31.1.05

Os fatos como eles são
Tenho ido muito ao cinema, porque, como já contei, tenho um cartis manui, que custou uns 80 dólares mas que me permite ir quantas vezes quiser à Cinemateca daqui durante um ano. Há sempre filmes muito bons (a programação de fevereiro já chegou na minha casa, está excelente!). Dia desses, saindo de dois filmes (Diários de motocicleta e Family viewing), reparei por acaso em uma placa no começo de uma rua movimentada, a Emek Refaim ("vale dos fantasmas", em hebraico!).

Vi a placa de relance, mas voltei para observá-la melhor. Era uma placa de memória dos mortos em um pigua. Consegui ler a data (22 de fevereiro do ano passado) e o número da linha, 14. Fazia frio, não me detive muito tempo ali (e o hebraico ainda trava os meus neurônios para a leitura, confesso). Na caminhada de volta para casa, vim pensando em descobrir que atentado tinha sido esse. Entrei na internet e achei, na relação de piguim. Lendo a respeito, engoli a seco: o local fica muito próximo da minha casa. A linha 14 é a que eu pego sempre que vou ao centro.

O que mais me incomodou foi o fato de que eu estava em Israel quando aconteceu o atentado. E embora cada notícia de pigua me toque a fundo, a verdade é que não me lembrava dessa. Ela tinha passado despercebida, fria, distante. Mas a placa recordatória me obrigou a parar ali e ficar imaginando o cenário do ataque, reconstituindo cenas que não vi...

Não adianta tentar fazer de conta que não existe terrorismo, que não existe ameaça nas ruas de Israel. É claro que elas são bem diferentes (e mais raras) que a ameaça da violência de cidades como Rio e São Paulo. Mas ela existe, sim. Vivemos, hoje, um clima de tranqüilidade por aqui. Semana que vem Abbas e Sharon vão se encontrar. Sente-se o cheiro do otimismo preocupado. E o que virá ninguém sabe. Só se espera ver cada vez menos placas recordatórias espalhadas pela cidade.

Glossário
Cartis manui significa "assinatura". Literalmente, é cartão (cartis) de sócio (manui). É aquele pedaço de plástico mágico, que faz maravilhas...!

Pigua, palavra que nunca queremos ouvir no noticiário, significa "atentado". Piguim é o plural. Pior ainda de ouvir.
Pausa
Subir ao 49o. (e último) andar das torres Azrieli, em Tel Aviv, provavelmente o mais alto prédio visitável de Israel, pode ser um programa romântico, uma boa opção turística. Mas pode ser uma oportunidade de olhar lá pra baixo, do silêncio de lá de cima, e ver a loucura da correria, dos carros se enfileirando, das pessoas apressadas, dos semáforos mudando de cor incessantemente, do trem que vem e vai, dos ônibus parando a cada cem metros. E, em contraste, do Mediterrâneo tranqüilo no horizonte, jogando suas águas contra a orla do inverno telavivense.

Fiz isso hoje, e foi de fato uma oportunidade (*). Mesmo não sendo permitido - não deve ser! -, encostei a cabeça no vidro, olhei lá pra baixo (como o Ferry fez em Curtindo a vida adoidado!) e fiquei pensando na vida. Uma pausa, merecida pausa. Tel Aviv é cidade grande, em quase nada se diferencia de São Paulo. Tem, como notei hoje, até motoqueiros, amontoados nos sinais vermelhos. É uma loucura diferente da de Jerusalém, totalmente diferente. Outro mundo, outra temperatura, outras roupas, outras caras, outro ambiente.

E lá o sol se esconde no mar, escurecendo os prédios todos brancos e todos iguais. No escuro, a cidade branca fica ainda mais bonita. As luzes dos escritórios se acendem, as pistas se transformam em faixas brancas e vermelhas. E, chegada a hora de descer, volto para o caos organizado da cidade grande israelense. Quarenta e cinco minutos mais, estaria em Jerusalém...

(*) Glossário
Oportunidade, de acordo com o Minidicionário Aurélio que me acompanha desde a 6a. série B, é "ocasião oportuna". Oportuno, explica Aurélio, é "que vem a tempo, a propósito, apropriado". Não usei esse termo à toa!

30.1.05

Pátria amada, Brasil
Sinto uma estranha alegria ao ver, aqui em Jerusalém, algum brasileiro. Estranha porque não sou saudoso do Brasil, apenas das pessoas que lá ficaram. Mesmo assim, quando estou trabalhando ou apenas caminhando na rua e ouço o nosso idioma, fico em uma excitação bem inexplicável.

Aconteceu ontem, no trabalho. Já tinha ouvido o sotaque carioca em uma das mesas no café da manhã. Mãe e três filhos. Mas não disse nada. Quando reparei que uma das filhas estava na ponta do pé tentando pegar suco de uma máquina que temos lá, me aproximei e perguntei, em português, claro:

- Você quer suco?
- Quero.
- De laranja ou limão?
- Laranja.
(...)
- Obrigada.

Ela agradeceu, ainda - sinal de que é brasileira, mesmo (se fosse israelense, não teria pronunciado a última palavra!). Depois, na mesa, eu reparando de longe, comentou com a mãe que "um cara" foi ajudá-la no suco e falou com ela em português!! Foi a melhor parte. Passado um tempo me aproximei, perguntei se eram brasileiros e troquei meia dúzia de palavras...

Foi só o começo de mais nove horas de trabalho...

Gastronomia romântica
Fiz uma macarronada para comer hoje. Mas está faltando queijo no meu macarrão! Em 32 dias ele vai estar mais saboroso, tenho certeza!

28.1.05

Gabo, mas pode me chamar de Gabi!
Lancei mão de um artifício nos meus locais de trabalho: um apelido! Embora a maioria das pessoas com quem eu me relaciono aqui me conheça como Gabo, nos hotéis meu tag diz "Gabi". É mais fácil de dizer do que meu nome verdadeiro! Além disso, o apelido é carinhoso. Pessoas muito especiais, como minha mãe e minha namorada, sempre o usaram. E, quando alguém me dá uma bronca, ou me chama, só de ouvir o "Gabi", as coisas ficam melhores!!!

E agora, dá licença porque acabei de chegar do trabalho e preciso dormir. Amanhã às 6h30 da manhã a assahá passa para me pegar. Vida de peão é assim!

Glossário
Tag, como no inglês, é etiqueta. Em três dos quatro hotéis onde eu trabalho (Sheraton, Ramat Rachel e Har Tzion) usamos tags. Mas no Har Tzion, onde passei nove horas hoje (é bom, no Shabat pagam 150%!), a minha diz apenas "trainee"! Ainda vou ganhar o direito de ter um nome lá dentro...!

Assahá, que escrito assim, transliterado, fica horrível, significa "transporte". A tradução, na verdade, também é horrível! Ninguém diz "o transporte vai passar pra me pegar"! Por isso é um dos termos que enfiamos no português quando falamos, aqui! É intraduzível, embora a idéia seja essa! Na prática, é um carro, um táxi ou uma van, que leva pra casa e pro trabalho quando não tem ônibus (não circulam ônibus entre a tarde de sexta-feira e a noite de sábado em Israel!).

27.1.05

Fundamentalismos
Foi um dia de falar de fundamentalismos. Falar, ver, pensar. Eu conto: no trabalho, o Ramat Rachel de sempre, rolou um casamento. Como em muitos casamentos, houve convidados ortodoxos e, como manda a lei judaica, eles e elas se sentam separados. Na hafsaká, quando me encontrei com um dos garçons na cozinha, ele comentou que achava um absurdo as exigências que os caras faziam. Coisas do tipo "existe uma passagem até o banheiro [para que eu não precise andar no meio das mulheres]?" ou "os copos foram 'cozidos'?"

Como bem resumiu o Fabio, o garçom que me contou o absurdo, com tantos problemas no mundo, crise em Israel etc, como esses caras podem se preocupar com coisas tão banais? O que mais me chamou a atenção nisso foi ouvir essas palavras de um cara religioso. Se fosse um laico típico israelense (nem israelense ele é, na verdade é brasileiro!), eu acharia normal - os israelenses odeiam os ortodoxos por muitos motivos, e eu concordo com muitos deles, embora não odeie ninguém!

Outra coisa que também rolou hoje, ainda falando de fundamentalismos, foi ver um vídeo terrível da degola de prisioneiros do Nepal no Iraque. O fato ocorreu já faz tempo. Mas eu estava revendo meus emails quando resolvi abrir um link e ver as cenas, terríveis, chocantes. Pensei em colocar o link aqui, mas desisti. Não vale a pena, só faz virar o estômago. Fiquei com as cenas o tempo todo no trabalho, porque assisti antes de sair... Em vez delas, ponho aqui os comentários do Nahum a respeito.

E hoje foi dia de relembrar o aniversário de 60 anos da liberação do campo de extermínio de Auschwitz. A CNN, hoje, falou bastante do assunto. Prometeu passar um especial a respeito ainda hoje, mas eu não vi porque estava no trabalho. O que eu vi, à tarde, foi uma muito boa matéria com um sobrevivente, que voltou ao local com as câmeras da rede de TV ligadas. No link tem vários vídeos com sobreviventes. Enfim, mais do mesmo: lembrança de outro tipo de fundamentalismo...

E, assim, mais um dia se vai. Como o dia, estou acabado. Que mundo o nosso...!

Glossário
Hafsaká, essa palavra mágica, uma das primeiras que se aprende em Israel, significa intervalo. Tem a mesma raiz de maspik, que quer dizer "basta", "suficiente"! O legal do hebraico é ser uma língua lógica! Todas as palavras se relacionam através de raízes!

24.1.05

Trabalha, peão!
Hoje tive minha hora e meia de autoridade, no trabalho. Foi no mesmo hotel de quase sempre, o Ramat Rachel, que fica dentro de um kibutz, lindo. Só que hoje vesti um colete de bitachon e fiquei direcionando os carros para o estacionamento! A cada mão que eu levantava, um carro virava pro lado que eu queria, tão divertido!!!

Na festa, um casamento, tudo normal. Fiquei responsável por três meses, trinta pessoas. Já não tenho medo como no começo, converso com os convidados, entendo os pedidos feitos em hebraico e tenho desenvoltura no trabalho. [Se você conhece alguém que tem um hotel aqui em Israel, manda esse trecho pra ele, pode ser que eu arrume mais trabalho!]

O mais interessante, depois de tantos casamentos no currículo, é ter visto e poder entender um pouco da sociedade israelense por meio dos convidados, tipos sempre diferentes da festa anterior. Vez são ortodoxos, outra são laicos. Uns são sabras, outros imigrantes. Os sotaques são inúmeros. Tem os mizrachim, não muito amados, um pouco grosseiros. Tem de tudo. Pra quem acha que a sociedade israelense é homogênea, um soco no estômago dos preconceitos...

Limpa a casa todo dia, que agonia...
E amanhã é dia de faxina aqui em casa. As minhas shutafot fizeram uma escala na qual eu, que não participei da escolha, figuro em primeiro lugar, pra essa semana. Isso me deixou puto. Mas, como desde que eu mudei (faz mais de um mês) não fizemos faxina nenhuma vez, pelo menos vou poder dar uma geral e deixar a casa com cara de casa. O problema é que o cafofo de cafofo só tem o nome. É grande pra cacete! Quero ver se as shutafot vão conseguir manter a casa do jeito que vai ficar depois das minhas vassouradas!

Glossário
Kibutz, como eu sempre defino, é uma comunidade agrícola. Eles são 270 em Israel, surgiram pra defender o país antes de que Israel fosse um país e foram uma alternativa socialista de comunidade. Funcionou por um tempo, hoje só os ricos continuam de pé. Aqui explicam mais.

Bitachon é a palavra em hebraico para segurança. E é o que estava impresso (??????) no colete que eu usei nos meus noventa minutos de autoridade!

Sabra é uma fruta. O nome em hebraico é tzabar. É até marca de comida aqui. Nunca comi a tal fruta, sequer vi. Mas dita a lenda que é espinhosa por fora, doce por dentro. Como os israelenses. Por isso, quem nasce aqui recebe essa denominação. Alguns imigrantes viram autênticos sabras, contudo!

Mizrachi (lê-se "mizrarri"), literalmente é oriental. Como as duas grandes divisões do judaísmo são ashkenazim (do leste europeu) e sefaradim (da península Ibérica), nem se lembra dos mizrachim. Mas a verdade é que quem tem um pé no norte da África (meu caso, já que meu pai nasceu no Egito, ele mesmo), é mizrachi, não sefaradi.

Cafofo, palavra que não consta do Minidicionário Aurélio que eu trouxe do Brasil comigo, deve ser uma forma carinhosa de designar a casa (pequena casa) em que a gente mora. Eu uso essa palavra pra isso, pelo menos! Fui fuçar (bendita internet!) e achei as seguintes definições, no Houaiss:

substantivo masculino
1 buraco de alicerce de casa, muro ou outra construção
2 cova, sepultura
3 lugar onde os escravos ficavam guardados antes de serem vendidos
4 Regionalismo: Brasil. Uso: informal.
lugar onde se mora; casa, apartamento
Ex.: vivo num belo c.
5 Regionalismo: Brasil. Uso: informal.
lugar pouco conhecido; esconderijo
Ex.: arranjei um c. e vou sair de circulação
6 Regionalismo: Brasil. Uso: linguagem de delinqüentes.
nos presídios, buraco na parede onde se escondem armas e/ou drogas
7 Rubrica: aracnologia. Regionalismo: Brasil.
m.q. opilião

22.1.05

Vinte e seis
Completei 26 anos, marcando o início de uma nova fase da minha vida. E, para fazer curta uma longa história, completei vinte e seis em grande estilo, cercado de muitos amigos na nova terra! Saudade dos que ficaram, claro. Muita saudade. Alegria a cada telefonema, mensagem em blog, SMS, MSN, Orkut etc. Fiquei mais velho, de novo.

Vou colocar fotos, aviso quando. E depois conto com mais calma.

21.1.05

Pacto
Quando um menino judeu completa oito dias de vida, ele assina um pacto com a tradição judaica. A assinatura, passiva, na realidade, é o brit mila, a circuncisão. Hoje, trabalhando como garçom em um hotel novo, servi os convidados de uma cerimônia de brit mila. E lá, entre bandejas e a correria do trabalho, me emocionei na hora em que o bebê, tão pequeno, tão frágil, chorou, selando o pacto. Foi, de uma maneira especial e inédita, o meu presente de aniversário dado pela nova vida que a aliah representa! E como bem resumiu a Sofia, minha amiga mexicana, hoje é o último dia do meu primeiro quarto de século... Que medo!

Glossário
Literalmente, brit mila significa "palavra do pacto". Ou "pacto da palavra", nao sei bem!
Aqui está tudo bem explicadinho!

Aliah, para o caso de que algum dos meus três fiéis leitores ainda não saiba, é o nome que se dá à imigração de judeus a Israel. Literalmente significa "subida" - a subida espiritual em direção a Jerusalém!

20.1.05

Insônia
NIRA, MRS já tem passagem marcada. Está aberta a temporada de insônia por aqui... E em dois dias fico mais velho, de novo: 26.

18.1.05

Ralo de pia
Da série "morar sozinho é bom, mas dá um trabalho.."
Tem coisas que só os homens se metem a fazer, não tem jeito! Moro com três mulheres e se não fosse eu meter a chave-de-fenda no ralo da pia para descobrir a razão de tão lenta vazão, nenhuma delas o faria! O problema foi descobrir a tal razão! E o cheiro da razão...!

Conselho de quem mora sozinho: não deixe o ralo da pia desassistido por muito tempo!
Uma queda, oito anos atrás
Foi dessas coisas que mudam o rumo da gente. Caí - me desequilibrei, foi por isso. E me esborrachei quatro metros abaixo, braços tortos, mas sem dor. Sete meses depois, ainda fazendo fisioterapia... Nunca li tanto como naqueles dias de fisioterapia!

Por causa do acidente, incidente, atrasei meus 18 anos, atrasei o começo da faculdade... Muita coisa teria sido diferente, não tivesse sido aquilo? Não sei. Cheira a futurologia arriscar um palpite!

Fato é que, faz oito anos, hoje, que eu caí da varanda do que, naquela época, era o confortável quarto da minha confortável vida. Se teria sido diferente não quero arriscar. Mas quanta coisa mudou de lá pra cá...! Isso eh certo!

E com esse post voltam os acentos de outrora!

17.1.05

De volta
Turismo eh muito bom, especialmente em Israel, onde turistas podem se sentir em casa, encontrar informacoes atualizadas e seguras no idioma em que precisam, onde existe seguranca, ninguem rouba ninguem... Mas turismo, qualquer turismo (ainda que seja o mochileiro!), eh caro. Entao, depois de uma semana de mochileiro pelas principais atracoes de Israel, estou de volta a rotina.

Mas vale contar onde estivemos, meu primo e eu, nesses poucos dias. Passamos por Tel Aviv de dia, fomos a tres museus: o da Independencia, onde em 14 de maio Ben Gurion declarou o nascimento de Israel, o da Hagana e o do Irgun, dedicados ao grupos militares que dariam origem ao atual Exercito de Defesa de Israel.

No dia seguinte, de volta a Jerusalem (na verdade eu trabalhei na noite da quarta-feira, e tivemos que voltar correndo de Yafo, para onde tinhamos ido de novo, no claro!), fomos para a Cidadela de David, na entrada da Cidade Velha. Tive que voltar a tarde para o trabalho (nem tudo eh turismo!) e o Michel ficou passeando por Jerusalem. A noite, festa de inauguracao da "baia" do Carlinhos, Juliano e Fabio. E a chegada dos brasileiros, que eu ja contei!

Manha de sexta-feira nao perdemos tempo: acordamos cedo, tomamos onibus para o Mar Morto, o ponto mais baixo do planeta. O Michel entrou na agua e boiou. Eu nao tive coragem, estava com frio! Voltamos. Sof shavua ragua...

E no Brasil...
Luiz Inacio falou, Luiz Inacio avisou: ingles? Para que? Alem dessa, uma que vale a pena conferir eh a exposicao, na Estacao Pinacoteca, em Sampa, "Pergaminhos do Mar Morto - um legado para a Humanidade", pela primeira vez na America Latina. Fica ate o dia 27 de fevereiro (fone 3337-0185).

Glossario
Hagana, alem de ser o nome do museu, significa "defesa". O exercito israelense tem o nome de Tzahal, acronimo para Tzevet Hagana LeIsrael (exercito de defesa de Israel).

Sof shavua ragua significa "fim de semana calmo". Tinhamos direito a um fim de semana tranquilo depois de tantas idas e vindas pelo pais! E a verdade eh que nem fomos a tantos lugares como queriamos...! A proposito, sof shavua ragua eh a vinheta de fim de semana da Galgalatz, uma das radios mais populares aqui!

14.1.05

E eles chegaram!
Foi uma baita coincidencia! Estava passando com o meu primo perto do ulpan e resolvi entrar para ver se os brasileiros tinham chegado! E tinham!!! Estavam trancados dentro da van que os trouxe do aeroporto. E foi aquele festival de malas, duvidas, perguntas e tal...

Povo, seja bem-vindo!

11.1.05

Se anjos existem, eles moram em Israel
Depois de um dia super produtivo, mas cansativo como os dias produtivos sao, nos vimos em Bnei Brak, cidade de religiosos na regiao de Tel Aviv, sem onibus pra voltar pra casa. Casa, nesse caso, eh o local onde meu pai vive, em Raanana, nao muito longe de onde estavamos. Ja era quase meia noite, horario em que os onibus param de circular, quando um motorista de onibus nos ofereceu uma carona para um lugar de onde poderiamos pegar um transporte pra perto de casa. De graca.

Depois, no meio do caminho, um taxista concordou em cobrar menos grana quando eu disse que estavamos sem dinheiro. Nao estavamos, mas nao queriamos gastar mais do que a corrida valia. E o cara nos levou. Disse ainda que se estivessemos sem qualquer grana, nos levaria de graca! A viagem de 34 saiu por 25. Nenhuma grande pechinca, apenas um ato um tanto quanto nobre, raro de ver em grandes cidades, mesmo nas grandes cidades do receptivo e hospitaleiro Brasil.

Durante o dia, passeio pela cidade branca, Tel Aviv. A andanca incluiu visita de tres horas no Museu da Diaspora Judaica, dentro do campus da universidade de Tel Aviv, ao norte da cidade, no bairro de Ramat Aviv - cujo shopping tem o melhor falafel que se pode comer por aqui! Depois, passagem rapida pelo Dizengoff Center, shopping que leva o nome do primeiro prefeito de Tel Aviv. E a tentativa, frustrada, de subir no alto da Opera Tower, predio icone da costa telavivense que ja sediou a primeira Knesset (parlamento) do pais.

Para acabar o passeio, caminhada a tres (a Laura se juntou a nos) na deserta e escura Yafo. Eh a parte arabe e antiga da cidade, mais ao sul. Embora as principais atracoes estivessem fechadas, conseguimos ter uma bonita ideia do que eh a cidade. E ficamos de voltar amanha, no claro, para as fotos valerem a pena. Vale contar que fizemos uma parada no Pisgat HaGan, local de lendas romanticas. Dali, onibus ate Ramat Gan, para conhecer a casa da Laura. E de ca voltamos para o comeco dessa historia - que ja eh o final!

Amanha, os links e o glossario, que vai virar obrigatorio no blog! Estou muito cansado e amanha o dia comeca cedo. Meu primo gosta de me arrancar cedo da cama para comecar a caminhada. Certo ele! Pena que fica tao pouco!

10.1.05

Memoria, compras e armario novo
Com o Abbas eleito e o Hamas prometendo mais atentados, trocamos o cenario de ontem, tipicamente medio-oriental, por um passeio mais emocionante: Yad Vashem, o museu erguido em Israel para homenagear os mais de seis milhoes de judeus mortos no Holocausto e aqueles que fizeram algo para evitar que esse numero fosse ainda maior.

Do Yad Vashem, onde passamos boa parte do que foi a nossa manha (capotamos depois de sair para fumar narguila com amigos ontem!), passamos no shuk Machane Yehuda. La perto o Michel comprou uma mezuza.

E hoje chegou o meu armario, por isso voltamso mais cedo para casa. Meu quarto estah com mais cara de quarto! E eu descobri que as quatro portas que comprei sao insuficientes. Devia ter optado por seis! Pelo menos nao saiu caro.

Ainda vou escrever a respeito, com detalhes. Mas adianto que hoje tive a primeira reuniao extraordinaria com as minhas shutafot. A convivencia nao estah dificil. Mas pode ficar. Pequenas coisinhas...

Atendendo a pedidos, um glossario do post:
Hamas eh um dos grupos terroristas palestinos, que a midia internacional gosta de chamar de "ativistas"... Os membros sao responsaveis por uma porcao de ataques suicidas e pela morte de muitos israelenses. Ao lado do Hamas estao Fatah, Hezbollah (libanes) e outros...

Yad Vashem eh o nome do museu que eu contei. Significa "um nome e um lugar" (Isaias 56,5). O site, inaugurado recentemente, tem uma base de dados completa com o nome das vitimas. Vale a pena a visita.

Narguila eh, basicamente, um cachimbo de origem arabe oriental composto por um (ou varios) tubos flexivel e por um recipiente cheio de agua. Pode ser fumado com tabacos aromatizados. Ontem fumamos sabor morango.

Shuk eh, literalmente, mercado. Na pratica, eh um mercadao a ceu aberto. Em Jerusalem fica bem perto da estacao central de onibus. Vale a pena a visita, ainda que nao se compre nada, apenas para olhar. E tirar fotos, porque eh todo colorido.

Mezuza, em hebraico, significa "umbral". De acordo com a tradicao judaica, eh um pequeno rolo de pergaminho com duas passagens biblicas, manuscritas (Shema e Vehaia). Deve ser afixada no umbral direito da porta de cada dependencia de um lar ou estabelecimento judaico.

Shutafot eh o plural feminino de "shutaf", que significa, literalmente, socio. Contudo, a palavra designa quem divide apartamento, por exemplo. Ou a cama. No meu caso, dividimos apenas o apartamento. Mas quando voce usar a palavra, nao se esqueca de dizer que se trata de shutafot bait. So pela duvida!

9.1.05

Passeio pela Cidade Velha
Bairro judeu, bairro arabe, bairro armenio, bairro cristao. Via Dolorosa. Restaurantes arabes, doces arabes, o idioma arabe, kfia por todo lado. Sinagogas, mesquitas, Muro das Lamentacoes, Monte do Templo, mesquita Al-Aqsa. Busca desesperada por molochea. Falafel.

Caminhar, caminhar, caminhar...

Tudo isso em pleno dia de eleicoes na Autoridade Palestina!

7.1.05

Brazilait
Eu gosto das radios israelenses. Ja entendo muito melhor do que em outras epocas. Ouco e acompanho o noticiario a cada hora cheia. Dou risada de algumas piadas. Ja ate decorei os jingles das propagandas e refroes de musicas.

Mas nada como ouvir uma boa e velha radio de Sao Paulo.

Viva a internet.

E hoje chega o meu primo. E melhor amigo. Mais portugues, muito portugues.

5.1.05

Seis meses
Dia 6 em Israel. Seis meses atras, num seis de julho, cheguei aqui.

Shisha chodashim...!
O cachecol kfia
Ser parado pela policia em Israel nao eh para qualquer um. Eh privilegio de poucos. Poucos como eu, que tenho feicoes medio-orientais gracas as raizes no Egito. Mas acho que a culpa por eu ter sido parado e questionado ontem nao foi so da minha cara. Estava muito escuro, tarde da noite, muito frio. A culpa foi do cachecol. Eh, comprei um cachecol que, me dei conta ontem, parece uma kfia, aquele pedaco de pano que os arabes usam na cabeca. Parece pelas cores, mais nada. Ele eh um cachecol, como um cachecol deve ser! Mas fato eh que, me vendo passar, o motorista da viatura parou, deu marcha a re, embicou no estacionamento do predio onde eu estava entrando e devagarzinho emparelhou comigo. Travou-se entao o seguinte dialogo:

- Boa noite.
- Boa noite.
- Para onde voce estah indo?
- Para a casa de amigos, visita-los. (Eu ia mesmo, para buscar minha webcam!)
- Onde voce mora?
- Na rua Yehuda.
- Nao estah muito tarde para visitar amigos? (Era uma da manha, passada)
Levantar de ombros (o que eu ia dizer?)
- Voce tem teudat zeut?
- Sim (Tive vontade de dizer "Sim, claro, voce acha que sou louco de andar sem documentos?" Mas so disse "sim" e a carteirinha, nessa hora, saida da minha carteira, nao colaborou. Colou e nao queria abrir...!)
- Me da.
Dei, claro, para a mocinha, certamente mais nova que eu, sentada ao lado do motorista. Ele entao perguntou:
- Qual o numero?
Ela disse. Ele digitou no computador. Ficha limpa, claro. Me liberaram.

Depois, sai andando meio puto e meio indignado, feliz por ter mandado bem no hebraico. Mas o primeiro pensamento que tive virou um comentario, que fiz com o vento gelado e as arvores (a rua estava, sem brincadeira, deserta):
- Eh assim que eles conseguem manter a ordem...

Estou saindo agora. E vou com o cachecol kfia!

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Tsunami, semana e meia depois

Um sistema de alerta no Indico teria evitado completamente as mortes em Sri Lanka e na India, ja que na maioria dos casos a populacao precisava se deslocar apenas um quilometro para ficar a salvo.

Esse eh o pior aspecto do que aconteceu no sudeste da Asia. A cada dia ligo a TV na CNN e so vejo os numeros aumentarem. E aumentarem. Falaram em mil mortos no primeiro dia. E eu achei um absurdo. E hoje, semana e meia depois, ja se fala em 150 mil. Nao consigo imaginar essa multidao, o que esses numeros representam.

E ai, lendo a opiniao acima, de Bill McGuire, do Centro de Pesquisas Benfield Hazard, da Gra-Bretanha, a coisa toma esse aspecto mais cruel, mais triste. Aqui em Israel, tambem, nao se fala em outra coisa. E "apenas" quatro israelenses morreram la. Nas imagens da CNN vi voluntarios da Zaka por la...

Eh dificil falar do assunto. Delicado. Triste. Hoje, me deparei com essa noticia: Erupcao de vulcao provocara megatsunami na America. Vamos que vamos...

3.1.05

Micro, tenho micro!
Ainda estava sonado quando o telefone tocou, hoje de manha. Do outro lado, em hebraico, a mocinha da Office Depot anunciava que chegou, o meu micro chegou! Fui buscar, debaixo de chuva, muita chuva. E agora, tarde da noite, estou escrevendo meu primeiro post sentado na minha casa - molhado porque fui ate a locadora devolver o primeiro filme a que assisti aqui, Amores Perros.