30.4.05

E meu irmão está falando hebraico
Quinta-feira foi dia de visita da família. Meu pai, com a mulher e meu irmão de três anos vieram para Jerusalém, passar o dia (e uma noite, na qual acabei dormindo no sofá!). A maior surpresa, depois de quase um mês (ou terá sido mais?) sem ver meu irmão foi ouvi-lo pronunciando palavras em hebraico e entendendo muito!

Quem dera ter de novo três anos para aprender hebraico! Amanhã o chag acaba. Na segunda-feira volto à minha rotina normal, mas um pouco alterada, porque tenho trabalho novo. Estudo de manhã, jornal à tarde e trabalho de madrugada (entre 23h e 6h). Não sei ainda como vai ser...

Shabat Shalom.

Glossário
Chag é feriado

27.4.05

Amo muito tudo isso, também em Pessach
E quem disse que só porque é Pessach o McDonald's não pode funcionar? Pode sim, com o jeitinho típico daqui! A rede de fast food, em vez de fechar as portas como a maioria aqui em Israel fez, aproveitando o feriado para reformar, está oferecendo uma versão do McRoyal (e de outros sanduíches) sem pão. É a carne no prato, batata frita, salada e uma bebida.

Eu provei e aprovei. Só achei meio salgado - o preço. Mas a verdade é que comparado com o McRoyal usual (a versão chique e européia do Big Mac, crescido), não é tão caro. Para que se tenha uma idéia, um número um igualzinho ao do Brasil - Big Mac, batata e bebida - sai aqui por 8 dólares. Facada. Quanto sai o número um aí onde você mora?

Bom, pra quem não entendeu nada, uma explicação básica: nos dias entre o começo e o final de Pessach, chamados de Chol Hamoed, não se pode comer, basicamente, pão (e o que é levedado). Cada linha dentro do judaísmo tem suas regras específicas - e ontem descobri que cada ascendência diferente pode significar novas regras.

O que acaba acontecendo é que no período de Chol Hamoed os restaurantes que oferecem refeições servidas basicamente com pão (como redes de fast food e locais de falafel, shwarma etc) fecham as portas. Alguns oferecem as refeições em matzá, o "pão ázimo", a bolacha de Pessach. Mas é uma trabalheira comer um falafel esmagado entre duas matzot!

Glossário
Em breve.

24.4.05

Chag Sameach
Ou: do meu primeiro Pessach em Israel
Saiu um papo, dias antes do feriado, de que nos pagariam 40 shkalim pela hora (em vez de 19, como em dias normais) pelo trabalho nos dias de Pessach. Nos animamos, fazendo as contas: três dias de trabalho poderiam pagar o aluguel do mês.

A realidade acabou sendo bem outra: apenas 150% do normal, algo em torno de 28 shkalim. Nada mal, também, mas bem longe de completar um aluguel. Mesmo assim, topamos. E eis que no primeiro dia de trabalho, sexta-feira à noite, começamos a nos arrepender: o que, afinal, estávamos fazendo ali, tendo recebido tantos convites para passar a noite de Pessach com amigos, família etc?

Como trabalhadores organizados, resolvemos que no sábado, ontem, faríamos à nossa moda. Como era noite de seder, decidimos que usaríamos kipá. E assim fizemos. Achei exatamente quatro kipot (éramos quatro judeus!) e desfilamos com elas pela cozinha e pelo salão, sob olhares indignados dos colegas árabes.

Depois de servir a sobremesa, nós quatro (três brasileiros e um argentino) decidimos fazer o nosso seder de Pessach. Completo, diga-se de passagem! Comemos bem e de tudo, sem nem perguntar se poderíamos. Afinal, noite de seder é noite de seder: só uma vez por ano! Pena que não tínhamos câmera na hora - ia dar boas fotos!

Fato é que depois do seder nós voltamos ao trabalho. E ficamos lá até três da manhã, arrumando o salão para o dia seguinte. Voltamos à escravidão...!!! Por isso, está declarado: be shaná abaá be Yerushalaim, aval lo ba avodá! (ano que vem em Jerusalém, mas não trabalhando!)

Pessach Sameach!

Glossário
Chag Sameach significa "feriado feliz", "boa festa", algo assim!

Pessach, a Páscoa judaica, é o feriado da liberdade, que marca a saída dos judeus da escravidão no Egito. Para saber mais, entra aqui
Shekel (plural shkalim) é a moeda israelense. Na realidade, chama-se Novo Shekel Israelense, NIS na sigla em inglês, Shekel Chadash em hebraico. "Novo" porque foi adotado depois de uma reforma na economia israelense na década de oitenta. Reforma, aliás, que funcionou. O shekel vale um quarto de dólar, mais ou menos. Dezoito shkalim é o piso pago por hora em Israel. São mais ou menos quatro dólares e meio.
Seder significa "ordem". Ha Kol Beseder, como respondemos à pergunta "como você está", significa tudo bem, tudo em ordem. Mas seder, aqui, se refere à ordem da noite de Pessach, em que lemos a hagadá (lenda, literalmente) e relembramos a saída do povo judeu do Egito.
Kipá, hebraico para "solidéu" (alguém sabe o que é "solidéu"?) é o que os judeus (e o papa!) usam na cabeça.

19.4.05

De volta
Duas linhas só para avisar que estou de volta da Faixa de Gaza, onde passei o dia com outros correspondentes internacionais e muitas histórias. Conto mais quando tiver menos cansado. Ops, três linhas.

18.4.05

Enquanto isso, no MSN
(Ou: como ser mais esnobe do que um brasileiro esnobe)

Ele: Quinta feira é Tiradentes no Brasil, vocês têm algum dentista famoso a ponto de poder folgar? hehehehehehe

Eu: Ha! Nós temos DUAS SEMANAS de folga aqui, por causa de um sujeito que atravessou o oceano... Vocês têm isso por ai?!

Ele: É, mas nós temos uma semana de balada no começo do ano por motivo nenhum. Vocês tem isso aí?

Eu: A gente tem uma semana sem fazer nada e ainda podendo dormir em barracas no meio do ano!

Ele: Silêncio.

17.4.05

Sotaques...
Quando entrei na loja e ela estava no telefone, senti que algo naquele mivtá era comum. Não dei importância e continuei atrás do que eu estava procurando. Achei, negociei, pedi desconto, pedi um modelo diferente. Tudo em hebraico, claro. Quando ia pagar, reparei numa bandeira do Brasil colada no caixa! Ela é brasileira, carioca, de Niterói, 40 anos em Israel. Mesmo assim, ficou o sotaque (gulp!)

Papo vai, papo vem, ela e o marido, israelense, me disseram que com o meu hebraico, chaval al ha zman eu continuar estudando. Ri um riso convencido e no instante seguinte lembrei das conjugações verbais que não entram na minha cabeça, da falta de vocabulário etc etc etc. E disse a eles que me falta muito, ainda. Eu sei que falta...

E hoje foi dia de fazer as contas da casa com as shutafot, que já voltaram da Argentina. Terrível. Não as shutafot, mas as contas. Três idiotas tentando descobrir como calcular média ponderada. Precisei ligar pro disk-matemática e sanar a dúvida! Funcionou. Descobri que tenho que pagar, sozinho, mais da metade das contas. Normal!

Bom, amanhã é dia de ser garçom, a partir das oito da manhã, já que estou de férias do curso... E terça, dia de ir pra Faixa de Gaza, fazer umas entrevistas com os brasileiros que moram em Gush Katif, a região que vai ser desmantelada até julho. Aliás, ótimo artigo a respeito saiu hoje no Jerusalem Post.

Tenho muita coisa pra contar, dos dias que passaram. Volto em breve pra fazer isso. Mas, se "em breve" for depois da semana que vem, fica aqui o meu desejo de Pessach Kasher vSameach a todos. Vai ser meu primeiro Pessach em Israel. Trabalhando, porque dinheiro é bom e eu também gosto.

Glossário
Mivtá é acento. Acento não, "sotaque". Acento é "sotaque" em espanhol...!

Chaval al ha zman, literalmente, é "perda de tempo". E eles disseram isso. Mas também é uma expressão pra dizer que uma coisa é muito boa ou muito ruim. Coisa de israelense...!
Disk-matemática é o meu pai, que desde que eu era pequeno e já odiava números salvava minha vida quando eu estava afogado entre eles

10.4.05

No momento não posso atender...
Já volto... Sei que ando meio ausente, mas a vida aqui complicou. Coisa de mais pra horas de menos no dia. E dias de menos na semana (e olha que a semana aqui começa no domingo, pra valer). Aliás, hoje é domingo, devia estar na aula.

Fui.

Depois do sinal deixe seu nome,
número de telefone, horário da
chamada e eu entro em contato
quando puder, se puder, claro...

3.4.05

(Vai sem acentos, nao estou em casa)
Dialogos imediatos dentro de um onibus
(Ou: de como as pessoas em Israel podem se meter em uma conversa sem terem sido chamadas e voltar ao silencio em menos de dez minutos)
A cena: meu pai e eu no onibus, falando em portugues sobre a facilidade de entender um ou outro idioma. Citamos o italiano, o frances. No momento seguinte um individuo sentado logo atras dele chama a atencao e pergunta, em hebraico, se meu pai tinha visto um filme frances cujo titulo me foge agora. Nao nos lembravamos de haver assistido, mas ficamos curiosos pela curiosidade do sujeito.

Ele explica, respondendo a pergunta do meu pai, que como nos ouviu falando frances, pensou que talvez conhecessemos o tal filme. Comentei, entao, ainda em hebraico, que nao estavamos falando frances. Antes de ter tempo de explicar que era a lingua de Camoes, uma outra mulher, ate entao so de olho no dialogo, se intrometeu: "eles estavam falando espanhol!"

Nao, nao eh espanhol, explicamos, mas portugues. Somos do Brasil, olim chadashim, o filho ha nove e o pai ha quatro meses no pais. Que bom hebraico voces tem! Obrigado. Aprendemos aqui mesmo... Bla, bla, bla. A mulher do palpite errado comeca entao a falar sobre o espanhol com a mocinha que sentava ate entao muda ao seu lado. Atras delas, uma outra garota, com olhar timido, tenta disfarcar o sorriso pela situacao.

Eu tento, tambem, mas nao consigo. Dou risada e provoco a risada da garota, que evita me olhar para, acredito eu, nao cair na gargalhada. Meu pai se vira para mim, ainda ouvindo elogios sobre o nosso hebraico, e eu rindo. Explico a ele, agora em portugues, que de repente o onibus todo parecia estar prestando atencao no nosso papo! Caimos os dois na risada!

Chega o ponto dele, ele desce. Eu continuo alguns mais. E, de novo, silencio la dentro. Tudo como antes... Sigo nao conseguindo segurar a risada pelo que passou. Mas parece que as pessoas ja nao se importam com o tema. Passou. Chega o meu ponto. Desco.