18.4.03

Artificial demais, mas vale a pena assistir
Assisti ontem a Carandiru e a verdade é que não gostei. Achei o filme muito artificial, embora com alguns elementos realmente fantásticos. Já falo deles. Minha crítica vai para o fato de se ter utilizado atores globais. Estragou o filme. Acho que por isso gostei tanto de Cidade de Deus. Outra coisa que acabou artificializando Carandiru é a encenação de pequenos dramas que parecem não ser reais, mas apenas uma solução fraca para atrair a atenção do grande público. Gostem ou não de Rodrigo Santoro (e minha crítica não é a ele -a atuação foi impecável), eu acho que ele ficou ridículo no papel de travesti. Não pelo papel, mas por sua artificialidade.

Do lado bom, muitos elogios. Na verdade, saí do cinema e já anotei no verso do ingresso algumas coisas que me tocaram no filme. Uma delas, que alguém já mencionou aqui, foi a cena dos presos cantando o Hino Nacional. Eu acho que essa cena responde a pergunta-mote do filme ("Aqui dentro ninguém é culpado. Você acredita nisso?"). É quando todos os presos, uns assassinos, outros ladrões ou estupradores, outros traficantes, se transformam de novo em cidadãos, respeitadores de uma coisa central. Confesso que me deu vontade de levantar durante o Hino! E, diga-se de passagem, algumas pessoas ficaram falando bem nessa hora...

Fotografia
Sou um cara muito ligado em fotografia de filmes. Algumas cenas de Carandiru roubaram minha atenção, ainda que singelas. Uma delas foi a de um cachorro e um gato se encarando, logo depois do massacre dos 111. Aliás, acho que o filme não merece nota abaixo da média simplesmente porque serve de documentário do que foi esse massacre injusto e covarde. Eu não li Estação Carandiru, mas devorei Pavilhão 9 - paixão e morte no Carandiru, no qual um preso sobrevivente narra o horror que foi aquele triste dia de 1992. Veja aqui uma série de livros sobre o tema.

Outra cena que me impressionou é a da lavagem da cadeia, com suas escadarias. Pareceu descabida, mas depois do massacre foi justificada com o sangue escorrendo no lugar da água. Genial. Precisa ver pra sentir. Enfim, poderia falar um monte do filme (e já fiz isso, na verdade), mas vou parar com um último comentário: sensacional a sacada da música ao final. Mas eu não vou contar qual para não estragar a surpresa! Tem que assistir, mesmo com atores globais e dramas artificiais.

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