11.1.04

Assim eh a vida
Tento entender algumas coisas, dentro de um onibus com janelas blindadas atravessando a fronteira entre Israel e o que um dia devera ser o Estado palestino. Estava voltando de Beitar Illit, que fica incrustrada no meio da Cisjordania. Tomei o onibus lotado de ortodoxos dentro do assentamento, e eh so la que ele para. Depois, so no destino, em Jerusalem.

No caminho, tento entender algumas coisas. Tento entender, por exemplo, por que as pessoas nao entendem a necessidade de um muro de defesa entre os dois territorios. Tento entender, ao mesmo tempo, a idiotice de precisar viver com um Exercito de Defesa. Na fronteira, cujo checkpoint provoca um congestionamento monstro, dois soldados provavelmente mais novos que eu fazem cara feia e inspecionam quem passa, um a um.

Vive-se em Israel, ou no que um dia foi amplamente chamado de "Palestina", simplesmente, com essas coisas. Vive-se bem, eh verdade, sem grandes dramas. Mas os olhos juvenis dos soldados de vez em quando falham (se nao os deles, os de qualquer outro, mais distraido, menos atento ou simplesmente mais jovem). E ai acontecem os piguim, os atentados, fatalidades.

Na entrada da tachana mercazit, a estacao central de onibus, onde estou, em Jerusalem, outra checagem, que se mal feita pode permitir a passagem de terroristas. Aqui, alem dos olhos atentos de guardas, ha o raio-X, que nao deixa nada passar. Mesmo assim, ha aglomeracoes na porta, que da pra rua, com tanta gente fugindo do frio ou em busca do onibus para voltar pra casa.

Dentro da estacao, se alguem, distraido ou mal-intencionado, esquece uma mochila, uma maleta, em poucos segundos policiais estarao de olho, e avisos pelo sistema interno de microfones tentarao localizar o dono. Se ninguem aparecer, a medida eh extrema: explode-se o objeto esquecido. Nao se pode dar chance para o azar...

A vida eh assim... E segue, com cafes cheios de gente, com a musica nostalgica produzida e ouvida em Israel, com o jeitinho israelense das garotas na rua, com o desfile colorido de soldados com seu uniforme verde, garotos novos com gel no cabelo e celular na mao, e de meninas ortodoxas com suas saias compridas. Assim eh composto o arco-iris do inverno israelense.

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