Caneta e caderninho
Ela se aproximou do meu carro e me pediu uma moeda. Disse que não tinha, como sempre digo (não é avareza, é senso social -se dou, alimento algo com que não concordo: ela sendo explorada, com 5 anos ou menos, pela mãe, que ficava sentada ali perto). Diante da minha negativa, ela esticou o pescocinho e olhou dentro do meu carro. Encontrou, de longe, o folheto da exposição das obras da galeria inglesa Tate, à qual eu fui há coisa de um mês.
"Tio, pode me dar aquele 'caderninho'?", disse. Eu pensei que ela estivesse se referindo ao meu machzor, o livro de rezas usado em Yom Kipur que estava sobre o assento do passageiro. Expliquei que não era um caderno, mas um livro, tocando o machzor. Indignada, ela apontou para o "caderninho" da Tate e disse "Não, aquilo lá, ó!". Entendi e entreguei o folheto.
Ela já ia se afastando do carro quando lembrou de perguntar se eu tinha uma caneta. Eu disse que não, mas me lembrei que tinha, sim, uma Bic, no bolso da camisa. A chamei e entreguei a caneta. Feliz da vida, foi sentar-se na base de um poste, com a caneta e o caderninho. E eu a fiquei fitando, e fitando o seu sorriso.
Tudo isso no tempo de um farol vermelho.
Adoro isso de transformar em post as coisas que acontecem na minha vida.
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