31.12.04

E no Oriente Medio ja eh 2005!!!
Passamos o ano assim: depois de eu ter trabalhado, vim correndo para a casa de um amigo. Estamos em cinco, os que sobraram: um chileno, um argentino e tres brasucas. A meia-noite, um brinde, outro, outro mais, palavras desejando sorte na nova vida em Israel, musica da MTV. Estamos em dois mil e cinco, enfim!

Feliz ano novo!

27.12.04

Orkut, essa maravilha
Faz um tempinho ja que estou no Orkut, essa maravilha. Quando entrei, desconfiado, nao demorei a gostar. Mas demorei, isso sim, pra achar utilidade na brincadeira, que agora ja tem dezenas de copias que nao vao pegar! Conto. Entre as doze fotos que permitem colocar, duas eram das antigas. Em uma delas apareco com a Leticia (nao deviamos ter mais de 8, 9 anos) em uma festa do colegio...

E eis que, tempos depois, a Leticia, que hoje estuda medicina em Madrid, me achou! Achou, achou a foto, mandou mensagem e eu morro de dar risada toda vez que chega algo dela, quase todo dia. Ou da Karina, por quem estive loucamente apaixonado quando nao sabia ainda o que era estar loucamente apaixonado. A Karina tambem mora em Madrid. O Fernando, um dos meus melhores amigos do colegio, e a Graziela, com quem vivia discutindo, tambem me acharam!

Hoje estamos, Leticia, Karina e eu, combinando de, quem sabe, fazer um reencontro ca ou la. Passear os tres, e quem mais quiser, pela Ben Yehuda ou pela Plaza de Mayo. Comer uma tortilla ou um falafel. E rir, porque precisamos rir, lembrando daquela infancia, de 12 anos atras, das brigas, das provas, dos professores... Tudo, e mesmo que nao seja nada disso ja tera sido bastante, gracas ao Orkut, essa maravilha!
Tour em zona A
Estive na semana passada na cidade de Kalkilia, arabe. Nao na cidade, mas perto o suficiente para diferenciar telhados de domos. E perto o bastante para ver a cerca de seguranca que vai sendo construida pela Cisjordania. E estive com outros jornalistas, um alemao e um suico, ciceroneados, nos tres, por representantes do porta-voz do Exercito israelense. Uma coletiva de imprensa, por assim dizer.

Depois de conhecer de perto a cerca - que so em 5 por cento do seu trecho eh muro, por representar ameaca para estradas - fomos para um checkpoint. Trata-se, para quem nao ve CNN, de um ponto de passagem e checagem entre o que um dia serah o Estado palestino e a atual Israel. Quem sai nao eh checado, quem entra sim, naturalmente. Vai-e-vem normal, como em um pedagio, como em uma portaria. Documentos, perguntas, revistas.

O passeio terminou na central de inteligencia da cerca de seguranca. Por fora parece um acampamento improvisado. Por dentro, computadores e cameras vigiam cada centimetro de seus muitos quilometros. Sensores posicionados na cerca avisam se alguem a tocou, se apoiou algum peso, se tentou escala-la, se tentou corta-la. Diante dos computadores, como se fossem criancas jogando algum game de ultima geracao, jovens soldados, mais jovens que eu.

Na volta, o jornalista alemao, que estava de carro, me deixou em Kfar Saba. A distancia entre Kalkilia e a cidade israelense eh assustadoramente pequena. Tao pequena que, sem a cerca, um terrorista poderia chegar ate la a pe em meia hora. Nao eh um exemplo retorico. O suicida que matou mais de vinte jovens em junho de 2001 em uma danceteria na praia saiu de Kalkilia. Andou ate um cruzamento, que fica do lado de ca da cerca (na epoca inexistente) e tomou um taxi para Tel Aviv. Ele nao foi o unico.

23.12.04

Um pneu furado
Dia desses, indo para o supermercado (sim, agora eu vou ao supermercado, sejam bem vindos a minha vida real de israelense normal!), uma mulher estava plantada ao lado do carro dela, que tinha um pneu furado, triangulo na mao. Nao sabia o que fazer. Pediu ajuda. Dani e eu, que nao somos letrados em hebraico mas nos viramos com pneus, fizemos o servico. Tudo correu bem.

Depois do pneu trocado, os agradecimentos. Disse ela que nao tinha palavras para agradecer a mitzva (boa acao) que tinhamos feito. Que "muito obrigado", "voces sao uns anjos", "voces vieram do ceu", bla, bla, bla. Um exagerado desfile de agradecimentos. Nao precisava, serio. Como disse o Dani, uns trocados ajudariam mais. Brincadeira! Eu nao teria aceitado!

E isso me faz lembrar de como eh engracado, as vezes, viver aqui em Israel. Nao sei se contei e estou com preguica de espiar (ou "espionar", como contou uma amiga que faz!) no blog. Mas antes de achar ape, num ponto de onibus, uma mulher puxou papo, me deu pedacos do jornal que acabara de comprar, conselhos e o numero do telefone. Como se fossemos velhos conhecidos. Nos cruzamos mais algumas vezes...

Outra, sentado no onibus voltando pra casa, tentando me concentrar para ler a descricao do celular que quero comprar, uma senhora, sentada ao meu lado, puxa papo. "Voce pode escrever uma coisa pra mim?", perguntou sem saber que de hebraico nao manjo muito. Expliquei e ela entao quis saber de onde vim, o que faco, porque cargas d'agua fiz aliah etc. E nao acreditou que eu tivesse mais que 18 anos! Depois, deu dica do melhor ponto pra descer, uma bronca por nao ter tomado o onibus que passa mais perto de casa... Como se fossemos velhos conhecidos!

E a vida vai! Sempre que podem, os israelenses se metem na vida uns dos outros, mas com boas intencoes, pra ajudar. Se voce pergunta em uma parada de onibus que linha vai pra tal lugar, todos que estao ali vao te dar alguma dica. Geralmente sao todas diferentes, vai de voce escolher uma! Um barato, uma piada!

Uma coisa doida eh que aqui em Israel, sem Natal, sem clima de fim de ano, sem propagandas na TV para vender tudo que se pode, nao se sente que mais um ano vai, outro ano vem. Mas ja eh quase 2005. Entao, um bom Natal, um feliz ano novo a todos!

16.12.04

Mudanca...
Etmol haia tov
Ve ihie gam machar...


Quando ouvi essa musica, ontem, depois de carregar minha bagagem, estava detonado de cansaco. Fui dormir tarde anteontem porque trabalhei ate uma da manha no hotel de um kibutz aqui perto. Fazia frio e a cozinha ficava separada do salao de festas. Conclusao: dor de garganta e sumico da voz!

E ontem era o dia 15 de dezembro, o fatidico dia da mudanca. Depois de ajudar metade da galera a carregar malas, acomodar nos porta-malas dos onibus (nunca pensei que onibus pudessem ter porta-malas pequenos!), subir moveis na casa de amigos, fui enxotado do ulpan, e descobri que as minhas shutafot nao estavam em casa. Tive que deixar tudo no deposito da casa de um amigo...

Final da historia: fiquei sem lenco nem documento, sem mala nem blusa... E so depois de cinco horas as meninas voltaram para o ape. Vieram me buscar (eh uma boa ter shutafot com carro!) e fomos assinar o contrato, pagar a primeira parcela do aluguel...! La se foram duzentas pilas!

No final da noite, passei duas horas arrumando meu quarto, deixando os 9,61 metros quadrados em que vou viver pelos proximos doze meses com a minha cara. Foi assim: gripado, cansado, num dia frio e chuvoso. Mas agora tenho a minha casa, o meu quarto, as minhas chaves...! Nada se compara a essa sensacao!

13.12.04

Passei!
Brigamos, batemos o pe e conseguimos trazer para Jerusalem o programa Taka, realizado burramente em Ashkelon, cidade que de bom so tem a praia... E entao marcaram uma prova, que fizemos na semana passada... E (acabei de saber!) eu passei! Tirei incriveis oitenta e seis!! Bom, eh o primeiro passo em direcao aos meus estudos de mestrado em Relacoes Internacionais...

12.12.04

Estava demorando...
Mais um atentado (Haaretz, CNN), depois de uma longa mas estranha calmaria em Israel. O que mais me irrita eh o fato de que, como sempre, o mundo vai fechar os olhos para mais esse ato brutal. Quando cheguei aqui, onde estou, uma imagem projetada na parede mostrava um palestino mascarado sendo entrevistado por um jornalista de uma TV arabe. Nao entendi tudo o que disse, porque falou em arabe, mas mencionou o nome do Arafat. Na traducao para o ingles, que li agora, entendi:

A Palestinian militant giving his name only as Abu Majad said the blast in the 250-meter tunnel was retaliation for what he called "the assassination" of Yasser Arafat, who died on November 11.

Cacete, que assassinato? O homem morreu de velho e doente. Mas o mundo, eh claro, nao vai dizer nada... Do lado de Israel, continuam as negociacoes para a formacao de um governo de coalizao que poderah garantir a manutencao do plano de desconexao. So aqui um primeiro-ministro de direita pede a um lider de esquerda para entrar no governo - porque ele sabe que so assim poderah manter-se no poder...

Vamos ver no que da...

7.12.04

Eh Chanuka!
Chag sameach ve mair.... Para as rezas, clica!

Em tempo, uma que merece entrar na lista de coisas que so acontecem em Israel. Estava ontem com amigos no kanion Adar, um shopping center pequenininho aqui perto, quando acenderam a primeira vela de Chanuka. De repente, a praca de alimentacao do lugar "parou" para ouvir as rezas e para, ao final, dizer em coro: Amen! Arrepiante! (Esqueci de contar ontem, mas encaixo aqui!).

5.12.04

Cobertor
Dia desses comprei um cobertor. Maravilhoso, diga-se de passagem. Mas, depois de comprar, pagar, colocar na minha cama e dormir umas noites, me dei conta: po, nunca comprei eu mesmo um cobertor antes! Que coisa! Estou virando gente grande!

Filosofia (barata) do dia:
Amadurecer eh comprar pra si mesmo um cobertor.

E tenho dito, ainda sem apartamento e sem cama propria... (mas pelo menos com um otimo cobertor!).

2.12.04

Pagando bem...?
Eh uma maxima, nao tem jeito. Ontem, repetimos mil vezes a frase Tem coisas que so acontecem mesmo aqui na Terrinha! Estavamos em um centro de estudantes que fica ao lado da Universidade Hebraica de Jerusalem, localizada no mais alto monte da cidade (chamado, por isso, de Har Hatzofim). Um lugar lindo, em resumo.

E, como se nao bastasse isso, ainda tem mais: fomos para nos inscrever em um curso de religiao. Funciona assim: vamos ate la, assistimos a duas palestras semanais, comemos e bebemos do bom e do melhor (pizza, sushi, churrasco...), e no fim de tres meses recebemos trezentos dolares. Sim, recebemos! E ainda, na casa, uma especie de Beit Hillel, tem internet, lavanderia, sinuca e varias coisas pra fazer...

Tem coisas que so acontecem mesmo aqui na Terrinha!

Tashlumim
Comprei um laptop, como contei de passagem em um dos posts abaixo... Nao poderia perder a promocao, oferecida aqui para estudantes: voce abre uma conta no Bank Mizrachi, vai ate uma loja da Office Depot e recebe o micro, um HP que vale pelo menos 450 dolares mais do que pagou! E, o melhor de tudo, o banco financia o notebook em 40 tashlumim (parcelas), sem juros! Agora so falta o micro chegar - preciso esperar um mes, mais ou menos!

Vergonha
Li na Folha que hoje o Tribunal de Justica de Sao Paulo deve julgar o caso da explosao no Osasco Plaza Shopping, que aconteceu em 1996, oito anos atras e deixou 42 mortos. Que vergonha esse pais...

1.12.04

Tchau
O ulpan Etzion estah parecendo, como comentamos esses dias, a casa do Big Brother... A cada dia um eh eliminado, vai embora. Estou na sala de laptops (o que eu comprei ainda nao chegou, mas estou usando um emprestado!) pesquisando informacoes para uma entrevista que farei logo mais tarde, hoje, em Tel Aviv.

E fiquei emocionado, agora, vendo duas garotas, que dividiram um quarto nos ultimos cinco meses, se despedindo. Uma eh francesa; a outra, russa... A francesa vai embora do ulpan. Vai ficar, como a maioria de nos, em Israel, nesse pais pequenininho. Mesmo assim, fica a sensacao de que nao vamos rever mais as pessoas...

Inevitavel citar o filosofo Lulu Santos, que cantava que nada do que foi serah de novo do jeito que ja foi um dia...