21.6.05

Histórias de ônibus
O sistema de transporte em Israel até que é bem eficiente. O tamanho reduzido do país e das distâncias ajuda, sem dúvida. Os passageiros é que por aqui não são muito eficientes. A entrada no ônibus pode ser uma briga de cotovelos que pode durar até quinze minutos em um parada em horário de pico.

Como ontem. Entrei no ônibus, falafel numa mão e cartão chofshi chodshi na outra, em meio a um monte de gente. Logo na primeira fileira uma velha de pé brigava com um velho sentado que, não acreditei, não concordou em deixá-la sentar na cadeira ao lado, que ele usava para acomodar o carrinho de feira vazio e dobrado.

Num determinado momento, sem desistir da idéia de sentar ali, a velha disse num tom tão didático que humilhou o velho: "isso é transporte público, serve para ortodoxos, laicos, árabes, pra todo mundo... Se você quer conforto, vá pegar um táxi". Deu vontade de aplaudir a velhinha, mas aprendi que aqui não vale a pena comprar briga dos outros. Até porque ela ganhou a parada e sentou lá.

Hoje outra cena memorável. Indo para o jornal reparei na menina que fazia a segurança da parada(*) - ela mesma de parar o trânsito, linda, linda. Em geral esses seguranças abordam os suspeitos para tentar ouvir um sotaque árabe demais ou descobrir algo que os menos atentos deixam passar. Pois bem, a menina abordou um sujeito (que até eu, leigo, dei por suspeito) e o cara fingia que não era com ele...

Dessa vez deu vontade de comprar a briga, mas não me esqueci da lição aprendida. Fiquei na minha. O ônibus 8, o meu, chegou e o cara subiu. Eu deixei passar. Aproveitei para puxar papo com a segurança, dizendo como o sujeito tinha sido ousado. Ela, seca, respondeu que faltou educação em casa. Concordei e vi na feição dela a preocupação por ter deixado o cara tomar o oito.

E enquanto esperava o outro 8, que demorou, ia dando meu lugar no banco do ponto para um velhinho quando ele disse: "fica, meu filho, tem lugar para todo o povo aqui", usando a palavra hebraica "am". Foi a frase do dia! Dei risada, sentando de volta ao lado dele, e ele retribuiu. Histórias de ônibus...

Glossário
Chofshi chodshi, que literalmente signfica "mensal livre", é o nome do cartão que se compra mensalmente para andar livremente de ônibus. É mais ou menos como ser o personagem de Carne Trêmula, de Almodovar, mas com a necessidade de renovar o direito mediante pagamento a cada trinta dias, em média!

(*) As principais e mais movimentadas paradas de ônibus em Israel têm seguranças vestidos com um unforme transado e - sempre - óculos escuros. A idéia é não deixar um indivíduo suspeito tomar o ônibus. Mas na verdade o efeito é muito mais psicológico (a população fica tranqüila ao saber que vai sendo cuidada) do que prático.

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