Disengagement e futebol
(Ou: Porque um pouco de política não faz mal a ninguém)
A manchete do Jerusalem Post de hoje, que eu recebi pelo celular logo cedo (bendita tecnologia!), era Knesset OK's budget 58-36. Bom entendedor entendeu que caiu, com isso, a última ameaça política ao plano do Sharon. Explico: se o orçamento não passasse, o Parlamento poderia ser dissolvido e o atual governo, derrubado.
Anteontem outra barreira cedeu: o plebiscito cuja aplicação procuravam fazer aprovar para que o povo votasse a favor ou contra o plano - temia-se que a votação pública acabasse deslegitimizando a idéia, já que Israel é uma democracia... Liberdade de expressão e democracia nem sempre são bons negócios - como por exemplo quando permitem manifestações infelizes, estúpidas e preconceituosas num contexto de jogos de futebol.
Não foi só de um lado. Antes da partida de hoje entre França e Israel, que elevou a seleção asiática nas eliminatórias para a Copa, o goleiro francês soltou a pérola de que o time dele não deveria visitar Israel por conta da situação política. Preconceito. Ele não disse que tinha medo. Foi diferente. Do outro lado, no jogo anterior, contra a Irlanda, o autor do gol do empate, um árabe-israelense, teve que ouvir da própria torcida gritos de "morte aos árabes"...
Quem diria que eu falaria um dia sobre esporte aqui no blog...! Enfim, uma vez não mata...! Afinal, já dizia um chefe meu, "contextualize"! Lá vai: por questão de segurança, Israel disputa as eliminatórias com os times europeus, apesar de estar em outro continente. Curiosamente, nos jogos contra as duas seleções mais fortes do grupo (Irlanda e França), dois árabes fizeram os gols dos empates isralenses por 1 a 1.
Por causa dos dois resultados, a seleção de Israel ocupa a liderança do grupo, ao lado da França, e tem grandes chances de ir para a Copa do Mundo, o que só ocorreu uma vez na história, em 1970 - quando, brasileiros que somos, sabemos que quem levou a taça não foi Israel! E tem outra: as duas partidas foram as primeiras que Israel sediou desde o início da intifada, em 2000.
Chega de falar... Se quiser ler mais a respeito de toda essa história, espia os links: o Ha'aretz conta o episódio da coletiva em que jornalistas israelenses foram tirar satisfação do goleiro francês, aqui. O mesmo jornal conta do jogo de hoje, aqui. O Jerusalem Post, aqui. Também o Jpost faz uma análise do "herói" (árabe-)israelense na disputa contra a Irlanda, aqui. O IsraelInsider fala da invasão da torcida verde irlandesa para o primeiro jogo, aqui.
Glossário
Disengagement é o nome que se deu em inglês para o plano de retirada de assentamentos, colonos e tropas israelenses da Faixa de Gaza e de uns quantos lugares da Cisjordânia, que deve ser colocado em prática a partir de julho.
Knesset OK's budget 58-36, Parlamento aprova orçamento por 58 (votos) a 36.
Intifada, palavra árabe, quer dizer "levante". É esse negócio que destruiu o turismo israelense, prejudicou a economia daqui, matou um monte de gente dos dois lados e, no final das contas, não levou ninguém a lugar nenhum. Quem sabe o disengagement leve...
Já ia me esquecendo... O glossário, "um glossário", agora está compilado!
Baseado em fatos reais...
Diretamente de 31.78/35.22, mais conhecida como Jerusalém, escrevo para quem quiser ler - um pouco da vida e do dia-a-dia de um sujeito perdido em Israel.
30.3.05
26.3.05
Dando uma de Indiana Jones
Adorei a Jordânia. Petra é maravilhosa, com tesouros arqueológicos a cada dez metros. O jordaniano é muito gentil, prestativo - pelo menos os que eu conheci (o motorista do taxi, o guia que nos levou por Petra, um ou outro vendedor de bugigangas, os condutores dos burros que nos carregaram para o alto de uma montanha...). Tem foto.
Mas na Jordânia, onde tudo é muito caro, homem não pode mascar chiclete! "É coisa de mulherzinha". Quem disse (ou deu a entender) foi o taxista que nos levou da fronteira com Eilat, no sul de Israel, até Petra. Lembrei de quando visitei, em Haifa, os jardins Ba'hai - lá também não se podia mascar chiclete... Coisas culturais.
O fim de semana, emendado porque Purim caiu no meio, teve também praia no Mar Vermelho de Eilat, diante das montanhas jordanianas. E calor, porque de vez em quando precisa derreter o gelo. E teve uma coisa daquelas que só acontecem para virar post depois: perdemos o ônibus na parada para o banheiro, no meio do nada. Stress e depois risadas. Sempre é assim!
Estou de volta à maldita rotina... Eu que sempre quis fugir dela!
Bye, então
O lado amargo das despedidas (e despedidas têm apenas esse lado) é perceber que com o tempo para o momento de dizer "tchau" chegando, as coisas que não se disse já não podem mais ser ditas. E fica aquele vazio, aquela vontade de dizer montes de coisas que não encontram tempo para se pronunciar. Depois, mais vazio, as fotos, o cheiro, as lembranças. E a vida tem que continuar. Vou ter que tirar o Tom da minha playlist.
Adorei a Jordânia. Petra é maravilhosa, com tesouros arqueológicos a cada dez metros. O jordaniano é muito gentil, prestativo - pelo menos os que eu conheci (o motorista do taxi, o guia que nos levou por Petra, um ou outro vendedor de bugigangas, os condutores dos burros que nos carregaram para o alto de uma montanha...). Tem foto.
Mas na Jordânia, onde tudo é muito caro, homem não pode mascar chiclete! "É coisa de mulherzinha". Quem disse (ou deu a entender) foi o taxista que nos levou da fronteira com Eilat, no sul de Israel, até Petra. Lembrei de quando visitei, em Haifa, os jardins Ba'hai - lá também não se podia mascar chiclete... Coisas culturais.
O fim de semana, emendado porque Purim caiu no meio, teve também praia no Mar Vermelho de Eilat, diante das montanhas jordanianas. E calor, porque de vez em quando precisa derreter o gelo. E teve uma coisa daquelas que só acontecem para virar post depois: perdemos o ônibus na parada para o banheiro, no meio do nada. Stress e depois risadas. Sempre é assim!
Estou de volta à maldita rotina... Eu que sempre quis fugir dela!
Bye, então
O lado amargo das despedidas (e despedidas têm apenas esse lado) é perceber que com o tempo para o momento de dizer "tchau" chegando, as coisas que não se disse já não podem mais ser ditas. E fica aquele vazio, aquela vontade de dizer montes de coisas que não encontram tempo para se pronunciar. Depois, mais vazio, as fotos, o cheiro, as lembranças. E a vida tem que continuar. Vou ter que tirar o Tom da minha playlist.
23.3.05
Tip
A experiência de garçom ensina que gorjeta é como reconhecimento "pelo conjunto da obra": não é só por um sorriso na hora certa, pela bebida que veio rápida e bem preparada, por um pedido estranho atendido como o cliente queria - é por tudo isso, e mais um monte de fatores reunidos.
Ou não, como diria o "do contra"! Já tive mais de uma vez a prova disso: dia desses estava começando a atender uma mesa quando uma mulher enfiou cem shekels (uns 25 dólares!) no meu bolso. Nem tinha dito "boa noite"! Depois, na mesma mesa me deram ainda mais dinheiro. Preciso dizer que atendi os caras com um sorriso estampado na cara? Não, né?
A experiência de garçom ensina também que tip é algo importante! Não apenas para estampar sorriso na cara do garçom e fazê-lo trabalhar com prazer, mas para reconhecer um bom serviço. E isso me faz lembrar de uma vez, no Brasil, em que, muito mal atendido, resolvi não deixar os dez por cento. O garçom saiu atrás de mim, discutindo. Quase recorri ao gerente!
Aqui dez por cento são doze, em geral. As contas, que, sem o serviço já não são baratas, ficam doze por cento mais caras. Em Israel garçom é trabalho de estudante. Por aqui muitos lugares pagam fixos irrisórios (não é o caso do hotel onde trabalho, mas há desses...) Por isso, tips são importantíssimos! Mas, como em qualquer lugar, precisa ser merecido!
Tov... Amanhã parto de Jerusalém com destino ao Mar Morto, de lá para Eilat (extremo sul do país) e de lá, para a fronteira com a Jordânia, de onde viajo para Petra, a cidade do último Indiana Jones... Na volta, se a câmera não cair na privada, fotos!
Em tempo: chag Purim sameach!
Glossário
Tov é bom. Como em português, por aqui também se costuma dizer "bom" assim como eu disse aqui! Como um well no inglês...!
Chag Purim sameach significa "feliz feriado de Purim", que começa hoje.
A experiência de garçom ensina que gorjeta é como reconhecimento "pelo conjunto da obra": não é só por um sorriso na hora certa, pela bebida que veio rápida e bem preparada, por um pedido estranho atendido como o cliente queria - é por tudo isso, e mais um monte de fatores reunidos.
Ou não, como diria o "do contra"! Já tive mais de uma vez a prova disso: dia desses estava começando a atender uma mesa quando uma mulher enfiou cem shekels (uns 25 dólares!) no meu bolso. Nem tinha dito "boa noite"! Depois, na mesma mesa me deram ainda mais dinheiro. Preciso dizer que atendi os caras com um sorriso estampado na cara? Não, né?
A experiência de garçom ensina também que tip é algo importante! Não apenas para estampar sorriso na cara do garçom e fazê-lo trabalhar com prazer, mas para reconhecer um bom serviço. E isso me faz lembrar de uma vez, no Brasil, em que, muito mal atendido, resolvi não deixar os dez por cento. O garçom saiu atrás de mim, discutindo. Quase recorri ao gerente!
Aqui dez por cento são doze, em geral. As contas, que, sem o serviço já não são baratas, ficam doze por cento mais caras. Em Israel garçom é trabalho de estudante. Por aqui muitos lugares pagam fixos irrisórios (não é o caso do hotel onde trabalho, mas há desses...) Por isso, tips são importantíssimos! Mas, como em qualquer lugar, precisa ser merecido!
Tov... Amanhã parto de Jerusalém com destino ao Mar Morto, de lá para Eilat (extremo sul do país) e de lá, para a fronteira com a Jordânia, de onde viajo para Petra, a cidade do último Indiana Jones... Na volta, se a câmera não cair na privada, fotos!
Em tempo: chag Purim sameach!
Glossário
Tov é bom. Como em português, por aqui também se costuma dizer "bom" assim como eu disse aqui! Como um well no inglês...!
Chag Purim sameach significa "feliz feriado de Purim", que começa hoje.
22.3.05
Coexistência é a palavra
Sempre que se discute conflitos, fala-se em tolerância. Já dizia um amigo meu que não se deve tratar de tolerar, já que isso pressupõe aceitar algo de que não se gosta, como se um fardo fosse. Coexistir, então, é a melhor palavra. E, depois de visitar o Museum on the Seam, incrustrado em terras árabe-palestinas de Jerusalém, entendi que em Israel se coexiste, sim. Falta coexistir em paz. Só.
O museu merece uma salva de palmas. Por cada um de seus detalhes merece aplausos de pé. Começa pela localização escolhida: uma casa que serviu de posto de fronteira entre o que era a Jordânia e Israel, antes de 1967. O local, perto do temido portão de Damasco da Cidade Velha de Jerusalém, é cercado por elementos que, também eles, coexistem. Árabes que não sabem hebraico, policiais de fronteira, crianças de kfia e de kipá...
Depois da localização, e só depois, a exposição. Impecável. Montagens com imagens e palavras que dizem tudo. Como, por exemplo, a que revela outros conflitos onde também a coexistência é necessária - Berlin, Belfast, Johanesburg, Sarajevo. Ou a que sugere que "black and white are not opposites". Ou muitas outras, que valem muito a visita.
No fim, aquela sensação de "o que eu posso fazer, então?" E um livro, State of Siege - Users Manual, que eu não resisti e comprei. Páginas de imagens de atentados, manifestações, que eu ousei folhear no ônibus na volta para casa, sentado ao lado de uma mulher que esticava o pescoço para entender do que se tratava. Coexistência, minha senhora...
Sou ainda desses idealistas, sim. Como Teddy Kollek, ex-prefeito de Jerusalém, quero também afirmar que I still believe that we'll succeed in building a city where different cultures will be able to coexist.
Um PS para o passaporte
Chegou hoje, na porta de casa, minha teudat ma'avar, pré-passaporte. O documento, azul como o futuro passaporte, me torna mais israelense. Sou todo orgulho!
Glossário
Seam, traduzido do hebraico tefer, significa costura. O museu, chamado Museum on the Seam, fica sobre a linha que foi divisória, limítrofe. Costura, por isso, duas culturas. Ajuda a coexistir...
Black and white are not opposites, preto e branco não são opostos. Esse, para mim, é o resumo da exposição no museu. Não só preto e branco não são opostos, porque existem tons de cinza e cores entre um e outro, mas também não são opostos judeus e árabes, ortodoxos e laicos, homens e mulheres, esquerdistas e direitistas, você e eu.
State of Siege - Users Manual, estado de sítio - manual do usuário.
I still believe that we'll succeed in building a city where different cultures will be able to coexist, eu ainda acredito que conseguiremos construir uma cidade na qual diferentes culturas poderão coexistir. Eu também acredito.
Teudat ma'avar é permissão de passagem, algo assim. É o documento que me permite sair do país antes de completar um ano como cidadão daqui. Saio do país na próxima quinta-feira, que é feriado em Israel. Vou para Petra, na Jordânia. Viu Indiana Jones? Então sabe de onde estou falando!
Sempre que se discute conflitos, fala-se em tolerância. Já dizia um amigo meu que não se deve tratar de tolerar, já que isso pressupõe aceitar algo de que não se gosta, como se um fardo fosse. Coexistir, então, é a melhor palavra. E, depois de visitar o Museum on the Seam, incrustrado em terras árabe-palestinas de Jerusalém, entendi que em Israel se coexiste, sim. Falta coexistir em paz. Só.
O museu merece uma salva de palmas. Por cada um de seus detalhes merece aplausos de pé. Começa pela localização escolhida: uma casa que serviu de posto de fronteira entre o que era a Jordânia e Israel, antes de 1967. O local, perto do temido portão de Damasco da Cidade Velha de Jerusalém, é cercado por elementos que, também eles, coexistem. Árabes que não sabem hebraico, policiais de fronteira, crianças de kfia e de kipá...
Depois da localização, e só depois, a exposição. Impecável. Montagens com imagens e palavras que dizem tudo. Como, por exemplo, a que revela outros conflitos onde também a coexistência é necessária - Berlin, Belfast, Johanesburg, Sarajevo. Ou a que sugere que "black and white are not opposites". Ou muitas outras, que valem muito a visita.
No fim, aquela sensação de "o que eu posso fazer, então?" E um livro, State of Siege - Users Manual, que eu não resisti e comprei. Páginas de imagens de atentados, manifestações, que eu ousei folhear no ônibus na volta para casa, sentado ao lado de uma mulher que esticava o pescoço para entender do que se tratava. Coexistência, minha senhora...
Sou ainda desses idealistas, sim. Como Teddy Kollek, ex-prefeito de Jerusalém, quero também afirmar que I still believe that we'll succeed in building a city where different cultures will be able to coexist.
Um PS para o passaporte
Chegou hoje, na porta de casa, minha teudat ma'avar, pré-passaporte. O documento, azul como o futuro passaporte, me torna mais israelense. Sou todo orgulho!
Glossário
Seam, traduzido do hebraico tefer, significa costura. O museu, chamado Museum on the Seam, fica sobre a linha que foi divisória, limítrofe. Costura, por isso, duas culturas. Ajuda a coexistir...
Black and white are not opposites, preto e branco não são opostos. Esse, para mim, é o resumo da exposição no museu. Não só preto e branco não são opostos, porque existem tons de cinza e cores entre um e outro, mas também não são opostos judeus e árabes, ortodoxos e laicos, homens e mulheres, esquerdistas e direitistas, você e eu.
State of Siege - Users Manual, estado de sítio - manual do usuário.
I still believe that we'll succeed in building a city where different cultures will be able to coexist, eu ainda acredito que conseguiremos construir uma cidade na qual diferentes culturas poderão coexistir. Eu também acredito.
Teudat ma'avar é permissão de passagem, algo assim. É o documento que me permite sair do país antes de completar um ano como cidadão daqui. Saio do país na próxima quinta-feira, que é feriado em Israel. Vou para Petra, na Jordânia. Viu Indiana Jones? Então sabe de onde estou falando!
19.3.05
Evacuar Gaza
O mais legal de participar da hafganá que rolou no fim do Shabat em Tel Aviv não foi só o estar lá, mas o fato de que eu estava com pessoas de alguma forma engajadas em política israelense, como eu. Gente que não necessariamente concorda com o tema manifestado, mas que tem cabeça aberta o suficiente pra caminhar ao lado de pessoas com idéias diferentes dando o ponto de vista delas. A pedidos, não vou citar nomes!
A manifestação foi a favor da saída dos colonos da Faixa de Gaza. O plano de desconexão, tradução literal de hitnatcut, prevê o desmantelamento de todos os assentamentos judaicos da Faixa de Gaza - em um local lindo de nome Gush Katif (que eu pretendo visitar na semana que vem)- e de outros quatro na Cisjordânia. Boa parte da população concorda com a saída, porque pode trazer uma nova esperança de paz com os palestinos...
Uma coisa muito curiosa dos israelenses é o que eu chamo de "cultura dos adesivos". Tão curiosa e tão característica que virou música do Hadag Nachash, grupo famosinho por aqui. Desculpe a quem não entende hebraico, não achei a letra em inglês...! Em resumo, a música desfila uma porção de adesivos que decoram carros, casas e cadernos, e o refrão avisa: "quanta merda podemos engolir".
Um adesivo que deram na passeata hoje faz um jogo de palavras, em hebraico. Abaixo de um bonequinho agachado como quem está, digamos assim, defecando, os dizeres: "se a situação está uma merda, é necessário lehitpanot". Ou seja, evacuar. O sentido político é evacuar (sair) de Gaza... O outro dispensa explicações!
A hafganá foi o fechamento do fim de semana que passamos, namorada e eu, em Tel Aviv, com direito a praia, sol, calor, almoço no Yotvata, caminhada pela Cidade Branca, passeio em Yafo, comida típica... Tenho que confessar que adoro praia, sim! Mas não para morar! Ainda prefiro viver entre as pedras de Jerusalém!
Shavua tov. Amanhã começa mais uma semana...!
Glossário
Hafganá é manifestação.
Hitnatcut é desconexão, desengajamento, saída. No Brasil, se eu não me engano, o termo usado é desocupação. Não gosto de me referir ao tema como "ocupação"...
Hadag Nachash é o nome do grupo que canta Shirat Sticker, que significa "música dos adesivos". O nome do grupo não tem qualquer sentido: "o peixe cobra".
Lehitpanot, verbo passivo, significa evacuar. Tem duplo sentido também em português!
Shavua tov significa boa semana.
O mais legal de participar da hafganá que rolou no fim do Shabat em Tel Aviv não foi só o estar lá, mas o fato de que eu estava com pessoas de alguma forma engajadas em política israelense, como eu. Gente que não necessariamente concorda com o tema manifestado, mas que tem cabeça aberta o suficiente pra caminhar ao lado de pessoas com idéias diferentes dando o ponto de vista delas. A pedidos, não vou citar nomes!
A manifestação foi a favor da saída dos colonos da Faixa de Gaza. O plano de desconexão, tradução literal de hitnatcut, prevê o desmantelamento de todos os assentamentos judaicos da Faixa de Gaza - em um local lindo de nome Gush Katif (que eu pretendo visitar na semana que vem)- e de outros quatro na Cisjordânia. Boa parte da população concorda com a saída, porque pode trazer uma nova esperança de paz com os palestinos...
Uma coisa muito curiosa dos israelenses é o que eu chamo de "cultura dos adesivos". Tão curiosa e tão característica que virou música do Hadag Nachash, grupo famosinho por aqui. Desculpe a quem não entende hebraico, não achei a letra em inglês...! Em resumo, a música desfila uma porção de adesivos que decoram carros, casas e cadernos, e o refrão avisa: "quanta merda podemos engolir".
Um adesivo que deram na passeata hoje faz um jogo de palavras, em hebraico. Abaixo de um bonequinho agachado como quem está, digamos assim, defecando, os dizeres: "se a situação está uma merda, é necessário lehitpanot". Ou seja, evacuar. O sentido político é evacuar (sair) de Gaza... O outro dispensa explicações!
A hafganá foi o fechamento do fim de semana que passamos, namorada e eu, em Tel Aviv, com direito a praia, sol, calor, almoço no Yotvata, caminhada pela Cidade Branca, passeio em Yafo, comida típica... Tenho que confessar que adoro praia, sim! Mas não para morar! Ainda prefiro viver entre as pedras de Jerusalém!
Shavua tov. Amanhã começa mais uma semana...!
Glossário
Hafganá é manifestação.
Hitnatcut é desconexão, desengajamento, saída. No Brasil, se eu não me engano, o termo usado é desocupação. Não gosto de me referir ao tema como "ocupação"...
Hadag Nachash é o nome do grupo que canta Shirat Sticker, que significa "música dos adesivos". O nome do grupo não tem qualquer sentido: "o peixe cobra".
Lehitpanot, verbo passivo, significa evacuar. Tem duplo sentido também em português!
Shavua tov significa boa semana.
18.3.05
Mais do mesmo?
Com o tempo as coisas que achamos surpreendentes, novas, as coisas que nos são inéditas vão se tornando comuns, diárias, rotineiras. Mesmo assim, diante de algumas delas, ainda nos surpreendemos. Assim é com os casamentos no hotel do kibutz onde trabalho como garçom, de vez em quando como segurança.
Todo dia, a mesma coisa: os convidados entram para a kabalat panim, conversam sobre temas amenos, beliscam comidinhas que trazemos e levamos. Depois, passam ao ulam, sentam-se às mesas e esperam os noivos, que a essa altura estão tradicionalmente no primeiro momento sozinhos.
A banda toca músicas leves, ninguém dança. De repente, tudo muda: os noivos aparecem, cercados de gente. Os convidados se levantam. Mulheres vão para um lado, homens para outro. E dançam, as mesmas danças de todos os dias. Mesmo a repetição emociona quem a vê todo dia.
Depois de dançar muito, em rodas noivo-centristas, o marido "busca" a esposa e a leva para a roda masculina. Sentam em cadeiras e são levantados pelos convidados. Muita animação. Sorrisos dos recém-casados e dos amigos e familiares.
E vem a primeira refeição, a outra, outra mais, bebidas, sorrisos dos garçons querendo tip, a sobremesa anunciada com luzes parecida às de fogos de artifício. Mais dança, mais conversas sobre amenidades, mais sorrisos de garçons.
A repetição infinita do mesmo.
Glossário
Kabalat panim é "recepção", onde a festa começa. Panim, a propósito, é a palavra para "cara", "rosto". Ulam é "salão" - não confundir com olam, que é "mundo". Tip, como no inglês, é "gorjeta".
Com o tempo as coisas que achamos surpreendentes, novas, as coisas que nos são inéditas vão se tornando comuns, diárias, rotineiras. Mesmo assim, diante de algumas delas, ainda nos surpreendemos. Assim é com os casamentos no hotel do kibutz onde trabalho como garçom, de vez em quando como segurança.
Todo dia, a mesma coisa: os convidados entram para a kabalat panim, conversam sobre temas amenos, beliscam comidinhas que trazemos e levamos. Depois, passam ao ulam, sentam-se às mesas e esperam os noivos, que a essa altura estão tradicionalmente no primeiro momento sozinhos.
A banda toca músicas leves, ninguém dança. De repente, tudo muda: os noivos aparecem, cercados de gente. Os convidados se levantam. Mulheres vão para um lado, homens para outro. E dançam, as mesmas danças de todos os dias. Mesmo a repetição emociona quem a vê todo dia.
Depois de dançar muito, em rodas noivo-centristas, o marido "busca" a esposa e a leva para a roda masculina. Sentam em cadeiras e são levantados pelos convidados. Muita animação. Sorrisos dos recém-casados e dos amigos e familiares.
E vem a primeira refeição, a outra, outra mais, bebidas, sorrisos dos garçons querendo tip, a sobremesa anunciada com luzes parecida às de fogos de artifício. Mais dança, mais conversas sobre amenidades, mais sorrisos de garçons.
A repetição infinita do mesmo.
Glossário
Kabalat panim é "recepção", onde a festa começa. Panim, a propósito, é a palavra para "cara", "rosto". Ulam é "salão" - não confundir com olam, que é "mundo". Tip, como no inglês, é "gorjeta".
14.3.05
De volta ao kibutz
O programa do fim de semana foi uma volta ao passado, em alguma medida: visitar o kibutz En Dor, onde morei em 2002 durante os seis meses mais decisivos da minha vida. E, lá, rever as pessoas que conviveram comigo. Muitas na mesma, paradas no tempo. Outras totalmente diferentes. O tempo passou...
A verdade é que a visita, dessa vez com a namorada, foi diferente da que fiz ano passado, sozinho. Não só pela namorada, mas porque dessa vez não fiquei com aquela impressão azeda de que a música tem razão ao dizer que nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia. Não será, isso é certo. Mas diferente pode ser melhor, nem sempre pior. Vi quem importa e quem se importa. E bastou.
Fim do shabat, hora de voltar pra capital, pra vida real. E de deixar pra trás, sabe-se lá por quanto tempo, de novo, aquele pedacinho de Israel que foi onde o amor por esse país começou a surgir, em meio ao cheiro de merda de vaca ao amanhecer e trabalhando no jardim alheio.
Demorou, mas me dei conta de que saudade não precisa ser só de pessoas ou de locais, mas também de um tempo que representou muito na vida da gente. Guardo En Dor no coração porque aqueles seis meses foram muito importantes pra mim. Decisivos, como eu disse. Talvez eu nunca estaria aqui hoje se não tivesse estado lá em 2002...
Glossário
Kibutz é uma comunidade basicamente agrícola em que vivem pessoas dentro de um sistema socialista. Essa definição não mais se aplica aos kibutzim atuais. Dos 270 existente em Israel com esse nome, os que realmente sobreviveram são sustentados pelo capitalismo! Os outros viraram grandes "bairros", apenas. E privatizaram tudo. En Dor é um exemplo da segunda categoria.
O programa do fim de semana foi uma volta ao passado, em alguma medida: visitar o kibutz En Dor, onde morei em 2002 durante os seis meses mais decisivos da minha vida. E, lá, rever as pessoas que conviveram comigo. Muitas na mesma, paradas no tempo. Outras totalmente diferentes. O tempo passou...
A verdade é que a visita, dessa vez com a namorada, foi diferente da que fiz ano passado, sozinho. Não só pela namorada, mas porque dessa vez não fiquei com aquela impressão azeda de que a música tem razão ao dizer que nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia. Não será, isso é certo. Mas diferente pode ser melhor, nem sempre pior. Vi quem importa e quem se importa. E bastou.
Fim do shabat, hora de voltar pra capital, pra vida real. E de deixar pra trás, sabe-se lá por quanto tempo, de novo, aquele pedacinho de Israel que foi onde o amor por esse país começou a surgir, em meio ao cheiro de merda de vaca ao amanhecer e trabalhando no jardim alheio.
Demorou, mas me dei conta de que saudade não precisa ser só de pessoas ou de locais, mas também de um tempo que representou muito na vida da gente. Guardo En Dor no coração porque aqueles seis meses foram muito importantes pra mim. Decisivos, como eu disse. Talvez eu nunca estaria aqui hoje se não tivesse estado lá em 2002...
Glossário
Kibutz é uma comunidade basicamente agrícola em que vivem pessoas dentro de um sistema socialista. Essa definição não mais se aplica aos kibutzim atuais. Dos 270 existente em Israel com esse nome, os que realmente sobreviveram são sustentados pelo capitalismo! Os outros viraram grandes "bairros", apenas. E privatizaram tudo. En Dor é um exemplo da segunda categoria.
10.3.05
Nas asas de uma borboleta
Some people want to forget the past, some people want to change it
Change one thing; Change everything
Do you think we will be together forever?
Tudo isso de The butterfly effect, que eu preciso rever.
Some people want to forget the past, some people want to change it
Change one thing; Change everything
Do you think we will be together forever?
Tudo isso de The butterfly effect, que eu preciso rever.
9.3.05
(De novo)
Careca
Vocês sabem que eu estou careca?
Careca
Voces sabem que eu estou careca? Espiem em http://www.fotolog.net/gabo_em_israel/?pid=9196016. Quando eu chegar em casa, acentuo e coloco os links como se deve. Agora estou na aula de computacao. E aqui nao tem acento. Um tedio so!
Careca
Vocês sabem que eu estou careca?
Careca
Voces sabem que eu estou careca? Espiem em http://www.fotolog.net/gabo_em_israel/?pid=9196016. Quando eu chegar em casa, acentuo e coloco os links como se deve. Agora estou na aula de computacao. E aqui nao tem acento. Um tedio so!
8.3.05
Sim, vivo
Quando você deixa de escrever e as pessoas reclamam, escrevem e até ligam, é bom sinal. Sinal, pelo menos, de que as pessoas lêem o que você escreve. E dia desses descobri novos leitores, na família! Gulp...!
A vida vai bem. Namorada por aqui, depois de oito meses longe. Estranho, até. Dá a sensação de que nos conhecemos no aeroporto, sexta-feira passada, e não três anos atrás. Estranho. Mas bom, muito bom!
Fora a namorada, estudo, estudo, estudo e insistir com a professora para não me baixar de sala. Ela quer, bate na tecla todo dia; eu sei que se baixar me desmotivo. Prometi me esforçar para acompanhar melhor a turma. Promessa difícil de cumprir!
E trabalho, quase nada. Deixei o Aroma de lado uns dias. Não dá para conciliar oito horas diárias de trabalho lá e o estudo que eu prometi para a professora. Impossível. Estou exausto e não é porque a namorada chegou!
Hoje estive em Gilo, bairro de Jerusalém com residências de luxo. Cercado por quase todos os lados por vilas árabes. Lá moram os donos do meu apê, um casal de velhinhos simpáticos. Fui pagar o aluguel, deixar os cheques até o final do ano.
No caminho, vi duas coisas que preferia saber que não existem, mas existem. Sou daqueles que não gostam de tapar o sol com a peneira. Numa placa trilíngüe de trânsito indicando direções, o árabe estava pichado e, por cima dele, a infeliz frase "morte aos árabes".
Menos fundamentalista e mais necessário e compreensível em dias de não-paz foi ver, mesmo assim triste e indignado, policiais de fronteira parando um micro-ônibus cheio de palestinos e revistando um por um. Será que vai chegar o dia em que não precisaremos mais disso tudo?
Quando você deixa de escrever e as pessoas reclamam, escrevem e até ligam, é bom sinal. Sinal, pelo menos, de que as pessoas lêem o que você escreve. E dia desses descobri novos leitores, na família! Gulp...!
A vida vai bem. Namorada por aqui, depois de oito meses longe. Estranho, até. Dá a sensação de que nos conhecemos no aeroporto, sexta-feira passada, e não três anos atrás. Estranho. Mas bom, muito bom!
Fora a namorada, estudo, estudo, estudo e insistir com a professora para não me baixar de sala. Ela quer, bate na tecla todo dia; eu sei que se baixar me desmotivo. Prometi me esforçar para acompanhar melhor a turma. Promessa difícil de cumprir!
E trabalho, quase nada. Deixei o Aroma de lado uns dias. Não dá para conciliar oito horas diárias de trabalho lá e o estudo que eu prometi para a professora. Impossível. Estou exausto e não é porque a namorada chegou!
Hoje estive em Gilo, bairro de Jerusalém com residências de luxo. Cercado por quase todos os lados por vilas árabes. Lá moram os donos do meu apê, um casal de velhinhos simpáticos. Fui pagar o aluguel, deixar os cheques até o final do ano.
No caminho, vi duas coisas que preferia saber que não existem, mas existem. Sou daqueles que não gostam de tapar o sol com a peneira. Numa placa trilíngüe de trânsito indicando direções, o árabe estava pichado e, por cima dele, a infeliz frase "morte aos árabes".
Menos fundamentalista e mais necessário e compreensível em dias de não-paz foi ver, mesmo assim triste e indignado, policiais de fronteira parando um micro-ônibus cheio de palestinos e revistando um por um. Será que vai chegar o dia em que não precisaremos mais disso tudo?
5.3.05
3.3.05
Ahava ze col ha sipur
Uma das cenas mais marcantes, para mim, do filme It's all about love é a final, em que pessoas do mundo real, e não apenas atores, vêm e vão num aeroporto inglês. Entre beijos e abraços, despedidas e reencontros, a música dá o tom romântico da película.
Estou agora no Natbag, sigla carinhosa do Aeroporto Ben Gurion. Segunda vez que venho para o Terminal 3, o mais novo, bem novo, inaugurado no ano passado. Estou no saguão de desembarque, um lugar enorme, cheio de colunas altíssimas e com o mesmo clima do filme!
Ainda faltam duas horas para a chegada dela. Aproveito o tempo, já que tive que tomar em Jerusalém o último ônibus que vinha pra cá, para escrever. O que mais posso fazer? Confesso que trouxe meus cadernos do Taka, mas como controlar a ansiedade para estudar?
Tenho um olho na tela do laptop, outro no painel eletrônico com as informações dos vôos. O dela, LY 382, vindo de Milão, Itália, já figura, no final da lista (bom sinal, pelo menos não vim no dia errado!). O status: FINAL.
Atrás de mim há algumas lojinhas, de flores, balões, livros, jornais em muitos idiomas, aluguel de celular, comida. Já passei por todas elas, olhei cada livro e cada manchete nos idiomas que conheço! Não tenho fome, mas já gastei uns trocados na máquina de guloseimas...
Já estou no momento de sequer ter o que escrever, mais. Muita ansiedade. Oito meses desde o último aeroporto, o de Guarulhos, em São Paulo. E a sensação estranha de não saber como vai ser o reencontro tão ansiado depois de tanto tempo.
Que passe logo o tempo.
Glossário
Ahava ze col ha sipur, o título do post, é também o título do filme que eu mencionei, em hebraico. Significa literalmente "amor é toda a história". As traducões de nomes de filmes aqui são mais fiéis. É bem parecido com o original "It's all about love".
PS.: se você lê esse blog e está no Orkut, então precisa entrar na comunidade que eu criei, porque sou umbiguista! Como eu escrevi lá, é a comunidade de quem lê o blog, de quem caiu aqui por acaso e se apaixonou pelo que leu, para quem já se emocionou, entristeceu, aprendeu, ficou puto com algum post...
Uma das cenas mais marcantes, para mim, do filme It's all about love é a final, em que pessoas do mundo real, e não apenas atores, vêm e vão num aeroporto inglês. Entre beijos e abraços, despedidas e reencontros, a música dá o tom romântico da película.
Estou agora no Natbag, sigla carinhosa do Aeroporto Ben Gurion. Segunda vez que venho para o Terminal 3, o mais novo, bem novo, inaugurado no ano passado. Estou no saguão de desembarque, um lugar enorme, cheio de colunas altíssimas e com o mesmo clima do filme!
Ainda faltam duas horas para a chegada dela. Aproveito o tempo, já que tive que tomar em Jerusalém o último ônibus que vinha pra cá, para escrever. O que mais posso fazer? Confesso que trouxe meus cadernos do Taka, mas como controlar a ansiedade para estudar?
Tenho um olho na tela do laptop, outro no painel eletrônico com as informações dos vôos. O dela, LY 382, vindo de Milão, Itália, já figura, no final da lista (bom sinal, pelo menos não vim no dia errado!). O status: FINAL.
Atrás de mim há algumas lojinhas, de flores, balões, livros, jornais em muitos idiomas, aluguel de celular, comida. Já passei por todas elas, olhei cada livro e cada manchete nos idiomas que conheço! Não tenho fome, mas já gastei uns trocados na máquina de guloseimas...
Já estou no momento de sequer ter o que escrever, mais. Muita ansiedade. Oito meses desde o último aeroporto, o de Guarulhos, em São Paulo. E a sensação estranha de não saber como vai ser o reencontro tão ansiado depois de tanto tempo.
Que passe logo o tempo.
Glossário
Ahava ze col ha sipur, o título do post, é também o título do filme que eu mencionei, em hebraico. Significa literalmente "amor é toda a história". As traducões de nomes de filmes aqui são mais fiéis. É bem parecido com o original "It's all about love".
PS.: se você lê esse blog e está no Orkut, então precisa entrar na comunidade que eu criei, porque sou umbiguista! Como eu escrevi lá, é a comunidade de quem lê o blog, de quem caiu aqui por acaso e se apaixonou pelo que leu, para quem já se emocionou, entristeceu, aprendeu, ficou puto com algum post...
2.3.05
Ansiedade
Acepções (*)
substantivo feminino
1 grande mal-estar físico e psíquico; aflição, agonia
Ex.: a demora no atendimento causava-lhe a.
2 Derivação: sentido figurado.
desejo veemente e impaciente
Ex.: com grande a. aguardava o seu casamento
3 Derivação: sentido figurado.
falta de tranqüilidade; receio
Ex.: com a., procurava um lugar para ocultar-se
4 Rubrica: psicopatologia.
estado afetivo penoso, caracterizado pela expectativa de algum perigo que se revela indeterminado e impreciso, e diante do qual o indivíduo se julga indefeso
Acepções (*)
substantivo feminino
1 grande mal-estar físico e psíquico; aflição, agonia
Ex.: a demora no atendimento causava-lhe a.
2 Derivação: sentido figurado.
desejo veemente e impaciente
Ex.: com grande a. aguardava o seu casamento
3 Derivação: sentido figurado.
falta de tranqüilidade; receio
Ex.: com a., procurava um lugar para ocultar-se
4 Rubrica: psicopatologia.
estado afetivo penoso, caracterizado pela expectativa de algum perigo que se revela indeterminado e impreciso, e diante do qual o indivíduo se julga indefeso
1.3.05
Instalatztor
De repente, eu sozinho em casa quebrando a cabeça com um texto, toca a campainha. Não estava esperando ninguém, mas fui ver quem era. O olho mágico revela uma mulher e um cara, totalmente estranhos. Abro a porta, sem o medo que teria se estivesse em São Paulo - talvez seja só ingenuidade...
Ela, a vizinha do 14, diz que conversou com a minha shutafá, que a essas horas deve estar no verão argentino, já. Algo sobre a ambatia, consertos na casa, e que tinha trazido o Samy, o magricela ali ao lado, para dar uma olhada. A Paula, minha shutafá, deve ter esquecido de me dizer - culpa da correria, mal nos encontramos nos últimos dias antes da viagem.
E eles vão entrando, despejando palavras em hebraico. Palavras desconhecidas, porque naturalmente eu ainda não conheço o vocabulário de reparos domésticos: pintar o teto do banheiro, arrumar a infiltração do teto da sala, comprar outro exaustor, trocar o teto da mirpeset, consertar a persiana das chalonot...
Depois, o magricela Samy anota o telefone num papel, pede para eu falar com o proprietário do cafofo e depois ligar pra ele, e vai embora. Dou risada quando fecho a porta e percebo que, embora não tenha ainda o vocabulário, só falei com eles em hebraico! Assim, também, se aprende o idioma!
Ah! Tive aula de inglês hoje. É, inglês, "the book is on the table" e aquela coisa toda. Fiz na semana passada uma prova pra descobrir em que sala iam me botar. Tirei 96, fiquei na mais alta. Queria não precisar fazer, pô. Mas para isso, e pro ptor, devia ter conseguido 100...
Glossário
Instalatztor é do que trabalha o Samy, meu visitante do dia. Algo como "reparos domésticos", "faço qualquer serviço na sua casa por um bom precinho", "você precisa trocar a rebimbola da parafuseta do exaustor". Esse mesmo.
Shutafá, meus dois leitores já sabem, é flatmate. As minhas três, a Paula, a Melina (irmãs de Buenos Aires) e a Carolina (que é de Mendoza) estão curtindo férias na Argentina. Ainda bem. Quarenta e cinco dias com a casa só pra mim. A casa e as contas, claro.
Ambatia é dessas palavras engraçadas do hebraico. Significa o banheiro do banho. Sim, porque em geral os banheiros aqui são separados: em um se toma banho, no outro se faz "o resto"... Mas em casa não é assim, é tudo em um só, como provavelmente na sua casa no Brasil!
Mirpeset é sacada, varanda, terraço. Ou, como aqui em casa, o espaço externo, que na verdade são dois, um coberto e outro ao ar livre, que vai abrigar churrascos no verão! Aliás, já está na hora de o verão voltar...
Chalonot é o plural de chalon, janela. Não confundir com chalom, que é sonho (o de sonhar, não o de comer - o de comer é sufganiá, mas não estamos na época. Esse papo me deu uma fome... Pudera, são sete da noite e ainda não almocei hoje).
Ptor é aquilo que se consegue em inglês com nota 100 em uma prova ou em hebraico depois de dois anos de estudo, mais ou menos! Não sei a tradução, ainda não tenho ptor! Vou procurar.
De repente, eu sozinho em casa quebrando a cabeça com um texto, toca a campainha. Não estava esperando ninguém, mas fui ver quem era. O olho mágico revela uma mulher e um cara, totalmente estranhos. Abro a porta, sem o medo que teria se estivesse em São Paulo - talvez seja só ingenuidade...
Ela, a vizinha do 14, diz que conversou com a minha shutafá, que a essas horas deve estar no verão argentino, já. Algo sobre a ambatia, consertos na casa, e que tinha trazido o Samy, o magricela ali ao lado, para dar uma olhada. A Paula, minha shutafá, deve ter esquecido de me dizer - culpa da correria, mal nos encontramos nos últimos dias antes da viagem.
E eles vão entrando, despejando palavras em hebraico. Palavras desconhecidas, porque naturalmente eu ainda não conheço o vocabulário de reparos domésticos: pintar o teto do banheiro, arrumar a infiltração do teto da sala, comprar outro exaustor, trocar o teto da mirpeset, consertar a persiana das chalonot...
Depois, o magricela Samy anota o telefone num papel, pede para eu falar com o proprietário do cafofo e depois ligar pra ele, e vai embora. Dou risada quando fecho a porta e percebo que, embora não tenha ainda o vocabulário, só falei com eles em hebraico! Assim, também, se aprende o idioma!
Ah! Tive aula de inglês hoje. É, inglês, "the book is on the table" e aquela coisa toda. Fiz na semana passada uma prova pra descobrir em que sala iam me botar. Tirei 96, fiquei na mais alta. Queria não precisar fazer, pô. Mas para isso, e pro ptor, devia ter conseguido 100...
Glossário
Instalatztor é do que trabalha o Samy, meu visitante do dia. Algo como "reparos domésticos", "faço qualquer serviço na sua casa por um bom precinho", "você precisa trocar a rebimbola da parafuseta do exaustor". Esse mesmo.
Shutafá, meus dois leitores já sabem, é flatmate. As minhas três, a Paula, a Melina (irmãs de Buenos Aires) e a Carolina (que é de Mendoza) estão curtindo férias na Argentina. Ainda bem. Quarenta e cinco dias com a casa só pra mim. A casa e as contas, claro.
Ambatia é dessas palavras engraçadas do hebraico. Significa o banheiro do banho. Sim, porque em geral os banheiros aqui são separados: em um se toma banho, no outro se faz "o resto"... Mas em casa não é assim, é tudo em um só, como provavelmente na sua casa no Brasil!
Mirpeset é sacada, varanda, terraço. Ou, como aqui em casa, o espaço externo, que na verdade são dois, um coberto e outro ao ar livre, que vai abrigar churrascos no verão! Aliás, já está na hora de o verão voltar...
Chalonot é o plural de chalon, janela. Não confundir com chalom, que é sonho (o de sonhar, não o de comer - o de comer é sufganiá, mas não estamos na época. Esse papo me deu uma fome... Pudera, são sete da noite e ainda não almocei hoje).
Ptor é aquilo que se consegue em inglês com nota 100 em uma prova ou em hebraico depois de dois anos de estudo, mais ou menos! Não sei a tradução, ainda não tenho ptor! Vou procurar.
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