Os fatos como eles são
Tenho ido muito ao cinema, porque, como já contei, tenho um cartis manui, que custou uns 80 dólares mas que me permite ir quantas vezes quiser à Cinemateca daqui durante um ano. Há sempre filmes muito bons (a programação de fevereiro já chegou na minha casa, está excelente!). Dia desses, saindo de dois filmes (Diários de motocicleta e Family viewing), reparei por acaso em uma placa no começo de uma rua movimentada, a Emek Refaim ("vale dos fantasmas", em hebraico!).
Vi a placa de relance, mas voltei para observá-la melhor. Era uma placa de memória dos mortos em um pigua. Consegui ler a data (22 de fevereiro do ano passado) e o número da linha, 14. Fazia frio, não me detive muito tempo ali (e o hebraico ainda trava os meus neurônios para a leitura, confesso). Na caminhada de volta para casa, vim pensando em descobrir que atentado tinha sido esse. Entrei na internet e achei, na relação de piguim. Lendo a respeito, engoli a seco: o local fica muito próximo da minha casa. A linha 14 é a que eu pego sempre que vou ao centro.
O que mais me incomodou foi o fato de que eu estava em Israel quando aconteceu o atentado. E embora cada notícia de pigua me toque a fundo, a verdade é que não me lembrava dessa. Ela tinha passado despercebida, fria, distante. Mas a placa recordatória me obrigou a parar ali e ficar imaginando o cenário do ataque, reconstituindo cenas que não vi...
Não adianta tentar fazer de conta que não existe terrorismo, que não existe ameaça nas ruas de Israel. É claro que elas são bem diferentes (e mais raras) que a ameaça da violência de cidades como Rio e São Paulo. Mas ela existe, sim. Vivemos, hoje, um clima de tranqüilidade por aqui. Semana que vem Abbas e Sharon vão se encontrar. Sente-se o cheiro do otimismo preocupado. E o que virá ninguém sabe. Só se espera ver cada vez menos placas recordatórias espalhadas pela cidade.
Glossário
Cartis manui significa "assinatura". Literalmente, é cartão (cartis) de sócio (manui). É aquele pedaço de plástico mágico, que faz maravilhas...!
Pigua, palavra que nunca queremos ouvir no noticiário, significa "atentado". Piguim é o plural. Pior ainda de ouvir.
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