus avos. E a frustracao por nao poder dizer a cada um que ve um "que" de arabe nos meus tracos que eu tenho mesmo um pe aqui.

A cidade e' uma bagunca. Gente atravessando as ruas no meio dos carros em movimento, sinfonia de buzinas, uma zona. Pela primeira vez eu me sinto no Oriente Medio estando no Oriente Medio! Nem a Jordania deixou essa impressao. Tenho muito para contar mas ainda tem muito para ver. Entao vou deixar meus leitores curiosos por enquanto e trazer minhas impressoes quando estiver de novo "em casa". Merda esse negocio de precisar ficar escondendo a identidade!

1.6.05

Ai...
Me dê um abraço
Venha me apertar
Tô chegando
Coisa que gosto é poder partir sem ter planos
Melhor ainda é poder voltar quando quero
Todos os dias é um vai e vém
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
E assim chegar e partir
São só dois lados da mesma viagem
O trem que chega é o mesmo trem da partida
A hora do encontro é também despedida
A plataforma dessa estação é a vida desse meu lugar
É a vida desse meu lugar, é a vida...


Tem horas que com tanto pra dizer, é melhor calar. Não sei o que contar, as coisas vão como vão. Menos feliz do que eu gostaria, é verdade. Bem menos. Com a sensação de estar jogando no lixo tudo que eu deveria estar aproveitando. Com a sensação de estar sendo jogado no lixo. Mais magro, todo mundo comenta. E cansado - já estou até cansado de dizer que estou cansado. E aí boto a Maria Rita pra cantar no meu iTunes e ela me diz tudo isso aí. Vontade de voltar, eu confesso. Não pra desistir, mas para estar em casa, com as pessoas que eu amo. E nem a mínima condição disso agora. Vou levando a vida. Empurrando com a barriga. Sendo empurrado pela barriga da vida. Vamos ver até onde vai isso. Desaparecimentos do mundo virtual são previstos, ok?

27.5.05

Um perfil
(Ou "pra não dizer que eu não atualizo")
Sou jornalista. Sou também garçom! Sou da década de 1970. Estou rumando devagarzinho aos 30 anos! Sou apaixonado pela maioria das coisas que faço. Adoro receber e enviar cartas de verdade. Não suporto receber emails com powerpoints anexados. Odeio quando gente que não me conhece me adiciona no Orkut pra colecionar figurinha. Não sou figurinha. Vivo em Jerusalém. Amo o lugar onde vivo. Divido um apartamento com três argentinas. Em São Paulo morei um ano e meio sozinho. E com minha mãe. E com meu pai. E morei em muitos lugares. Amo meus amigos. Morro de saudade deles. Vivo a quase 20 mil quilômetros longe da maioria deles. E a 20 quadras de bons novos amigos! Sou um eterno voluntário e um eterno mochileiro. Tenho duas cidadanias mas um passaporte e meio! Fotografo e amo fotografia. Tenho uma câmera digital Fuji nova! E uma analógica Canon de 26 anos. Adoro cinema. E adoro ler. Adoro ler Milan Kundera e Amos Oz e Ernest Hemingway e Luis Fernando Verissimo. Adoro ler muita gente e muita coisa. Leio sempre. Quando criança, lia dicionário. Adoro dançar forró. Mas não só forró! Danço quando posso. Raramente posso dançar forró aqui! Gosto de ouvir música, quase tudo. E notícias. Quando vivia no Brasil, meu rádio-relógio estava sempre ligado na AM. Não vivo sem o meu celular. Ele fica ligado 24 horas por dia. Adoro idiomas. Aprendo hebraico. Quero aprender árabe. E francês. Falo espanhol com sotaque de argentino e inglês com sotaque de brasileiro. Sou brasileiro, no fundo. E amo o Brasil, embora o Brasil me envergonhe muito. Adoro escrever. Vivo do passado, é verdade. Sonho, sonho, sonho... Ainda vou ser correspondente internacional! Tenho um laptop, que era meu sonho de consumo. Estou escolhendo meu próximo sonho de consumo. Não tenho mais carro e estou feliz da vida por isso! Vou comprar uma scooter. O Orkut e a tecnologia me fascinam. Poder ver as pessoas e ser visto por elas pela webcam, mesmo estando muito longe, é maravilhoso. Sou grato ao inventor do Skype. Acredito que sexo é fundamental em um relacionamento, sim. Não fumo cigarro, odeio o cheiro. Nunca fumei maconha. Mas fumo narguila. Tomo guaraná quando alguém traz, porque aqui não tem. Dizem que sou intenso, enfim. Não sei se concordo!

23.5.05

Nove da noite
(Da serie "respostas que gostariamos de dar")

- Ola, aqui eh o Gabriel, estou ligando de New Jersey. Recentemente mandamos um cartao para sua casa com dois dolares. Mas, antes disso, voce vive nessa casa?

- Voce tem ideia de que horas sao? Faltam dois minutos para as nove da noite!

- Aqui sao quatro da manha, meu caro. E eu estou acordado ligando para pessoas como voce para saber o que voce pensa das listas telefonicas...

Da vontade de dizer, mesmo. Mas nao pode, foge do script. E hoje, em reuniao de time (em telemarketing existem "times", nao "equipes"!) um dos sujeitos contou a estrategia dele para conquistar uma pessoa (geralmente as mulheres) no telefone: "Eu elogio a voz, digo que a pessoa tem uma voz suave..." Risadas do time e depois voltar ao trabalho, para make some money. Sao quase seis horas da manha do dia do estudante em Israel. Na ha mais numeros para ligar... Hoje nao estudo. Saio daqui e vou para casa, para descansar quatro horas, acordar e resolver coisas burocraticas: carteira de motorista, papelada do Exercito (vou me apresentar em uma semana!), documentacao do apartamento na prefeitura... Quem sabe sobre tempo para comer alguma coisa e ler o jornal do fim de semana passado...!

Entendem agora a razao do meu cansaco e do meu sumico?

E por aqui, claro, a desconexao nao sai de pauta. Estou querendo traduzir o meu texto para o frances. Algum candidato?

10.5.05

"Samba" de uma nota só
Em que outro lugar você adormece dentro do ônibus e uma velhinha de setenta e muitos anos te pergunta, preocupada para você não perder seu ponto, onde vai descer? Ou o motorista que, perto de chegar na parada final, percebe que só você ficou no ônibus, adormecido, te acorda e pergunta onde você vai descer, para cuidar de parar e deixá-lo lá? Não sei se em muitos lugares, mas com certeza em Israel, que hoje começa as comemorações em lembrança dos caídos nas guerras e pelos seus 57 anos independente, sim. E eu ando dormindo nos ônibus porque estou cansado, virando o dia, às vezes passando jornadas inteiras sem dormir - como hoje, e estou esgotado. Se está valendo a pena? Não sei! No dia 5 do mês que vem, dia de receber, talvez eu obtenha uma resposta. Ou em duas semanas, quando eu fizer a minha prova de meio de curso de hebraico... E se não bastasse o trabalho cansativo, a total falta de chance de ir ao jornal dar as caras e os estudos que me consomem, as minhas shutafot ainda fazem problema... Querem que eu ajude a pagar uma conta feita por uma garota que vivia lá antes de mim, que eu nem conheci e que, coisas da vida, voltou para o Uruguai, de onde veio. Deixando dívidas, claro. Muitas dívidas... Não vou pagar. Nem que a casa caia. E vai cair. Mas eu certamente não estarei lá, provavelmente vou estar no trabalho ligando para os EUA para perguntar como as pessoas usam as listas telefônicas ou no college, tentando aprender a ilógica lógica do idioma da Torá. A verdade é que eu já não estou nem aí... A cidade está enfeitada de azul e branco, por todos os lados, e eu também quero comemorar. E descansar. E acabar a minha matéria sobre Gush Katif, que consumiu mais de mês e meio de pesquisas, entrevistas e uma viagem para os assentamentos que serão desanexados no verao israelense. A matéria sai no Brasil. E, com sorte, aqui. Até lá, espero, já vou estar acostumado com os horários malucos, com acordar às oito da noite para um banho e café rapidos antes de sair, com dormir às 3 da tarde depois da aula e virar madrugadas no telefone. Dizem que vida de olê chadash é difícil. Dizem que eu ainda não vi nada. Chag sameach.

6.5.05

E o tempo voa
Hoje faz dez meses que estou em Israel. Dez meses longe do Brasil, da minha mãe e da minha irmã, da maior parte dos meus amigos e da minha família, da comida brasileira, do português no dia a dia... Dez meses aprendendo hebraico, comendo falafel e shwarma, conhecendo gente de todo o mundo, usando o Skype pra falar com quem ficou. Saudade, sim. Dez meses de muitas emoções!

5.5.05

sem acentos
Feito zumbi, mas tudo bem
So para despreocupar os preocupados: estou trabalhando feito camelo e estudando idem. Jornada de umas 15 horas com o relogio todo invertido. Mas estou bem, por enquanto. Tenho muito para contar mas aparentemente nao terei ate o fim da semana que vem, no feriado de independencia de Israel, para sentar e escrever!

Ate la, mensagens sao bem-vindas! Checo sempre!

1.5.05

A primeira vez a gente não esquece
No dia do trabalho de 2002, há exatos três anos, eu estava em Israel. Era a minha primeira visita, estava no nono dia de viagem, ainda não tinha nem ido para o kibutz onde passaria seis meses. No dia primeiro de maio de 2002 eu vim a Jerusalém pela primeira vez, com o Nahum Sirotsky. Fomos ao Kotel - me lembro de como eu chorava, emocionado. As fotos são desse dia! Tem mais algumas da viagem toda aqui - fiz 2 mil fotos em seis meses!

30.4.05

E meu irmão está falando hebraico
Quinta-feira foi dia de visita da família. Meu pai, com a mulher e meu irmão de três anos vieram para Jerusalém, passar o dia (e uma noite, na qual acabei dormindo no sofá!). A maior surpresa, depois de quase um mês (ou terá sido mais?) sem ver meu irmão foi ouvi-lo pronunciando palavras em hebraico e entendendo muito!

Quem dera ter de novo três anos para aprender hebraico! Amanhã o chag acaba. Na segunda-feira volto à minha rotina normal, mas um pouco alterada, porque tenho trabalho novo. Estudo de manhã, jornal à tarde e trabalho de madrugada (entre 23h e 6h). Não sei ainda como vai ser...

Shabat Shalom.

Glossário
Chag é feriado

27.4.05

Amo muito tudo isso, também em Pessach
E quem disse que só porque é Pessach o McDonald's não pode funcionar? Pode sim, com o jeitinho típico daqui! A rede de fast food, em vez de fechar as portas como a maioria aqui em Israel fez, aproveitando o feriado para reformar, está oferecendo uma versão do McRoyal (e de outros sanduíches) sem pão. É a carne no prato, batata frita, salada e uma bebida.

Eu provei e aprovei. Só achei meio salgado - o preço. Mas a verdade é que comparado com o McRoyal usual (a versão chique e européia do Big Mac, crescido), não é tão caro. Para que se tenha uma idéia, um número um igualzinho ao do Brasil - Big Mac, batata e bebida - sai aqui por 8 dólares. Facada. Quanto sai o número um aí onde você mora?

Bom, pra quem não entendeu nada, uma explicação básica: nos dias entre o começo e o final de Pessach, chamados de Chol Hamoed, não se pode comer, basicamente, pão (e o que é levedado). Cada linha dentro do judaísmo tem suas regras específicas - e ontem descobri que cada ascendência diferente pode significar novas regras.

O que acaba acontecendo é que no período de Chol Hamoed os restaurantes que oferecem refeições servidas basicamente com pão (como redes de fast food e locais de falafel, shwarma etc) fecham as portas. Alguns oferecem as refeições em matzá, o "pão ázimo", a bolacha de Pessach. Mas é uma trabalheira comer um falafel esmagado entre duas matzot!

Glossário
Em breve.

24.4.05

Chag Sameach
Ou: do meu primeiro Pessach em Israel
Saiu um papo, dias antes do feriado, de que nos pagariam 40 shkalim pela hora (em vez de 19, como em dias normais) pelo trabalho nos dias de Pessach. Nos animamos, fazendo as contas: três dias de trabalho poderiam pagar o aluguel do mês.

A realidade acabou sendo bem outra: apenas 150% do normal, algo em torno de 28 shkalim. Nada mal, também, mas bem longe de completar um aluguel. Mesmo assim, topamos. E eis que no primeiro dia de trabalho, sexta-feira à noite, começamos a nos arrepender: o que, afinal, estávamos fazendo ali, tendo recebido tantos convites para passar a noite de Pessach com amigos, família etc?

Como trabalhadores organizados, resolvemos que no sábado, ontem, faríamos à nossa moda. Como era noite de seder, decidimos que usaríamos kipá. E assim fizemos. Achei exatamente quatro kipot (éramos quatro judeus!) e desfilamos com elas pela cozinha e pelo salão, sob olhares indignados dos colegas árabes.

Depois de servir a sobremesa, nós quatro (três brasileiros e um argentino) decidimos fazer o nosso seder de Pessach. Completo, diga-se de passagem! Comemos bem e de tudo, sem nem perguntar se poderíamos. Afinal, noite de seder é noite de seder: só uma vez por ano! Pena que não tínhamos câmera na hora - ia dar boas fotos!

Fato é que depois do seder nós voltamos ao trabalho. E ficamos lá até três da manhã, arrumando o salão para o dia seguinte. Voltamos à escravidão...!!! Por isso, está declarado: be shaná abaá be Yerushalaim, aval lo ba avodá! (ano que vem em Jerusalém, mas não trabalhando!)

Pessach Sameach!

Glossário
Chag Sameach significa "feriado feliz", "boa festa", algo assim!

Pessach, a Páscoa judaica, é o feriado da liberdade, que marca a saída dos judeus da escravidão no Egito. Para saber mais, entra aqui
Shekel (plural shkalim) é a moeda israelense. Na realidade, chama-se Novo Shekel Israelense, NIS na sigla em inglês, Shekel Chadash em hebraico. "Novo" porque foi adotado depois de uma reforma na economia israelense na década de oitenta. Reforma, aliás, que funcionou. O shekel vale um quarto de dólar, mais ou menos. Dezoito shkalim é o piso pago por hora em Israel. São mais ou menos quatro dólares e meio.
Seder significa "ordem". Ha Kol Beseder, como respondemos à pergunta "como você está", significa tudo bem, tudo em ordem. Mas seder, aqui, se refere à ordem da noite de Pessach, em que lemos a hagadá (lenda, literalmente) e relembramos a saída do povo judeu do Egito.
Kipá, hebraico para "solidéu" (alguém sabe o que é "solidéu"?) é o que os judeus (e o papa!) usam na cabeça.

19.4.05

De volta
Duas linhas só para avisar que estou de volta da Faixa de Gaza, onde passei o dia com outros correspondentes internacionais e muitas histórias. Conto mais quando tiver menos cansado. Ops, três linhas.

18.4.05

Enquanto isso, no MSN
(Ou: como ser mais esnobe do que um brasileiro esnobe)

Ele: Quinta feira é Tiradentes no Brasil, vocês têm algum dentista famoso a ponto de poder folgar? hehehehehehe

Eu: Ha! Nós temos DUAS SEMANAS de folga aqui, por causa de um sujeito que atravessou o oceano... Vocês têm isso por ai?!

Ele: É, mas nós temos uma semana de balada no começo do ano por motivo nenhum. Vocês tem isso aí?

Eu: A gente tem uma semana sem fazer nada e ainda podendo dormir em barracas no meio do ano!

Ele: Silêncio.

17.4.05

Sotaques...
Quando entrei na loja e ela estava no telefone, senti que algo naquele mivtá era comum. Não dei importância e continuei atrás do que eu estava procurando. Achei, negociei, pedi desconto, pedi um modelo diferente. Tudo em hebraico, claro. Quando ia pagar, reparei numa bandeira do Brasil colada no caixa! Ela é brasileira, carioca, de Niterói, 40 anos em Israel. Mesmo assim, ficou o sotaque (gulp!)

Papo vai, papo vem, ela e o marido, israelense, me disseram que com o meu hebraico, chaval al ha zman eu continuar estudando. Ri um riso convencido e no instante seguinte lembrei das conjugações verbais que não entram na minha cabeça, da falta de vocabulário etc etc etc. E disse a eles que me falta muito, ainda. Eu sei que falta...

E hoje foi dia de fazer as contas da casa com as shutafot, que já voltaram da Argentina. Terrível. Não as shutafot, mas as contas. Três idiotas tentando descobrir como calcular média ponderada. Precisei ligar pro disk-matemática e sanar a dúvida! Funcionou. Descobri que tenho que pagar, sozinho, mais da metade das contas. Normal!

Bom, amanhã é dia de ser garçom, a partir das oito da manhã, já que estou de férias do curso... E terça, dia de ir pra Faixa de Gaza, fazer umas entrevistas com os brasileiros que moram em Gush Katif, a região que vai ser desmantelada até julho. Aliás, ótimo artigo a respeito saiu hoje no Jerusalem Post.

Tenho muita coisa pra contar, dos dias que passaram. Volto em breve pra fazer isso. Mas, se "em breve" for depois da semana que vem, fica aqui o meu desejo de Pessach Kasher vSameach a todos. Vai ser meu primeiro Pessach em Israel. Trabalhando, porque dinheiro é bom e eu também gosto.

Glossário
Mivtá é acento. Acento não, "sotaque". Acento é "sotaque" em espanhol...!

Chaval al ha zman, literalmente, é "perda de tempo". E eles disseram isso. Mas também é uma expressão pra dizer que uma coisa é muito boa ou muito ruim. Coisa de israelense...!
Disk-matemática é o meu pai, que desde que eu era pequeno e já odiava números salvava minha vida quando eu estava afogado entre eles

10.4.05

No momento não posso atender...
Já volto... Sei que ando meio ausente, mas a vida aqui complicou. Coisa de mais pra horas de menos no dia. E dias de menos na semana (e olha que a semana aqui começa no domingo, pra valer). Aliás, hoje é domingo, devia estar na aula.

Fui.

Depois do sinal deixe seu nome,
número de telefone, horário da
chamada e eu entro em contato
quando puder, se puder, claro...

3.4.05

(Vai sem acentos, nao estou em casa)
Dialogos imediatos dentro de um onibus
(Ou: de como as pessoas em Israel podem se meter em uma conversa sem terem sido chamadas e voltar ao silencio em menos de dez minutos)
A cena: meu pai e eu no onibus, falando em portugues sobre a facilidade de entender um ou outro idioma. Citamos o italiano, o frances. No momento seguinte um individuo sentado logo atras dele chama a atencao e pergunta, em hebraico, se meu pai tinha visto um filme frances cujo titulo me foge agora. Nao nos lembravamos de haver assistido, mas ficamos curiosos pela curiosidade do sujeito.

Ele explica, respondendo a pergunta do meu pai, que como nos ouviu falando frances, pensou que talvez conhecessemos o tal filme. Comentei, entao, ainda em hebraico, que nao estavamos falando frances. Antes de ter tempo de explicar que era a lingua de Camoes, uma outra mulher, ate entao so de olho no dialogo, se intrometeu: "eles estavam falando espanhol!"

Nao, nao eh espanhol, explicamos, mas portugues. Somos do Brasil, olim chadashim, o filho ha nove e o pai ha quatro meses no pais. Que bom hebraico voces tem! Obrigado. Aprendemos aqui mesmo... Bla, bla, bla. A mulher do palpite errado comeca entao a falar sobre o espanhol com a mocinha que sentava ate entao muda ao seu lado. Atras delas, uma outra garota, com olhar timido, tenta disfarcar o sorriso pela situacao.

Eu tento, tambem, mas nao consigo. Dou risada e provoco a risada da garota, que evita me olhar para, acredito eu, nao cair na gargalhada. Meu pai se vira para mim, ainda ouvindo elogios sobre o nosso hebraico, e eu rindo. Explico a ele, agora em portugues, que de repente o onibus todo parecia estar prestando atencao no nosso papo! Caimos os dois na risada!

Chega o ponto dele, ele desce. Eu continuo alguns mais. E, de novo, silencio la dentro. Tudo como antes... Sigo nao conseguindo segurar a risada pelo que passou. Mas parece que as pessoas ja nao se importam com o tema. Passou. Chega o meu ponto. Desco.

30.3.05

Disengagement e futebol
(Ou: Porque um pouco de política não faz mal a ninguém)
A manchete do Jerusalem Post de hoje, que eu recebi pelo celular logo cedo (bendita tecnologia!), era Knesset OK's budget 58-36. Bom entendedor entendeu que caiu, com isso, a última ameaça política ao plano do Sharon. Explico: se o orçamento não passasse, o Parlamento poderia ser dissolvido e o atual governo, derrubado.

Anteontem outra barreira cedeu: o plebiscito cuja aplicação procuravam fazer aprovar para que o povo votasse a favor ou contra o plano - temia-se que a votação pública acabasse deslegitimizando a idéia, já que Israel é uma democracia... Liberdade de expressão e democracia nem sempre são bons negócios - como por exemplo quando permitem manifestações infelizes, estúpidas e preconceituosas num contexto de jogos de futebol.

Não foi só de um lado. Antes da partida de hoje entre França e Israel, que elevou a seleção asiática nas eliminatórias para a Copa, o goleiro francês soltou a pérola de que o time dele não deveria visitar Israel por conta da situação política. Preconceito. Ele não disse que tinha medo. Foi diferente. Do outro lado, no jogo anterior, contra a Irlanda, o autor do gol do empate, um árabe-israelense, teve que ouvir da própria torcida gritos de "morte aos árabes"...

Quem diria que eu falaria um dia sobre esporte aqui no blog...! Enfim, uma vez não mata...! Afinal, já dizia um chefe meu, "contextualize"! Lá vai: por questão de segurança, Israel disputa as eliminatórias com os times europeus, apesar de estar em outro continente. Curiosamente, nos jogos contra as duas seleções mais fortes do grupo (Irlanda e França), dois árabes fizeram os gols dos empates isralenses por 1 a 1.

Por causa dos dois resultados, a seleção de Israel ocupa a liderança do grupo, ao lado da França, e tem grandes chances de ir para a Copa do Mundo, o que só ocorreu uma vez na história, em 1970 - quando, brasileiros que somos, sabemos que quem levou a taça não foi Israel! E tem outra: as duas partidas foram as primeiras que Israel sediou desde o início da intifada, em 2000.
Chega de falar... Se quiser ler mais a respeito de toda essa história, espia os links: o Ha'aretz conta o episódio da coletiva em que jornalistas israelenses foram tirar satisfação do goleiro francês, aqui. O mesmo jornal conta do jogo de hoje, aqui. O Jerusalem Post, aqui. Também o Jpost faz uma análise do "herói" (árabe-)israelense na disputa contra a Irlanda, aqui. O IsraelInsider fala da invasão da torcida verde irlandesa para o primeiro jogo, aqui.

Glossário
Disengagement é o nome que se deu em inglês para o plano de retirada de assentamentos, colonos e tropas israelenses da Faixa de Gaza e de uns quantos lugares da Cisjordânia, que deve ser colocado em prática a partir de julho.

Knesset OK's budget 58-36, Parlamento aprova orçamento por 58 (votos) a 36.
Intifada, palavra árabe, quer dizer "levante". É esse negócio que destruiu o turismo israelense, prejudicou a economia daqui, matou um monte de gente dos dois lados e, no final das contas, não levou ninguém a lugar nenhum. Quem sabe o disengagement leve...

Já ia me esquecendo... O glossário, "um glossário", agora está compilado!

26.3.05

Dando uma de Indiana Jones
Adorei a Jordânia. Petra é maravilhosa, com tesouros arqueológicos a cada dez metros. O jordaniano é muito gentil, prestativo - pelo menos os que eu conheci (o motorista do taxi, o guia que nos levou por Petra, um ou outro vendedor de bugigangas, os condutores dos burros que nos carregaram para o alto de uma montanha...). Tem foto.

Mas na Jordânia, onde tudo é muito caro, homem não pode mascar chiclete! "É coisa de mulherzinha". Quem disse (ou deu a entender) foi o taxista que nos levou da fronteira com Eilat, no sul de Israel, até Petra. Lembrei de quando visitei, em Haifa, os jardins Ba'hai - lá também não se podia mascar chiclete... Coisas culturais.

O fim de semana, emendado porque Purim caiu no meio, teve também praia no Mar Vermelho de Eilat, diante das montanhas jordanianas. E calor, porque de vez em quando precisa derreter o gelo. E teve uma coisa daquelas que só acontecem para virar post depois: perdemos o ônibus na parada para o banheiro, no meio do nada. Stress e depois risadas. Sempre é assim!

Estou de volta à maldita rotina... Eu que sempre quis fugir dela!

Bye, então
O lado amargo das despedidas (e despedidas têm apenas esse lado) é perceber que com o tempo para o momento de dizer "tchau" chegando, as coisas que não se disse já não podem mais ser ditas. E fica aquele vazio, aquela vontade de dizer montes de coisas que não encontram tempo para se pronunciar. Depois, mais vazio, as fotos, o cheiro, as lembranças. E a vida tem que continuar. Vou ter que tirar o Tom da minha playlist.

23.3.05

Tip
A experiência de garçom ensina que gorjeta é como reconhecimento "pelo conjunto da obra": não é só por um sorriso na hora certa, pela bebida que veio rápida e bem preparada, por um pedido estranho atendido como o cliente queria - é por tudo isso, e mais um monte de fatores reunidos.

Ou não, como diria o "do contra"! Já tive mais de uma vez a prova disso: dia desses estava começando a atender uma mesa quando uma mulher enfiou cem shekels (uns 25 dólares!) no meu bolso. Nem tinha dito "boa noite"! Depois, na mesma mesa me deram ainda mais dinheiro. Preciso dizer que atendi os caras com um sorriso estampado na cara? Não, né?

A experiência de garçom ensina também que tip é algo importante! Não apenas para estampar sorriso na cara do garçom e fazê-lo trabalhar com prazer, mas para reconhecer um bom serviço. E isso me faz lembrar de uma vez, no Brasil, em que, muito mal atendido, resolvi não deixar os dez por cento. O garçom saiu atrás de mim, discutindo. Quase recorri ao gerente!

Aqui dez por cento são doze, em geral. As contas, que, sem o serviço já não são baratas, ficam doze por cento mais caras. Em Israel garçom é trabalho de estudante. Por aqui muitos lugares pagam fixos irrisórios (não é o caso do hotel onde trabalho, mas há desses...) Por isso, tips são importantíssimos! Mas, como em qualquer lugar, precisa ser merecido!

Tov... Amanhã parto de Jerusalém com destino ao Mar Morto, de lá para Eilat (extremo sul do país) e de lá, para a fronteira com a Jordânia, de onde viajo para Petra, a cidade do último Indiana Jones... Na volta, se a câmera não cair na privada, fotos!

Em tempo: chag Purim sameach!

Glossário
Tov é bom. Como em português, por aqui também se costuma dizer "bom" assim como eu disse aqui! Como um well no inglês...!
Chag Purim sameach significa "feliz feriado de
Purim", que começa hoje.

22.3.05

Coexistência é a palavra
Sempre que se discute conflitos, fala-se em tolerância. Já dizia um amigo meu que não se deve tratar de tolerar, já que isso pressupõe aceitar algo de que não se gosta, como se um fardo fosse. Coexistir, então, é a melhor palavra. E, depois de visitar o Museum on the Seam, incrustrado em terras árabe-palestinas de Jerusalém, entendi que em Israel se coexiste, sim. Falta coexistir em paz. Só.

O museu merece uma salva de palmas. Por cada um de seus detalhes merece aplausos de pé. Começa pela localização escolhida: uma casa que serviu de posto de fronteira entre o que era a Jordânia e Israel, antes de 1967. O local, perto do temido portão de Damasco da Cidade Velha de Jerusalém, é cercado por elementos que, também eles, coexistem. Árabes que não sabem hebraico, policiais de fronteira, crianças de kfia e de kipá...

Depois da localização, e só depois, a exposição. Impecável. Montagens com imagens e palavras que dizem tudo. Como, por exemplo, a que revela outros conflitos onde também a coexistência é necessária - Berlin, Belfast, Johanesburg, Sarajevo. Ou a que sugere que "black and white are not opposites". Ou muitas outras, que valem muito a visita.

No fim, aquela sensação de "o que eu posso fazer, então?" E um livro, State of Siege - Users Manual, que eu não resisti e comprei. Páginas de imagens de atentados, manifestações, que eu ousei folhear no ônibus na volta para casa, sentado ao lado de uma mulher que esticava o pescoço para entender do que se tratava. Coexistência, minha senhora...

Sou ainda desses idealistas, sim. Como Teddy Kollek, ex-prefeito de Jerusalém, quero também afirmar que I still believe that we'll succeed in building a city where different cultures will be able to coexist.

Um PS para o passaporte
Chegou hoje, na porta de casa, minha teudat ma'avar, pré-passaporte. O documento, azul como o futuro passaporte, me torna mais israelense. Sou todo orgulho!

Glossário
Seam, traduzido do hebraico tefer, significa costura. O museu, chamado Museum on the Seam, fica sobre a linha que foi divisória, limítrofe. Costura, por isso, duas culturas. Ajuda a coexistir...

Black and white are not opposites, preto e branco não são opostos. Esse, para mim, é o resumo da exposição no museu. Não só preto e branco não são opostos, porque existem tons de cinza e cores entre um e outro, mas também não são opostos judeus e árabes, ortodoxos e laicos, homens e mulheres, esquerdistas e direitistas, você e eu.
State of Siege - Users Manual, estado de sítio - manual do usuário.
I still believe that we'll succeed in building a city where different cultures will be able to coexist, eu ainda acredito que conseguiremos construir uma cidade na qual diferentes culturas poderão coexistir. Eu também acredito.
Teudat ma'avar é permissão de passagem, algo assim. É o documento que me permite sair do país antes de completar um ano como cidadão daqui. Saio do país na próxima quinta-feira, que é feriado em Israel. Vou para Petra, na Jordânia. Viu Indiana Jones? Então sabe de onde estou falando!

19.3.05

Evacuar Gaza
O mais legal de participar da hafganá que rolou no fim do Shabat em Tel Aviv não foi só o estar lá, mas o fato de que eu estava com pessoas de alguma forma engajadas em política israelense, como eu. Gente que não necessariamente concorda com o tema manifestado, mas que tem cabeça aberta o suficiente pra caminhar ao lado de pessoas com idéias diferentes dando o ponto de vista delas. A pedidos, não vou citar nomes!

A manifestação foi a favor da saída dos colonos da Faixa de Gaza. O plano de desconexão, tradução literal de hitnatcut, prevê o desmantelamento de todos os assentamentos judaicos da Faixa de Gaza - em um local lindo de nome Gush Katif (que eu pretendo visitar na semana que vem)- e de outros quatro na Cisjordânia. Boa parte da população concorda com a saída, porque pode trazer uma nova esperança de paz com os palestinos...

Uma coisa muito curiosa dos israelenses é o que eu chamo de "cultura dos adesivos". Tão curiosa e tão característica que virou música do Hadag Nachash, grupo famosinho por aqui. Desculpe a quem não entende hebraico, não achei a letra em inglês...! Em resumo, a música desfila uma porção de adesivos que decoram carros, casas e cadernos, e o refrão avisa: "quanta merda podemos engolir".

Um adesivo que deram na passeata hoje faz um jogo de palavras, em hebraico. Abaixo de um bonequinho agachado como quem está, digamos assim, defecando, os dizeres: "se a situação está uma merda, é necessário lehitpanot". Ou seja, evacuar. O sentido político é evacuar (sair) de Gaza... O outro dispensa explicações!

A hafganá foi o fechamento do fim de semana que passamos, namorada e eu, em Tel Aviv, com direito a praia, sol, calor, almoço no Yotvata, caminhada pela Cidade Branca, passeio em Yafo, comida típica... Tenho que confessar que adoro praia, sim! Mas não para morar! Ainda prefiro viver entre as pedras de Jerusalém!

Shavua tov. Amanhã começa mais uma semana...!

Glossário
Hafganá é manifestação.
Hitnatcut é desconexão, desengajamento, saída. No Brasil, se eu não me engano, o termo usado é desocupação. Não gosto de me referir ao tema como "ocupação"...

Hadag Nachash é o nome do grupo que canta Shirat Sticker, que significa "música dos adesivos". O nome do grupo não tem qualquer sentido: "o peixe cobra".
Lehitpanot, verbo passivo, significa evacuar. Tem duplo sentido também em português!
Shavua tov significa boa semana.

18.3.05

Mais do mesmo?
Com o tempo as coisas que achamos surpreendentes, novas, as coisas que nos são inéditas vão se tornando comuns, diárias, rotineiras. Mesmo assim, diante de algumas delas, ainda nos surpreendemos. Assim é com os casamentos no hotel do kibutz onde trabalho como garçom, de vez em quando como segurança.

Todo dia, a mesma coisa: os convidados entram para a kabalat panim, conversam sobre temas amenos, beliscam comidinhas que trazemos e levamos. Depois, passam ao ulam, sentam-se às mesas e esperam os noivos, que a essa altura estão tradicionalmente no primeiro momento sozinhos.

A banda toca músicas leves, ninguém dança. De repente, tudo muda: os noivos aparecem, cercados de gente. Os convidados se levantam. Mulheres vão para um lado, homens para outro. E dançam, as mesmas danças de todos os dias. Mesmo a repetição emociona quem a vê todo dia.

Depois de dançar muito, em rodas noivo-centristas, o marido "busca" a esposa e a leva para a roda masculina. Sentam em cadeiras e são levantados pelos convidados. Muita animação. Sorrisos dos recém-casados e dos amigos e familiares.

E vem a primeira refeição, a outra, outra mais, bebidas, sorrisos dos garçons querendo tip, a sobremesa anunciada com luzes parecida às de fogos de artifício. Mais dança, mais conversas sobre amenidades, mais sorrisos de garçons.

A repetição infinita do mesmo.

Glossário
Kabalat panim é "recepção", onde a festa começa. Panim, a propósito, é a palavra para "cara", "rosto". Ulam é "salão" - não confundir com olam, que é "mundo". Tip, como no inglês, é "gorjeta".

14.3.05

De volta ao kibutz
O programa do fim de semana foi uma volta ao passado, em alguma medida: visitar o kibutz En Dor, onde morei em 2002 durante os seis meses mais decisivos da minha vida. E, lá, rever as pessoas que conviveram comigo. Muitas na mesma, paradas no tempo. Outras totalmente diferentes. O tempo passou...

A verdade é que a visita, dessa vez com a namorada, foi diferente da que fiz ano passado, sozinho. Não só pela namorada, mas porque dessa vez não fiquei com aquela impressão azeda de que a música tem razão ao dizer que nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia. Não será, isso é certo. Mas diferente pode ser melhor, nem sempre pior. Vi quem importa e quem se importa. E bastou.

Fim do shabat, hora de voltar pra capital, pra vida real. E de deixar pra trás, sabe-se lá por quanto tempo, de novo, aquele pedacinho de Israel que foi onde o amor por esse país começou a surgir, em meio ao cheiro de merda de vaca ao amanhecer e trabalhando no jardim alheio.

Demorou, mas me dei conta de que saudade não precisa ser só de pessoas ou de locais, mas também de um tempo que representou muito na vida da gente. Guardo En Dor no coração porque aqueles seis meses foram muito importantes pra mim. Decisivos, como eu disse. Talvez eu nunca estaria aqui hoje se não tivesse estado lá em 2002...

Glossário
Kibutz é uma comunidade basicamente agrícola em que vivem pessoas dentro de um sistema socialista. Essa definição não mais se aplica aos kibutzim atuais. Dos 270 existente em Israel com esse nome, os que realmente sobreviveram são sustentados pelo capitalismo! Os outros viraram grandes "bairros", apenas. E privatizaram tudo. En Dor é um exemplo da segunda categoria.

10.3.05

Nas asas de uma borboleta
Some people want to forget the past, some people want to change it
Change one thing; Change everything
Do you think we will be together forever?

Tudo isso de The butterfly effect, que eu preciso rever.

9.3.05

(De novo)
Careca
Vocês sabem que eu estou careca?

Careca
Voces sabem que eu estou careca? Espiem em http://www.fotolog.net/gabo_em_israel/?pid=9196016. Quando eu chegar em casa, acentuo e coloco os links como se deve. Agora estou na aula de computacao. E aqui nao tem acento. Um tedio so!

8.3.05

Sim, vivo
Quando você deixa de escrever e as pessoas reclamam, escrevem e até ligam, é bom sinal. Sinal, pelo menos, de que as pessoas lêem o que você escreve. E dia desses descobri novos leitores, na família! Gulp...!

A vida vai bem. Namorada por aqui, depois de oito meses longe. Estranho, até. Dá a sensação de que nos conhecemos no aeroporto, sexta-feira passada, e não três anos atrás. Estranho. Mas bom, muito bom!

Fora a namorada, estudo, estudo, estudo e insistir com a professora para não me baixar de sala. Ela quer, bate na tecla todo dia; eu sei que se baixar me desmotivo. Prometi me esforçar para acompanhar melhor a turma. Promessa difícil de cumprir!

E trabalho, quase nada. Deixei o Aroma de lado uns dias. Não dá para conciliar oito horas diárias de trabalho lá e o estudo que eu prometi para a professora. Impossível. Estou exausto e não é porque a namorada chegou!

Hoje estive em Gilo, bairro de Jerusalém com residências de luxo. Cercado por quase todos os lados por vilas árabes. Lá moram os donos do meu apê, um casal de velhinhos simpáticos. Fui pagar o aluguel, deixar os cheques até o final do ano.

No caminho, vi duas coisas que preferia saber que não existem, mas existem. Sou daqueles que não gostam de tapar o sol com a peneira. Numa placa trilíngüe de trânsito indicando direções, o árabe estava pichado e, por cima dele, a infeliz frase "morte aos árabes".

Menos fundamentalista e mais necessário e compreensível em dias de não-paz foi ver, mesmo assim triste e indignado, policiais de fronteira parando um micro-ônibus cheio de palestinos e revistando um por um. Será que vai chegar o dia em que não precisaremos mais disso tudo?