28.12.03

A vida imita a arte que imita a vida
Tenho o costume de querer reproduzir as coisas a que assisto na telona. Antes de vir a Israel vi "Coisas belas e sujas", filme inglês sobre a realidade de imigrantes ilegais tentando sobreviver em Londres. Em Tel Aviv a coisa é igual. Números oficiais dão conta de 200 mil imigrantes sem papelada, mas há quem fale em meio milhão.

Conheci aqui em Ramat Aviv, há mais de um ano, o nigeriano Tony, que já voltou para seu país, depois de fazer algum dinheiro por aqui. Ele fazia a limpeza da casa do Nahum, uma vez por semana, e provavelmente de outras muitas. Tipo simpático, com um sorriso fácil e freqüente, bem-humorado e que arriscava palavras em hebraico. Disfarçava bem o que devia ser o sofrimento de um imigrante ilegal.

Quando, há alguns meses, ocorreu um atentado na estação central de Tel Aviv, no qual morreram mais imigrantes ilegais do que cidadãos israelenses, ficamos preocupados com ele. D-s, o nosso ou o dele, o protegeu e trouxe boas notícias: ele estava bem longe dali na hora da explosão da bomba que um terrorista palestino levava atada ao seu corpo.

Hoje conheci a peruana Juanita, que ocupa o lugar deixado pelo Tony. Ela fala quechúa, e até me ensinou uma palavra no idioma inca: "gracias", igual ao espanhol. Moça (ela certamente adoraria ser chamada assim) doce, explicou que o idioma dela tem mais doçura do que o espanhol. Talvez quando pronunciada por ela, não sei... Juanita vive há oito anos como ilegal em Israel, e ainda não sabe hebraico.

Assim é a vida. Os países têm crises, seus cidadãos buscam um lugar ao sol fora dali. E encontram certamente qualquer coisa que não merece ser chamada de lugar ao sol. Mas com jogo de cintura e bom humor, enfrentam as dificuldades -seja com um largo e simpático sorriso num rosto quase azul de tão negro, seja com aulas rápidas do idioma doce falado na América Central.

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