7.12.02

Veja tendenciosa
A revista Veja desta semana traz matéria -para a qual eu fui entrevistado- sobre a queda do turismo em Israel. No texto, a infeliz repórter Camila Antunes comprou a teoria de uma revista norte-americana (não me lembro qual) que publicou a informação de que os judeus dos EUA estão com medo de visitar Israel. E quis aplicá-la ao Brasil.

A teoria não está errada, mas incompleta. Na nossa longa conversa telefônica, tentei mostrar isso a Camila e achei que ela tivesse entendido. Contei que há um número enorme de jovens (132, segundo a lista que tenho em mãos) viajando em dezembro pelo programa Maof da Agência Judaica (leia matéria completa aqui).

Mas ela, pelo texto publicado na revista, parece não ter entendido. Preferiu abordar alguns casos isolados de pessoas que deixaram de ir por conta da situação em Israel do que falar dos cento e trinta e dois que estão indo. Ou dos mais de trinta que estão em lista de espera. E escreveu que "Desde (...) setembro de 2000 Israel tornou-se um dos lugares mais temidos do planeta".

Argumentei ainda com a repórter que, assim como eles, eu não tenho medo. Que, embora estivesse em meio a uma guerra (sim, uma guerra), não senti medo em um só momento dos seis meses em que estive recentemente em Israel. E provei com números que no Brasil -onde já fui assaltado oito vezes, contra nenhuma em Israel- há uma guerra não-declarada e mais mortal.

As contas são simples. Nos primeiros 12 meses de Intifada cerca de 150 israelenses foram mortos em atentados terroristas palestinos, de acordo com o jornal Ha'aretz. Considerando que a população de Israel é de algo em torno de 6 milhões de pessoas, a taxa de mortalidade relacionada ao conflito é de cerca de 2,5 pessoas por 100 mil habitantes.

No Brasil, de acordo com números do Disque Denúncia (projeto do Instituto São Paulo Contra a Violência), a taxa de assassinatos é de 26 pessoas pelos mesmos 100 mil habitantes. Isso prova que a chance de ser assassinado no Brasil é pouco mais de 10 vezes maior do que em Israel. Em São Paulo, este número fica mais acentuado ainda.

Outro dia, saindo de carona de um evento em Higienópolis, bairro onde teoricamente há alguma segurança, ia conversando sobre o tema da violência com uma pessoa que tinha medo de ir a Israel. Sem perceber, num ato automático, ela escondeu a bolsa atrás do banco ao entrar no carro. Isso não se faz em Tel Aviv, em Jerusalém...

Não adianta... Em cada farol, em cada esquina, dentro do carro ou caminhando a pé, em sua casa ou no banco, podem ocorrer pequenos "atentados", ignorados pela mídia, mas igualmente mortíferos e imensamente mais freqüentes do que em Israel. Lá, as pessoas com quem eu conversava sobre o Brasil ficavam assustadas com a idéia de coisas que já se tornaram cotidianas por aqui, como seqüestros relâmpagos ou cartilhas pra ensinar a viver em segurança! E as pessoas insistem em dizer que não se trata de uma guerra... Fico irritadíssimo com isso.

E o terrorismo no mundo todo continua. Mas só se fala de Israel... Nem li nada a respeito do soldado do Exército brasileiro que morreu eu um ataque em Bali, a não ser aqui.

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