Efshar lefanot?
Primeiro dia de trabalho em lugar novo não é fácil. Todo o contrário! Não sabia onde ficam as coisas, fiz mil vezes a mesma pergunta (e paciência de israelense não é igual à de brasileiro!), me perdi em um espaço de dez metros quadrados entre tantos armários... Mas, aos poucos, ao longo de oito horas de trabalho, aprendi, me acostumei, fiz novos amigos e, no final das contas, até me diverti!
Trabalhar como garçom (não é exatamente esse meu tafkid, já que não sirvo ninguém, ou pelo menos não tenho que servir!) é no mínimo interessante. Especialmente se o trabalho é dentro de um kenion, como no meu caso. Todo tipo de pessoa passa e senta nas mesas espalhadas pelos corredores paralelos diante do café. Ao limpar uma mesa ouvi três caras comentando que se a situação política de Israel melhorar, os problemas do país estarão resolvidos...
Em outra mesa, duas senhoras e duas moças bem mais novas falavam, em espanhol, das desaventuras do romance de alguém. Mãe e filha, aparentemente, brigavam no outro lado do corredor por algo que não consegui entender... O trabalho no Aroma com certeza vai ser recheado de personagens. Por isso, nada melhor que resumir meus dias de trabalho homenageando, a cada mishmeret, algum deles!
Personagem do dia
O personagem do primeiro dia de trabalho é um grupo de personagens: meia dúzia de velhinhos que se sentaram em duas das mesas do Aroma e ficaram por lá pelo menos durante três horas. Fazendo o quê? Bem, tomando café Aroma e discutindo política... A cada vez que eu passava pelas mesas em que estavam - e eu passei muitas vezes durante o longo tempo em que lá estiveram - um tema estava em pauta na roda. Dei muita risada com a cena e com o bom humor dos senhores de boinas...
PS.: hoje estive em Tel Aviv, para a abertura do curso de liderança que comecei a fazer. Esse post foi produzido dentro da van que me trouxe de Sin City pra casa. Um viva à tecnologia!
Glossário
Efshar lefanot?, que dá título a este post, é a expressão que eu mais usei durante o dia (e a que mais vou usar, provavelmente, enquanto estiver trabalhando onde estou). Significa "posso limpar?" Como foi quase a única coisa que fiz hoje (também cortei pepinos e pimentões e abri latas de atum!), repeti a frase dezenas de vezes. Nem sempre a resposta era "ken", "sim". E, quando não era o caso, de vez em quando o "lo", "não", vinha acompanhado de uma grosseria a moda Israel.
Tafkid é função, cargo. O meu não é de garçom porque o serviço no Aroma é o que se chama aqui de sherut atzmi - o que no Brasil a gente conhece por self-service, mesmo! Cada um pega e leva o seu prato pra mesa que escolhe. O meu papel lá é deixar as mesas limpas pra quem vem depois. Nada que exija muitos neurônios, eu sei, mas é divertido. E paga bem, obrigado.
Kenion vem de "liknot", comprar! Em resumo, é o paraíso dos consumistas, o shopping center. O kenion no qual trabalho, o Malcha, não é o maior de Israel. Mas é o maior da capital de Israel! Fica cheio durante a semana e abarrotado (não é exagero) quando o Shabat acaba, na noite de sábado.
Mishmeret é turno, plantão. No Aroma as mishmarot (o plural) são de oito horas, como na maioria dos lugares em que se trabalha com músculos e não com o cérebro em Israel. A mishmeret boker (manhã) vai das 7h30 às 15h30 e a mishmeret erev (noite) se estende entre 15h e 23h. Hoje trabalhei de manhã; amanhã, à noite.
Sin City é como eu chamo Tel Aviv. Afinal se Jerusalém é a cidade santa, a cidade da paz, que melhor nome pode levar sua irmã litorânea que "cidade do pecado"?
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