Consternado, mas pra quê?
Sábado foi dia de lavar a roupa acumulada, muita roupa. Já são quase 2 da manhã do domingo (dia útil aqui!) e daqui a pouco vou estender a terceira leva! São os ossos do ofício de morar sozinho. Há vantagens, muitas, porém!
Sábado também foi dia de ficar indignado, consternado. Dia de ler os emails que durante a semana ficam negritados na caixa de entrada e de engolir a seco com o que se depara. Deparei hoje com ameaças anti-semitas, não a mim, mas a pessoas na pacífica América do Sul.
Ontem, com uma amiga francesa minutos antes de assistir ao filme (também francês) Madame Bovari, discutíamos sobre violência e sobre anti-semitismo cá e lá - no meu Brasil e na França dela. E eu disse, embotado de razão, que no Brasil não tem lá muito dessas coisas.
Tem, sim. E na Argentina também. Não é o anti-semitismo de violência física das ruas de Paris ou de Lion, mas o verbal, ou por escrito, que ameaça da mesma forma. Gente que pensa com o cérebro dos nazistas dos anos 1930. Hoje. Gente que precisa ser denunciada e punida.
Buenos Aires, 2005: a casa da artista Mariana Schapiro apareceu em uma manhã com a frase "Aquí vive una ¡judía! No la queremos en el barrio" rabiscada na parede. Ela tirou foto, posou ao lado com olhar de indignação e choro, e divulgou a imagem. O jornal argentino Pagina/12 publicou uma nota a respeito. E a foto.
Rio de Janeiro, 2005: voltando de "uma noite inesquecível no Centro Cultural Sacrilégio ali na Lapa", como escreveu, o psicanalista e auto-definido "pensador judeu" Paulo Blank ouviu em um restaurante "verdadeiras aulas de neonazismo em voz alta". Interferiu e escreveu a respeito, porque é colaborador do Jornal do Brasil. Mas não sabia se deveria publicar o texto. Tinha medo. Publicou, assim mesmo.
Tenho que rever meus conceitos. Ou então é mesmo um absurdo não ver a riqueza na diferença. A frase não é minha, é da Sof. Mas é perfeita demais pra não entrar aqui.
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