30.3.05

Disengagement e futebol
(Ou: Porque um pouco de política não faz mal a ninguém)
A manchete do Jerusalem Post de hoje, que eu recebi pelo celular logo cedo (bendita tecnologia!), era Knesset OK's budget 58-36. Bom entendedor entendeu que caiu, com isso, a última ameaça política ao plano do Sharon. Explico: se o orçamento não passasse, o Parlamento poderia ser dissolvido e o atual governo, derrubado.

Anteontem outra barreira cedeu: o plebiscito cuja aplicação procuravam fazer aprovar para que o povo votasse a favor ou contra o plano - temia-se que a votação pública acabasse deslegitimizando a idéia, já que Israel é uma democracia... Liberdade de expressão e democracia nem sempre são bons negócios - como por exemplo quando permitem manifestações infelizes, estúpidas e preconceituosas num contexto de jogos de futebol.

Não foi só de um lado. Antes da partida de hoje entre França e Israel, que elevou a seleção asiática nas eliminatórias para a Copa, o goleiro francês soltou a pérola de que o time dele não deveria visitar Israel por conta da situação política. Preconceito. Ele não disse que tinha medo. Foi diferente. Do outro lado, no jogo anterior, contra a Irlanda, o autor do gol do empate, um árabe-israelense, teve que ouvir da própria torcida gritos de "morte aos árabes"...

Quem diria que eu falaria um dia sobre esporte aqui no blog...! Enfim, uma vez não mata...! Afinal, já dizia um chefe meu, "contextualize"! Lá vai: por questão de segurança, Israel disputa as eliminatórias com os times europeus, apesar de estar em outro continente. Curiosamente, nos jogos contra as duas seleções mais fortes do grupo (Irlanda e França), dois árabes fizeram os gols dos empates isralenses por 1 a 1.

Por causa dos dois resultados, a seleção de Israel ocupa a liderança do grupo, ao lado da França, e tem grandes chances de ir para a Copa do Mundo, o que só ocorreu uma vez na história, em 1970 - quando, brasileiros que somos, sabemos que quem levou a taça não foi Israel! E tem outra: as duas partidas foram as primeiras que Israel sediou desde o início da intifada, em 2000.
Chega de falar... Se quiser ler mais a respeito de toda essa história, espia os links: o Ha'aretz conta o episódio da coletiva em que jornalistas israelenses foram tirar satisfação do goleiro francês, aqui. O mesmo jornal conta do jogo de hoje, aqui. O Jerusalem Post, aqui. Também o Jpost faz uma análise do "herói" (árabe-)israelense na disputa contra a Irlanda, aqui. O IsraelInsider fala da invasão da torcida verde irlandesa para o primeiro jogo, aqui.

Glossário
Disengagement é o nome que se deu em inglês para o plano de retirada de assentamentos, colonos e tropas israelenses da Faixa de Gaza e de uns quantos lugares da Cisjordânia, que deve ser colocado em prática a partir de julho.

Knesset OK's budget 58-36, Parlamento aprova orçamento por 58 (votos) a 36.
Intifada, palavra árabe, quer dizer "levante". É esse negócio que destruiu o turismo israelense, prejudicou a economia daqui, matou um monte de gente dos dois lados e, no final das contas, não levou ninguém a lugar nenhum. Quem sabe o disengagement leve...

Já ia me esquecendo... O glossário, "um glossário", agora está compilado!

Nenhum comentário: