11.5.03

Uma bela entrevista
Na 'Trip' de maio, o corpo e a frase da Lavínia VlasakMuito boa a entrevista de José Hamilton Ribeiro, para a Trip deste mês. Confesso que olhei a revista na banca por causa da foto da Lavínia Vlasak (autora da frase e dona das curvas ao lado) na capa. Mas decidi comprar mesmo por causa da chamada para a entrevista com o jornalista, o "repórter-mito da imprensa brasileira", como a matéria do Paulo Lima, um dos meus ídolos (eu acho!), descreveu.

O texto começa com uma lição de vida. O original da reportagem de Zé Hamilton para a Realidade, a melhor revista que o Brasil já teve, conta o momento da explosão da mina que lhe arrancou a perna, durante a cobertura da guerra do Vietnã em 1968. A primeira reação do repórter, atingido, foi a de perguntar, em meio à fumaça, se o soldado destacado para acompanhá-lo, se ele estava bem. Nos capítulos seguintes da reportagem de Ribeiro, que saiu na Realidade, ele narra como as pessoas, afinal, mesmo feridas, não reclamam da situação. O texto pode ser lido no livro A arte da reportagem, de Igor Fuser.

Enfim, o que mais de chamou a atenção na entrevista foi a opinião do Zé Hamilton sobre a guerra dos EUA contra o Iraque. Confesso que me surpreendi ao ler que ele é/ foi favorável à guerra, mesmo depois de ter saído mutilado de um outro episódio bélico. O cara, uma espécie de "lenda" do jornalismo brasileiro, com seis prêmios Esso, dá argumentos muito parecidos com os meus para justificar o que alguns poderiam chamar de belicismo:

Saddam Hussein jogou armas químicas nos curdos. Morreram todas as pessoas de uma pequena vila. Sentindo falta de ar dentro de casa, corriam para a rua, e lá estava o gás. Morreu todo o mundo na calçada, enconstado nos bancos, de boca aberta, tentando buscar o ar. Nesse momento, a ONU tinha de ter levado Saddam a julgamento como fez com Slobodan Milosevic [ex-ditador e presidente iugoslavo, também conhecido como "carniceiro de Belgrado"], acusado de genocídio. É fácil, principalmente pro pessoal esquerzidóide, condenar de pronto a invasão ao Iraque. Mas é inegável que a ONU se omitiu, virou um paraíso de burocratas, onde o mote é reunião. Discute daqui, discute dali, e ninguém pega no ganzê, ninguém pega no breu. Chegou a hora em que pelo menos uma parte do mundo, uma parte ponderada que envolve EUA, Inglaterra, Itália e cerca de 40 países, sentiu que tinha de dar um basta num tirano primitivo, um fascínora quase amoral, um sujeito que manda matar genro, que é capaz de explorar um povo tão pobre ao nível de possuir 20 palácios e muitos milhões de dólares no exterior. De repente aparece um presidente americano corajoso demais ou meio ensandecido, que decide desarmar esse homem. Desde que amanhã não se veja que essa invasão ao Iraque tem a ver com interesse direto no petróleo, desde que não se tomem os poços para companhias americanas, a história vai comprovar que essa foi uma guerra generosa. E os EUA serão absolvidos. Agora, se amanhã se provar interesses mesquinhos da parte dos americanos, a história também não vai perdoar.

É para se pensar, não? Eu também gostei das dicas dele para um bom correspondente de guerra (que, se pararmos para pensar, podem ser as dicas para um bom jornalista):

1º) O jornalista traz na alma a vaidade, complexo de herói, 'espírito cooperativo' e a curiosidade;
2º) O profissional precisa ser bem-amado, ter bom intestino e não estar pejado de ódio e inveja;
3º) O repórter precisa ter bons dentes, saber inglês, ler poesia, conhecer a constituição de uma orquestra sinfônica e as gemas no ombro dos militares
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