24.7.05

Sou uma puta
Andei buscando uma boa definição para o meu trabalho. Encontrei: sou uma puta. Explico...

Saio todas as noites de casa para trabalhar, durante a madrugada, em uma coisa que as pessoas odeiam - mas sem a qual o cliente não pode viver. Ganho bem, como as putas. Saio detonado do trabalho, de manhã, jurando para mim mesmo que vou parar. Só que na noite do mesmo dia já estou na lida de novo. Muitas das pessoas com quem eu lido durante o trabalho me maltratam, gritam comigo, dizem palavrões e me fazem ameaças. Mesmo assim eu falo com eles no melhor tom possível, mantendo a calma...

De vez em quando vou trabalhar de táxi (por estar atrasado e o táxi levar apenas cinco minutos em vez dos 40 do ônibus) - como as putas de luxo. Não trabalho na minha profissao mas continuo estudando (com a ajuda da grana que ganho) para poder sair dessa vida. E nunca saio. Outras pessoas usam o meu local de trabalho nos horários em que eu não estou trabalhando e eu não tenho a menor idéia de quem são essas pessoas.

Sou ou não uma puta?

13.7.05

Boom
Estava silencioso demais, como me disse o sujeito no carro ao lado. De repente, uma explosao, tres mortos, pelo menos 90 feridos. Em Netania, a cidade para a qual meu pai vai mudar em duas semanas. Depois conto a historia com mais detalhes - e conto como eu estava perto...

Lamentavel, o terrorismo esta' de volta.

5.7.05

Balanço: 1 ano
Meus bons amigos
Onde estão?
Notícias de todos
Quero saber...
Cada um
Fez sua vida
De forma diferente...


Tá. Um ano passou. Um ano desde que eu deixei o Brasil, mas eu não deixei o Brasil para sempre. E acordei hoje-ontem, com o celular trazendo para perto minha irmã, que ficou longe. Chorando feito bobo li e reli ela dizendo que me ama e que sente saudade de mim. Um ano passou.

Resolvi fazer o que gosto no 4 de julho do um ano. Quatro de julho de feriado nos EUA e de feriado para mim aqui. Ficar com amigos! E fiz isso a tarde toda, com os amigos novos, de um ano. Vimos SBT pela net, falamos português, comemos pizza com ketchup, rimos das piadas nossas. Relembramos o primeiro ano.

Resolvi ler alguma coisa. E li no Orkut os recados deixados por todas aquelas pessoas especiais dos últimos 26 anos. Gente que faz uma falta enorme, mas falta menor do que vai fazer em um ano. Deu saudade, chorei de novo, relembrei mais um pouco. Deu muita saudade.

Resolvi fazer um balanço. Nesse ano amei. Amei muito. Amei à distância e perto. Odiei, também. Menos. Menos do que amei e menos do que já odiei. Nesse ano aprendi. Aprendi sobre os outros, sobre outros idiomas, sobre outros países, sobre outras pessoas, sobre alegrias e sofrimentos que eu não conhecia.

Nesse ano cresci muito, embora tenha emagrecido um pouco! Ainda não aprendi a cozinhar, acho que a limpar a casa tampouco. Mas vou tentando... Assumi uma rotina e compromissos - o de aprender o hebraico, o de assinar um contrato, o de aparecer todas as madrugadas no trabalho. O de estar para os amigos que estão para mim.

Nesse ano li menos. Li menos porque não li em português. Senti falta do português e de poder me expressar como em português. Também me expressei menos. Também me entenderam menos. Também precisei manobrar outros idiomas - os que eu sabia e os que eu aprendo na marra - para dizer o que ia pela minha cabeça.

Nesse ano realizei um sonho. Troquei a ideologia por realização. Botei os pés e finquei a minha bandeira. Continuei me emocionando ao ouvir as músicas e as coisas que fortaleceram a ideologia. Mas me senti mais forte e até corajoso por estar realizando o que sonhei.

Nesse ano recebi elogios, patadas, cantadas, abraços, beijos. Descobri amigos que já não quero deixar, também. Recebi amigos que ficaram no Brasil e vieram visitar. Senti saudade dos que não vieram. Tentei convencer os que ficaram para que viessem. Descobri paixões que nem suspeitava entre quem ficou.

Nesse ano me embebedei, fiz merda, matei aula, matei trabalho, sumi de um trabalho, briguei por motivos idiotas, discuti política, gastei mais do que devia e fiquei no negativo no banco. Nesse ano chorei. Não sei se chorei mais. Mas chorei muito. Vai passar...

Nesse ano dancei forró que não era ao vivo, tomei Guaraná que não tinha comprado, caipirinha que não tinha cachaça, comi açaí sem gosto, feijão sem panela de pressão, pão de queijo de saco, pé-de-moleque de presente, farinha láctea importada, ouvi vozes em português pelo Skype.

Nesse ano conheci muita gente. Muita gente. Gente da França e da Argentina, dos EUA e da Rússia, da Etiópia e do Brasil, de Cuba e do Irã. Estive na Jordânia e no Egito...

Um ano passou.

3.7.05

Volta ao mundo
Já dizia Amyr Klink que "um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver".

Com esse espírito, minha amiga Lud vai embarcar ainda hoje com o Allan Vasconcellos para uma aventura maravilhosa - uma volta ao mundo! Como eu disse pra ela num email que acabei de mandar, eles estão realizando o sonho de muita gente (o meu entre elas!). Vão passar por quatro continentes. Do caralho! Lá no site eles vão contar cada pedaço da aventura! Sensacional. Fico aqui no meu mundinho acompanhando de longe! Lud, boas viagens!!