Descaso
(Ainda da série "Tem coisas que só o Brasil faz por você")
Esqueci de contar: hoje, entre uma repartição pública e outra cuidando do meu passaporte e da minha situação eleitoral (não é um absurdo sermos obrigados a votar?!), vi um homem passando mal, muito mal, no meio da rua. Eu estava com a minha irmã... O cara estava na pista contrária, não poderíamos parar. Então me pus a ligar pro 193, sem sucesso. Na quarta tentativa me atenderam, com aquela voz típica de quem acha que está fazendo um favor pra humanidade:
- Alô?
- Se a saúde da população depender da qualidade do atendimento de vocês, as pessoas vão morrer pela rua...
- Quem fala?
- Gabriel.
- Qual o seu telefone, Gabriel? (com tom desafiador)
- Você precisa do meu número pra atender a uma emergência? Tem uma pessoa passando mal no meio da Domingos de Morais, precisa de uma ambulância urgente.
- Você é muito folgado.
- O quê?
- Você está desacatando um policial militar, saiba que está encrencado...
- Meu amigo, você tem um dever na sua posição, que é o de atender bem à população e de, de vez em quando, salvar vidas... (ok, não foi assim tão poético, mas algo por aí, nesse tom)
- Você está ferrado, essa ligação está sendo gravada.
- Ótimo, então que fique registrado que essa é a quarta vez que eu ligo para conseguir um atendimento e em vez disso estou sendo tratado dessa maneira por você. É uma emergência, tem uma pessoa passando mal no meio da rua.
- (Silêncio)
- Alô?
- (Silêncio)
E o sujeito desligou na minha cara! Que absurdo. Já longe do coitado que estava passando mal, nem sabia mais como ele podia estar. Talvez morto, ali mesmo, graças à indiferença de quem passava por ele, e pelo descaso do serviço público de resgate, talvez recuperado por intervenção divina, sei lá...
Tenho vergonha de ser brasileiro, de vez em quando.
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